A Garota Da Janela Da Frente

A Última Borboleta (Final)

   Em um instante, minha vida mudou. Eu precisava abandonar tudo, sonhos, ambições, pessoas, tudo por causa de um passo errado, um momento mal jogado. De alguma forma, eu já imaginava que poderia acabar assim. O destino que eu tracei levava diretamente ao abismo. Mas eu já estava aqui, não adiantava mais chorar ou se lamentar, eu precisava agir.

   Sai pela janela do fundo. Não pude me despedir da minha mãe ou do Teddy. Minha vida estava em jogo. Me certifiquei de não ter sido visto por ninguém. Pouco tempo depois, a polícia bateu em minha porta. Teddy latia e minha mãe não entendia o que estava acontecendo. Não era um engano, a polícia estava atrás de seu filho, seu pequeno Charlie. Eles entraram, procuraram, mas eu já estava longe. Me encontrei com a Jullie e fugimos. Infelizmente ela também estava nisso. Nós dois nos envolvemos em algo sem volta.

-Me perdoe por te fazer passar por isso Jullie...

-Cale a boca e vamos fugir Charlie! Eu estou nessa com você até o fim!

   Nós fomos até a escola, e nos escondemos lá. Não havia ninguém. Por sorte, conseguimos invadi-la e nos escondemos. Passamos o dia todo lá, juntos. Naquela noite, eu chorei e me lamentei.

-Charlie... Não adianta. Já estamos nisso, nem um rio de lágrimas mudará nossa situação, pare!

-JULLIE VOCÊ NÃO VÊ O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! ELES VIRÃO ATRÁS DE MIM E DE VOCÊ TAMBÉM! VOCÊ NÃO FEZ NADA E MESMO ASSIM VAI SOFRER COMIGO! POR QUE JULLIE?!

-Por que você é tudo que tenho... -eu parei de chorar. Meus olhos se arregalaram e meu coração acelerou. -Charlie você é um único que me conhece, sabe quem eu sou, sabe o monstro que mora dentro de mim. Você sabe que eu... Matei um homem, e mesmo assim você não se assusta e também continua comigo. Não quero viver em um mundo sem você Charlie!

   O destino realmente é muito engraçado. Minha vida era chata, monótona e entediante. Então, um dia apareceu ela, a garota mais linda que eu já conheci. Seus cabelos ruivos até o ombro, seus lindos olhos azuis, seu óculos redondo... Eu achava que a odiava, mas... Pouco a pouco Jullie se tornou maior do que eu imaginava. Em tão pouco tempo ela tomou um espaço tão grande em meu peito que eu já não poderia viver sem ela. Que sentimento era aquele? Eu nunca havia sentido nada assim por nenhuma garota. Será que isso é o que eles chama de... Amor? Pode ser apenas meu nível de sanidade se perdendo, mas eu já não odiava ela. Toda aquela raiva idiota se tornou um sentimento muito grande de estar com ela... Protegê-la. O que é isso? Por que isso está acontecendo? Não pode ser real. Essa garota realmente existe?

   Mesmo com a pressão imensa, naquele momento eu estava... Feliz? Minha vida enfim teve um sentido. Um garota veio do nada e bagunçou completamente o rumo dela. Será que seria diferente sem ela? Provavelmente minha vida ainda seria a mesma de sempre... A chata e sem graça vida de um Hikikomori. Nosso tempo se esgotou, testemunhas denunciaram que nós estávamos alí. Não demoraria muito para a polícia chegar. Segurei na mão da Jullie e fomos até o terrasso. Tranquei a porta de baixo com um armário, obviamente aquilo não seria o suficiente, mas ao menos me daria mais tempo pra ficar ao seu lado.

   Nós sentamos na beira do prédio. Naquele momento, por algum motivo eu me lembrei de quando eu era novo. Os sonhos dos Heróis.

-Líder, qual o seu sonho? -Hannah perguntou.

-Meu sonho... É--

-CASAR COM A HANNAH! -a Liz adorava nos atormentar.

-NADA DISSO SUA IDIOTA!

-Meu sonho é virar um astronauta e me tornar o maior hacker que esse mundo já viu! -Caio sempre teve ideias fantásticas, foi ele quem deu a ideia de criar o nosso clube.

-Eu vou ser a Rainha do Rock! -Liz sempre gostou de música, a garota asiática que adorava me chatear.

-Bom... Eu quero que nós nos reencontramos quando formos mais velhos. -A Hannah sempre falava com uma voz tímida e fofa.

-Eu quero ser muito feliz, nem que seja por pouco tempo. -ser feliz realmente era o meu maior sonho, e graças a Jullie eu pude realizá-lo. Já poderia morrer em paz. Depois daquele momento, minha vida atingiu seu propósito, morrer ou viver não faria mais diferença.

   Os policiais chegaram, entraram no prédio e estavam tentando ultrapassar a barreira que eu havia improvisado.

-Jullie, eu trouxe uma borboleta. Bom... Eu cometi muitos erros mas essa será pra um específico.

-Eu também trouxe Charlie! Vamos solta-las juntos! -contamos até três e abrimos os potes, e novamente, elas voaram pelo imenso céu azul. -Pra que erro específico é essa borboleta Charlie?

   Eu a puxei para perto de mim e então falei o sentimento mais profundo e secreto que habitava o meu coração.

-Por ter escondido que gostava de você por tanto tempo. -Naquele momento, nós nos beijamos.

   Mãe, me desculpe por não chegar em casa antes do jantar. Teddy, me desculpe por não te levar pra passear e nem dar a sua comida hoje. Caio, Liz, me desculpem por não podermos nos ver de novo. Os policiais conseguiram quebrar a barreira e subiram as escadas do terrasso. Assim que eles arrombaram a porta final, nós contamos até três, nos abraçamos... E pulamos.

   A notícia se espalhou rapidamente. O policial que liderou a investigação do Caso Butterfly e o "resolveu" foi promovido e se tornou muito famoso, mas ele não estava feliz. Ele se nomeou um monstro, pois havia fechado os olhos do amor e viu apenas a justiça. Durante sua promoção, seu superior o parabenizou.

-Bom trabalho, policial Zack Near!

-Obrigado senhor Thomas...

   Naquela noite, minha mãe chorou como jamais havia chorado antes. Teddy ficou lá, no quintal, em frente ao portão, na esperança de que a qualquer momento seu dono irresponsável pararia sua bicicleta na garagem e entraria, assim ele poderia finalmente correr, derruba-lo no chão e o lamber, como sempre fazia. Mas infelizmente, eu não pude retornar pra você, Teddy.