Green Hero

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   Naquela manhã eu acordei mais cedo do que de costume. Sentei em minha cama por um tempo e finalmente levantei. Fui até a janela abrir a cortina e chegando lá, dei um grito e pulei para trás.

-QUE PORRA É AQUELA?!

   Havia o rosto de um demônio na janela da garota ruiva. Levei um tremendo susto, mas ao olhar de novo, percebi que era apenas uma máscara, colocada ali por um monstro de verdade para me assustar. Aquela peste abriu um pouco a cortina e eu pude ver sua mão removendo a máscara presa na janela. Ví novamente aquele "sorrisinho diabólico", só pela metade, pois a outra parte de seu rosto adorável estava coberto pela cortina.

-O que ela pensa que está fazendo?!

   Não sei por que logo comigo, mas o destino decidiu dificultar a minha vida, colocando aquela garota nela.
   Desci antes da minha mãe me chamar. Ela já estava na cozinha e se impressionou por eu ter levantado tão cedo.

-Charlie?! O que faz em pé uma hora dessas? Você está bem filho?

-Sim mãe, eu estou.

-Não ficou jogando como sempre?

-Não, ontem eu estava cansado.

-Tem alguma coisa haver com os novos vizinhos?

-N... NÃO!

-Vamos Charlie, se tem algo contra eles me avise.

-Não mãe, eu nem cheguei a falar com eles.

-Bom, já que não tem nada contra eles, não vai se importar de eu ter chamado o Sr e Sra Harris para jantar conosco hoje a noite não é?

-VOCÊ FEZ O QUE?! POR QUE NÃO PEDIU MINHA OPINIÃO MÃE?!

-Mas você disse que não tem nada contra eles Charlie. Eles são legais e possuem uma filha linda, você vai gostar deles.

   Ótimo, agora terei que dividir minha mesa com o Lúcifer, e a minha mãe nem sabe a mente perversa daquela garota. Mas, ela tinha conversado com os Harris, parecia uma excelente oportunidade de descobrir o nome do meu inimigo.

-A senhora sabe o nome da filha deles?

-Hmm tem interesse nela não é? Eu sabia, ela é linda e--

-NÃO, EU NÃO TENHO.
Só queria saber o nome dela, nada mais.

-Desculpe Charlie, mas eles não me apresentaram a filha, ela não estava quando eu os chamei pro jantar.

   Missão Fracassada. Ainda não sei nem o nome do perigo que estou lidando, mesmo ele já sabendo quem sou. Provavelmente minha mãe me apresentou para os Harris e aquele monstrinho ficou sabendo.
   Depois do café estava jogando em meu quarto até que, ouvir a campainha tocar. Achei estranho por que normalmente não recebemos visitas. Pausei o jogo e tentei ouvir quem era. Encostei meu ouvido na parede e não acreditei no que ouvi. Meus olhos se arregalaram e eu comecei a suar frio.

-Olá Senhora Near, sou a filha do Sr Harris. Minha mãe me pediu para te trazer isso. Ela é confeiteira e fez alguns doces para a senhora e pro seu filho.

-Aah que gentileza de vocês. Muito obrigada. Aliás, como se chama?

-Meu nome é--

   Naquele momento, justo naquele momento, quando pensei que daria um passo pra vitória, a música do meu game iniciou e eu não pude ouvir o que ela disse. Que bela sorte eu tenho...

-DROGA! Por que justo agora?! Faltava tão pouco para eu saber o nome daquela garota! -deitei na cama e mordi meu travesseiro. Essa foi a primeira chance de descobrir seu nome e eu a desperdicei. Enfim, decidi ignorar e continuar. Não tem por que dar tanta atenção a ela...

   Joguei por mais algumas horas até chegar ela, a hora maldita, 15:00. Tive que descer para "tomar meu remédio anti-apodrecimento", como diz a minha mãe. Fiz a mesma coisa de sempre, e por sorte não me deparei com ela. Foi apenas mais um dia entediante, mas eu estava feliz por não ver aquela coisa. Já tinha se passado quase uma hora, e eu poderia finalmente retornar a base. Ao dar a última volta no parque, ví uma cena que me fez parar a bicicleta. Apertei a manopla com raiva. Três garotos enterraram parcialmente um cachorrinho e deixaram apenas sua cabeça de fora. Eles tentavam o acertar com pedras, como se fosse um joguinho.

-Deixem ele em paz! -O QUE?! COMO EU VIM PARAR AQUI FALANDO COM ESSES MONSTROS?! Não fui eu, meu corpo fez isso por conta própria. Talvez estava possuído por aquela bruxa.

   Naquela hora, os três pararam o que estavam fazendo e viraram se pra mim. Então, o líder daqueles delinquentes falou comigo.

-Ora ora vejam só pessoal! Esse é aquele Hikikomori do quarteirão do lado não é? -esse é um termo japonês usado para pessoas que se matem isoladas. -Se meter com a gente foi o maior erro da sua vida garotinho.

   Sim, a consequência de me tornar um herói por alguns segundos me levou a isso. Apanhei a ponto de ficar desacordado. Eles jogaram minha bicicleta morro a baixo e partiram. Eu estava tonto e ainda desacordado, mas eu ví, alguém colocou a bicicleta perto de mim e desenterrou o cachorrinho. Eu senti ele lambendo o meu rosto e deitando próximo a mim. Pensei que aquele ser era um anjo, e era, um anjo caído que surgiu bem em frente a minha casa para me atormentar. Agora minha mente estava mais confusa ainda. Por que ela fez isso?! Achei que ela me odiasse!

-Não faça essas idiotices de novo, Green Hero. - ela foi novamente embora, com aquele mesmo sorriso de sempre.

   Depois de alguns minutos, finalmente retornei a consciência e levantei. Não podia deixar aquele cachorro sozinho, eles provavelmente voltariam e fariam aquilo de novo. Decidi levá-lo para casa.

-Charlie você demorou hoje. Está tudo bem filho?

-Sim mãe, foi mais um dia entediante...

   Não sabia se minha mãe aceitaria o novo morador em casa, então eu estava um pouco apreensivo.

-Mãe!

-Diga filho?

-Bem... Eu encontrei um cachorro perdido, acho que ele foi maltratado, será que poderíamos ficar com ele?

-Um cachorro? Olha Charlie eu não tenho tempo para um bichinho de estimação.

-Eu cuido dele mãe! -percebi que minha mãe estava um pouco surpresa. Aquele não era o Charlie que ela conhecia. Na verdade, nem eu sabia o que estava acontecendo.

-Se me prometer que vai levá-lo para passear, dar a comida e limpar a sujeira, tudo bem.

-Aah... Tudo bem mãe... -suspirei, tive que aceitar todos os quesitos da minha mãe se quisesse continuar com aquele animal. Não sei por que estava fazendo aquilo por ele, mas agora não tem mais volta.

-Ele já tem um nome?

-Vejamos... O que a senhora acha de Teddy?

-É um nome adorável. Bem vindo a sua nova casa, Teddy! -minha mãe estava feliz com isso, e no fundo, eu também. Não seria nada mal ter um cachorro, por que não.

A Garota Da Janela Da FrenteOnde histórias criam vida. Descubra agora