Zack Near

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"Jullie, um lindo nome, não se encaixa nem um pouco com aquela garota". Não consegui mais dormir e o meu jogo estava em manutenção. Decidi fazer a última coisa que não me deixava entediado: fui brincar com o Teddy. Pode parecer algo infantil, mas sinto como se ele fosse meu único amigo. Enquanto brincava com ele, lembrei de quando eu era pequeno. Meus amigos, minha velha casa, minha antiga vida...

-Por que estou lembrando dessas coisas de criança?

Em um instante, lembro de algo e me assusto. Teddy percebeu que eu estava estranhando.

-Relaxa garoto, estou bem, foi apenas um flashback qualquer.

Até hoje não sei por que eu insistia em falar com o Teddy, ela jamais responderia e mesmo assim sentia como se ele me entendesse mais do que as outras pessoas.
De repente, um carro estaciona em frente a minha casa. Teddy começa a latir e a minha mãe acorda.

-Quem é esse Charlie?

-Não sei mãe.

Um homem sai do carro e a minha mãe abre um sorriso instantaneamente. Logo ela corre pra abraça-lo. Quem é aquele homem? Zack Near, também conhecido como meu irmão mais velho.

-Charlie, quanto tempo maninho.

-Zack! Estava com saudades!

-Filho, você está um homenzinho!

-Kkk ora mãe não vem com essa.

Zack é totalmente diferente de mim. Ele tem 25 anos e trabalha como policial. É bonito e alegre, igual o meu pai, além de ter os mesmos cabelos loiros. Talvez ele seja o tipo de garoto que eu gostaria de me tornar, mas não foi isso que o destino quis.

-Quem é esse garotão aqui? Haha acho que ele gostou de mim -ele virou amigo do Teddy fácil fácil. Eles pareciam velhos amigos, brincando um com o outro.

-Oh Zack, por que não me avisou que estava vindo? Não tive tempo de preparar nada filho.

-Não queria que a senhora se preocupa-se mãe.

-Esperem aqui, vou no mercado, vai ser rapidinho.

Minha mãe foi ao mercado e eu fiquei com meu irmão. Ele me contou sobre suas conquistas, suas viagens, coisas incríveis que eu jamais pensei em fazer.

-Finalmente alguém se mudou aqui pra frente não é? Quem são eles?

-Aah o Sr e Sra Harris. Eles são legais...

-Eles tem uma filha?

-Como você sabe disso?!

-Kkk foi só uma dedução. Sou um policial, lembra? ...Você gosta dela Charlie?

-N... NÃO!

-KKK vc gaguejou Charlie, acho que você gosta dela eim?

-Ela me odeia. E eu também não gosto dela.

-Devia chamar ela pra sair.

-Sem chances...

-Ora por que não? Não vai te custar nada.

-Ela provavelmente vai rir de mim e me zuar pro resto da vida... É o tipo de coisa que aquele monstrinho faria.

-Monstrinho? Que forma estranha de chamar a garota que você gosta.

-EU NÃO GOSTO DELA ZACK!

-KKK Tudo bem maninho, vou parar de tirar conclusões precipitadas.

Ficamos em silêncio por um tempo...

-Charlie, você mudou... Dês do que aconteceu a oito anos atrás você tem se isolado...

-Ainda lembra dessa história boba Zack? Esquece ela.

-Foi a Hanna que te deixou assim não foi Charlie?

-Esquece isso Zack... -meu coração gelou. -Eu fui um idiota. Se eu não existisse isso não teria acontecido...

Meus olhos se encheram de lágrimas. Zack percebeu que eu não estava bem e me abraçou.

-Não se culpe Charlie...

Quando eu tinha oito anos eu era um garoto normal como qualquer outro. Brincava com outros garotos e sorria. Eu era determinado, corajoso e me arriscava para ajudar meus amigos. Foram incontáveis aventuras que vivemos juntos. Tinhamos um grupo formado por quatro crianças: Eu, o Caio, a Liz e a Hanna. Eu era o líder do nosso grupo. Nós pretendíamos viajar pelo mundo e quem sabe domina-lo, como qualquer criança. Nossa mente era incrível. Brincávamos com coisas simples, mas imaginávamos tudo: os monstros, os castelos, as fadas, tudo. Aquele era só mais um dia normal, até a Liz começar a me atormentar.

-Charlie gosta da Hanna.

-Para com isso sua boba, eu não gosto dela!

-Todo mundo sabe Charlie, não precisa esconder.

A Liz e o Caio ficaram repetindo sem parar que nós éramos um casal. Na verdade, no fundo no fundo eu gostava dela, mas nós éramos apenas crianças. Por algum motivo eu fiquei muito aborrecido com aquilo.

-Ei, pessoal, parem com isso por favor, o Charlie não gost--

-EU NÃO GOSTO DELA E NUNCA VOU GOSTAR SEUS IDIOTAS! -eu não sabia o que estava dizendo. Deixei me levar pela raiva e esqueci que Hanna era apenas uma criança chorona.

Na hora percebi os olhinhos dela se encherem de lágrimas e ela tentou segurar o choro o máximo que conseguiu. Até que ela não aguentou, e saiu correndo e chorando. Só então percebi o monstro que eu tinha me tornado, mesmo que por alguns instantes. Hanna sempre se magoava e fazia isso, mas dessa vez foi diferente. Ela correu justamente para uma pista movimentada. Aquela foi a última vez que vi aquela menina meiga de cabelos loiros. Ela foi a pessoa mais doce e gentil que eu conheci. Uma vez arriscou sua vida para salvar um gatinho indefeso. Ela era... Como parte de mim. Perdê-la foi sem dúvidas a coisa que mais me abalou em toda minha vida.

Dês de então eu nunca mais fui o mesmo. Não vi mais o Caio nem a Liz. Pouco a pouco todos se distanciaram, é o "Grupo dos Incríveis Heróis" deixou de existir. Nós nos mudamos para esta casa. Eu me isolei do mundo e todos a minha volta sentiram isso, inclusive o Zack.

Minha mãe chegou em casa e foi fazer o almoço. Zack insistiu em ajudá-la. Além de inteligente e bonito ele também sabia cozinhar, o tipo de filho que toda mãe deseja. Que inveja.
Subi para o quarto por que não estava muito bem. Parece que o céu acompanhou o meu humor e começou a chover. Eu amava a chuva, mas algo ainda era estranho. Estava deitado na minha cama e percebi que meu dia estava mais chato e entediante que o normal, parecia que faltava algo. Olhei para janela e por algum motivo estranho, desejei vê-la. Sim, a garota que me atormentava estava me fazendo falta. O que diabos é isso? Provavelmente algum tipo de sentimento ligado a raiva e ódio, não sou bom com essas coisas. Soube seu nome e nunca mais a ví. Ela mesmo, a reencarnação de Lúcifer, o monstrinho da mente perturbada que me odeia, também conhecida como... Jullie.

A Garota Da Janela Da FrenteOnde histórias criam vida. Descubra agora