O ar da sala de estar era morno e tenso. Era preciso um pouco de esforço para compreender o que os personagens diziam no filme, e a ansiedade me deixava inquieto demais para conseguir relaxar, nem que por um segundo. Eu estava na casa da Sam, sentado em seu sofá, assistindo um filme, com ela ao meu lado, mas minha mente vagava longe dali. Não conseguia parar de pensar na Isa, em onde ela teria ido, e o que estava fazendo. Me pergunto se essa é a sensação de um pai quando a filha arranja um namorado e sai em um encontro. Uma sensação crescente ardendo dentro de você. Uma sensação ruim.
-Ei, Jin...
-Ah, oi!- me virei para a Sam, talvez um pouco abruptamente. Sua voz me tirou do meu estado de transe, e só então percebi que ela me olhava com uma expressão preocupada no rosto.
-Faz cinco minutos que eu pausei o filme, e você continuou encarando a tela... acho que com isso posso confirmar que definitivamente tem algo de errado com você- disse ela, balançando o controle da televisão em uma das mãos.
-N-nossa. Me desculpa, eu estava totalmente aéreo...
-Sem problemas. Mas se tem algo te preocupando, você pode me contar, se quiser.
-Não é nada.
-É a Isa? É ela, não é? Pela sua cara, eu acertei em cheio mesmo.
Tentei pensar em algo que justificasse a situação, mas nada me veio à mente, fora a vergonha que estava sentindo de mim mesmo.
-Você parece sempre mais animado com ela por perto. Comigo é sempre como... se você estivesse meio tenso, pisando em ovos, ou algo do tipo. Se bem que ultimamente você está mais normal, acho.
-...é mesmo? Me desculpe por isso. Não foi minha intenção...
-Hmm. Sabe, desde que éramos pequenos, ela sempre ficou incomodada em ver a gente se dando bem e deixando ela de lado. Sempre ficava mais animada pra brincar quando você estava junto. Acho que ela sempre te admirou. Isso me deixa com ciúmes, sabe?
-C-ciúmes??? O que...?
-É, você começou a trabalhar lá na escola e instantaneamente ela pediu sua ajuda em química, algo que ela nunca tinha feito antes com nenhum professor. E eu sou a irmã mais velha dela, mas ela nunca me pediu ajuda em nada desse tipo, e ela vive falando sobre você. É como se ela gostasse mais de você do que de mim!
Sam parecia realmente magoada ao falar aquilo. Tive que me segurar para não rir da situação, o que provavelmente a deixaria irritada. Mas era hilário. Samantha estava sentindo ciúmes da irmã, e não de mim.
-Bom, mesmo que ela não demonstre, acho que ela te adora. Ela também fala bastante de você quando está comigo, sério- e era verdade. Se tem algo sobre o que Isa sempre fala quando está comigo, esse algo é a Sam.
-Ah... Espero que esteja falando sério, e não só pra me confortar. É frustrante ver como minha irmã presta tanta atenção em você e na maioria do tempo não está nem aí pra mim.
-Ela não presta atenção em mim, ela só está passando um pouco mais de tempo comigo por que precisa de nota em química, e aproveitou a oportunidade pra estudar comigo, já que ela já me conhecia desde antes e provavelmente se sente mais à vontade pra pedir isso a mim. Não é nada tão especial.
De repente, foi como se tudo que eu acabara de falar me atingisse, e então toda a sensação que antes me queimava, se transformou em algo mais denso e solitário. Eu tinha que admitir, nos últimos dias, o pensamento de ver a Isa me deixava alegre, e estar com ela era diferente. Eu realmente me importo com ela, mas talvez ela não se sinta da mesma forma.
-Uau, você tá com uma cara péssima. Que foi, está triste que ela preferiu encontrar o namorado a ficar aqui com a gente?
-Não... Talvez.
-Calma, eu entendo. É triste ver eles crescendo rápido assim, né? Num piscar de olhos ela já vai estar se formando, casando... Ai, me emociono só de pensar.
O pensamento de ver Isa casando quase me ofendia. Imaginar estar na plateia vendo-a ir de encontro ao altar de uma igreja era doloroso: quase como se estivesse vendo-a partir para sempre, fora do meu alcance. Não conseguia entender o que estava acontecendo comigo. Qual o sentido de tudo isso? Por que tudo isso me faz sentir tão... impotente?
-Eu acabei de lembrar, eu... preciso encontrar um amigo meu agora, acertar umas coisas... Foi mal, eu já tinha marcado isso com ele há um tempo, preciso ir.
-Hã? Okay, sem problemas! Vejo você amanhã, então?
-Certo. Obrigado pelo... quase filme.
Sam sorriu gentilmente. Me senti mal por inventar uma desculpa sem motivo e deixá-la sozinha, mas a urgência de sair dali era grande demais. Dentro de mim, as emoções estavam uma bagunça.
***
Assim que o sinal do último período soou, dispensei os alunos do segundo ano B e fui em direção à diretoria. Estive esperando durante toda a manhã por alguma manifestação da Isa, mas nada aconteceu. Normalmente, ela viria até mim no horário do intervalo, ou entre as aulas, e caso estivesse ocupada com alguma coisa, pelo menos me cumprimentaria no corredor. Hoje não tive nenhum horário na turma dela, então apenas esperei que ela aparecesse em algum momento, o que foi uma tarefa inquietante, de certo modo. A esse ponto, já estava me corroendo por dentro toda aquela sensação anterior, junto com a curiosidade enorme e uma certa urgência em vê-la. Será que é realmente possível sentir falta de alguém após um período tão curto de tempo? Parece idiotice. Mas essa é a única conclusão a qual pude chegar mesmo depois de pensar tanto tentando entender o que está acontecendo comigo- eu sou idiota, nada mais que isso.
-Vai usar a sala por muito tempo ainda? Posso deixar a chave contigo- disse Sam, e pude perceber que ela já estava indo embora. De fato, a escola já estava praticamente vazia, o que me deixava ainda mais ansioso.
-Não, eu estava só esperando a...
-A Isa? Ah, ela já foi pra casa, eu acho. Eu vi ela agorinha em um dos corredores junto com alguns colegas, parece que já estava indo embora, provavelmente foi almoçar com eles.
-Ah... okay, então eu já vou indo.
Me levantei, mantendo a compostura, despedi-me da Sam e deixei a sala. Andando até a saída da escola, ao passar pela sala do terceiro ano A, vi uma silhueta familiar pela pequena janela de vidro. Me aproximei, abrindo a porta e assustando Isa com o barulho da mesma.
-Pensei que você já tivesse ido embora.
-Eu esqueci meu celular e vim buscar...- ela sorriu, acenando com a cabeça e indo em direção a porta, com pressa. Instintivamente bloqueei a saída.
-Como foi ontem?
-Com o Adam? Tudo bem... eu acho.
Ela fez uma pausa, como se ponderasse sobre o que dizer em seguida.
-Nós terminamos.
-Hã?
-Não é nada demais. Já ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Enfim...- Isa tentava manter uma expressão serena no rosto, mas estava claro que tal tentativa era apenas uma forma de mascarar o que ela sentia de verdade, e não me preocupar. E de repente, aquela bolha de sentimentos dentro de mim apenas explodiu, e por impulso me vi segurando a garota fortemente em meus braços. Aquilo foi algo que fiz por impulso, mas a sensação proveniente do ato compensou todo o sofrimento pelo qual estive passando desde o dia anterior- e só agora me dera conta do quão doloroso tinha realmente sido. O que fluía pelo meu corpo agora era uma mistura confusa de sentimentos bons, algo confortável e suave, mas que também me dava medo. Talvez o meu pulso acelerado também estivesse me impedindo de pensar direito, pois o abraço agora já durava alguns minutos.
Isa se desprendeu cuidadosamente de mim, sem me encarar nos olhos.-Eu estou bem. Você não precisa tentar me confortar. Guarde suas carícias pra alguém que você ame, Jin.- ela me olhou brevemente, e com um sorriso forçado, deixou a sala. Pensei em segurá-la e dizer para ela que eu realmente a amava, mas minha própria mente se viu encurralada na cena que acabara de projetar. E então eu percebi. O motivo de tudo isso, e o sentido de tudo isso. Eu a amo. E agora já é tarde demais.
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Please, Teach Me?
FanfictionO complexo e instável mundo dos relacionamentos sempre confundiu a cabeça de Jin, um jovem de vinte e três anos muito satisfeito em sua vida perfeitamente orquestrada. Mesmo contente com sua independência ao finalmente tornar-se professor de química...