-Por que a porta tá escancarada desse jeito? Ué, o Jin tá fazendo o que aqui, a gente não ia se encontrar depois lá no restaurante?- Samantha fechou a porta cautelosamente atrás de si. É nesses momentos que eu dou graças a Deus pela personalidade densa dela, que não percebeu o mínimo traço de tensão no ar. Meu coração batia mais forte que nunca, e ao meu lado, Isa parecia tão assustada quanto eu.
-Ah, eu passei aqui para... ajudar ela com uma questão que ela não entendeu bem... ela me chamou então...- o olhar desaprovador de Isa dizia claramente que essa foi a pior desculpa que eu poderia arranjar.
-Mas não era mais fácil procurar na internet? Não precisava vir aqui pra isso, você se rende fácil demais aos caprichos dessa menina.
-D-de fato, acho que sim...
Sam sorriu, acariciando a cabeça de Isa, que tentava disfarçar o mal-humor.
-Bom, já que os dois estão aqui, falta só a Samantha trocar de roupa e vocês já podem sair, certo?
-Hã...?
-Sim, pode ser, sair mais cedo fica até melhor pra a gente, né- ia abrir minha boca para contestar, mas Sam virou-se para mim esperando uma resposta positiva, e não consigo simplesmente dizer não. Além de que Isa provavelmente estava querendo ficar sozinha no momento.
-Certo, então. Eu espero você terminar de se arrumar.
Ela sorriu gentilmente e eu sorri de volta, me dando conta de que Isa já havia deixado o cômodo.
***
O terceiro período de aula terminou, e era e era finalmente meu horário na turma dela iria começar. Estive esperando por esse momento durante todo o dia. Entretanto, enquanto o tempo passava vagarosamente, tudo que percebi por parte dela foi ignorância, como se eu nem mesmo estivesse na sala. Ela não chegou a me olhar nos olhos uma vez sequer, apenas copiara os exemplos, sempre com a cabeça baixa. No final da aula, entreguei a provas, e em geral a reação da turma foi boa. Os resultados também não haviam sido ruins, então assumi que todos estavam contentes com a situação. Quando entreguei a prova de Isa, ela não pareceu abalada em sentido algum, apenas a guardou e voltou a sentar. Perceber sua indiferença mesmo após eu ter derramado todo o meu coração na frente dela foi extremamente doloroso. Já fui rejeitado antes, mas por algum motivo, essa foi a pior de todas, não tinha nem comparação.
Os alunos começaram a se preparar para sair, animados ao som do sinal batendo. Nesse momento, Isa olhou nos meus olhos por um mero segundo, e tive a impressão de que ela murmurou um "tchau", antes de se virar e ir com o fluxo. Não me movi um centímetro, e esperei até que todos tivessem ido. Finalmente entendia o sentimento agonizante de um coração partido, do qual sempre ouvi falar. E o mais surpreendente era perceber que nunca estive realmente apaixonado por Sam. Quem diria que meu primeiro amor seria uma aluna, uma vizinha com quem cresci, alguém que julgava ser apenas parte da "família"? E quem diria que ele seria frustrado tão rápido?***
O relógio marcava duas horas, e me dei conta de que tinha atrasado muito, apenas para procrastinar minhas obrigações. É... vinte e três anos e continuo tão imaturo quanto era há oito anos atrás. Todos haviam deixado a escola- até mesmo a Sam, sempre uma das últimas-, e precisei fazer o mesmo. Terminei o que seria meu quinto ou sexto copo de café sem açúcar ou leite, uma tortura para mim, já que odiava café puro, e fui em direção à sala de aula de antes. Ao entrar lá, passei direto pelas carteiras, os olhos colados no chão, recitando mentalmente os metais alcalinos (algo patético porém útil quando quero evitar a realidade), e ao colocar as mãos sobre meu material, ouvi a voz dela me chamar. Estava prestes a constatar que estava ficando louco, até que a imagem dela, a garota mais nova e incrível por quem tinha me apaixonado, agora em prantos, me confirmou que eu ainda estava são da cabeça. Talvez não tanto, por que minha reação foi a mesma de antes, abraçá-la. Ela me abraçou de volta, e meu coração pulou ainda mais do que nas outras vezes, algo que eu julgava ser impossível.
-Jin, você não pode fazer isso.
Sua voz de choro era abafada.
-Eu sei. Mas eu não tenho escolha. Tem uma coisa dentro de mim que está me deixando louco.
-Hormônios?
-Você pode me deixar terminar de falar? Eu estou tentando ser romântico aqui!
Isa riu, me abraçando mais forte. Me pergunto se estou viciado nela, e tenho quase certeza. O que ocorreu a seguir se deu de forma bem confusa, uma vez que perdi a noção do tempo. As horas e os minutos se confundiam conforme eu passava os dedos entre os cabelos dela. Não entendi exatamente como ela conseguiu ficar mais alta de repente, ou talvez eu apenas tivesse me curvado demais. Beijá-la era como assistir ao por do sol infinitas vezes, com uma certa sensação de aurora boreal dentro de si. Sempre achei que esses fossem os fenômenos mais bonitos da natureza, mas agora tinha certeza de que Isa era o mais lindo de todos. Ainda sem saber quanto tempo se passara, continuamos nos beijando, e eventualmente a coloquei sentada na mesa, para que não precisasse me curvar tanto. Eu poderia passar a eternidade ali, mas um toque no telefone fez todo o momento se dissipar.
Nos afastamos com pressa, como se a preciosa atmosfera de vidro acabasse de ser quebrada, nos lembrando dos compromissos e obrigações que não podemos ignorar. Juntei meu material enquanto Isa saía da sala, tropeçando e nervosa. Ela me olhou uma última vez antes de sair em disparada, e eu soube que a partir de hoje, nada seria como antes.
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Please, Teach Me?
FanfictionO complexo e instável mundo dos relacionamentos sempre confundiu a cabeça de Jin, um jovem de vinte e três anos muito satisfeito em sua vida perfeitamente orquestrada. Mesmo contente com sua independência ao finalmente tornar-se professor de química...