A Janela

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   Acordei tarde, como de costume. Aquela fora mais uma noite que eu desperdicei jogando qualquer coisa. Por algum motivo eu decidi olhar para a janela através daquela cortina sem graça. Algo estava errado. Os vizinhos da frente da minha casa haviam se mudado a quase um ano, e dês de então a casa permaneceu vazia. Então, saiu de um carro preto estacionado em frente a antiga casa dos Johnson's aquela que iria atormentar minha vida dali pra frente. Ela até que era bonitinha, eu admito, mal sabia eu que aquela era a reencarnação de Lúcifer. Aquele cabelos ruivos como fogo e aqueles olhos azuis como o mar passariam a me atormentar todos os dias. Depois de alguns minutos olhando os novos vizinhos, percebi que era idiotice e simplesmente ignorei tudo aquilo, como fazia com a maioria das coisas. Deitei um pouco até ouvir aquele grito matinal me chamando.

-Charlie, está acordado? O café está pronto, desça aqui.

   Eu ainda estava com sono por causa da noite anterior que passei acordado, mas mesmo assim desci. Eu moro sozinho com a minha mãe, meu pai morreu quando eu tinha 3 anos. Pra ser sincero eu não lembro como ele era. Minha mãe dizia que ele era um homem alto e bonito, além de muito determinado e confiante. Totalmente diferente de mim.

-Charlie você viu os novos vizinhos? Finalmente alguém se mudou para a casa dos Johnson's.

-Sim mãe, eu vi.

-Eles tem uma filha da sua idade. Ela é linda não acha?

-Não acho.

-Aah Charlie você está mentindo?

-CLARO QUE NÃO MÃE.

-Charlie você está vermelho kkk

-Claro que não sua boba.

-Kkk ora Charlie não minta para sua mãe.

-Francamente mãe...

-Você deveria dar um "oi" para os novos vizinhos.

-Mãe, você sabe que eu nunca faria isso não é?

-Aah Charlie, você devia socializar, sorrir mais, ver o mundo lá fora.

-O mundo é chato e monótono. Obrigado, mas estou bem assim.

   Terminei o meu café e voltei para o meu quarto. Agora é verão, a estação do ano que eu mais detesto, mas pelo menos não estou naquele inferno disfarçado de escola. Jogos eletrônicos é uma das poucas coisas que não me deixam entediado. Quando eu estava prestes a iniciar uma partida, olhei rapidamente pela janela e ví, aquele olhos azuis me encarando profundamente, chegava a assustar. Ela estava lá, com uma xícara de café em sua mão. Fixei meu olhar naquela garota,eu definitivamente não sabia o que estava acontecendo alí. Depois de algum tempo decidi ignorar aquilo. Tentei me concentrar no meu vídeo-game, mas senti a forte sensação de estar sendo observado, e por algum motivo estranho, aquilo me incomodava. Levantei, fui até a janela, dei uma última olhada naquela garota e fechei a cortina. Quem era aquela garota? Por que diabos ela estava me olhando? Continuei jogando por algumas horas, até ouvir aquele grito, às 15:00, como de costume.

-Charlie, está na hora!

-Já vou mãe. -suspirei entediado.

   Minha mãe me obriga a dar um passeio diário de bicicleta. Ela diz que se eu ficar aqui o dia todo eu irei apodrecer. Essa é a pior hora do dia pra mim, quando eu saio, só o que vejo são pessoas chatas e as mesmas ruas de sempre. Tudo a mesma coisa, dia após dia. Mas o que eu posso fazer? Fui até a garagem e peguei a velha bicicleta azul que era do meu pai. Segui pelo mesmo caminho de sempre. Todos os dias, dou uma volta no quarteirão e logo depois vou para o parque. Chegando lá, parei a bicicleta próximo a um banco e fiquei sentado. Só posso voltar para casa uma hora depois que saio (sim, minha mãe é insuportável). De repente, uma bola de basquete vem girando em minha direção, ela parecia ter vida própria. Então eu ouvi aquela voz, tão meiga e doce, jamais imaginaria que seria a mudança da minha vida, e não era pra melhor.

-Ei, garoto!

   Tentei ignorar, mas ela insistiu.

-Ei, Limãozinho!

   Fala sério, "Limãozinho"? De onde essa garota tirou isso? Foi o apelido mais idiota que já me chamaram por causa dos meus olhos. Não tinha jeito, tive que respondê-la.

-Tá falando comigo?

-Não idiota, com a bola. Tá vendo mais algum Limãozinho aqui?

   Que garota grossa, tinha rosto de princesa, mas por dentro era uma fera terrível.

-Toma sua bola idiota.

   Ela olhou para mim e sorriu. O que essa garota tem na cabeça? Definitivamente ela não é normal.

-Obrigada, Charlie.

   Charlie?! Como aquela garota sabia meu nome? Fiquei sem reação enquanto aquele monstro corria com sua bola em direção a quadra de basquete. Voltei para casa e tentei ignorar. Entrei no meu quarto escuro e fiquei lá sozinho por horas. Tentei não pensar naquela garota ruiva, mas era inevitável. Ela era muito estranha, não conseguia compreende-la.

-Por estou pensando nessa garota? Ela não tem nada de especial. -falei comigo mesmo.

   Naquela noite, não deixei de dormir para jogar. Tentei relaxar e esquecer o que estava acontecendo, mas aquele "sorriso diabólico" ficava passando e repassando em minha mente. Afinal, quem era ela? E como aquele  monstrinho sabia que eu  me chamo Charlie?Eu nem sabia seu nome e mesmo assim não conseguia deixar de pensar nela, acho que isso se chama ódio.


A Garota Da Janela Da FrenteOnde histórias criam vida. Descubra agora