Harris' House

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   Depois do almoço, o telefone da minha mãe tocou. Era uma chamada urgente, e ela precisaria ir o mais rápido possível para o hospital. Provavelmente ela passaria o dia e a noite lá.

-Justo hoje. Fazia tanto tempo que não via meu filho e logo agora me ligam do hospital!

-KKK Tudo bem mãe, não se preocupe. Boa sorte lá, Doutora Mary.

-Voltarei o mais breve possível filhos. Cuide do seu irmãozinho, Zack.

-Mãe, eu não sou uma criança...

   Depois de um tempo, Zack precisou sair pra fazer compras e eu fiquei sozinho com o Teddy. Os Harris haviam saído, e eu estava em meu quarto observando a rua da janela.

-O Zack esqueceu o portão aberto, que saco. -suspirei e estava me levantando para fecha-lo. Apartir desse dia, descobri que o destino me odeia. A Sra Jullie tinha um gatinho, e justamente quando o portão estava aberto, Teddy o viu em cima do muro da casa dela. Antes mesmo que eu pudesse gritar seu nome, ele saiu correndo e latindo. Foi a primeira vez que ví um cão saltando um muro. Imediatamente corri em direção a casa dos Harris. Parei em frente o muro.

-Fala sério! Eu vou ter mesmo que entrar aí?

   Seria como entrar no inferno, em território inimigo. Mas o que eu poderia fazer? Meu amigo estava em jogo. Finalmente criei coragem e passei pelo muro. Tentei chamar o Teddy mas ele não me respondia. Então, eu ouvia barulhos dentro da casa.

-Não é possível... Eu vou ter que... Entrar na casa dela?

   Comecei a suar frio e meu coração acelerou. Olhei para todos os lados possíveis para ter certeza de que ninguém estava olhando. Quando era pequeno, Caio me ensinou a entrar em lugares indevidos. Não faço ideia de como uma criança possuía tais conhecimentos, mas foi útil naquele momento. Depois de muito esforço, consegui entrar pelo porão. Liguei a lanterna do celular e subi, até entrar na casa. Eu ainda estava desconfiado e não queria chamar atenção de maneira nenhuma, então chamei o Teddy beem baixinho.

-Teeddy, Teeddy... -chamava e chamava mas nada dele aparecer.

   Revirei todo o andar de baixo, mas não o encontrei. Então, decidi subir. Olhei no banheiro, no quarto do Sr e Sra Harris, e nada.

-O único lugar que sobrou foi... O qua... Quarto dela... -Eu definitivamente não queria entrar lá. Quem sabe que tipo de coisas essa bruxa tem lá? Mas... Era o Teddy, eu precisava fazer esse sacrifício.

   Entrei lentamente em seu quarto, e sim, ele estava lá, com a língua fora é o rabo abanando.

-Seu idiota, por que veio justo aqui? Vamos garot--

   Avistei em cima de sua estante, um livro qualquer, escrito: My Diary. Por que aquilo me chamou a atenção? Não tem nada que me interesse nela. Mas mesmo assim, eu decidi dar só... Só uma espiadinha. Nada demais. Abri em uma página aleatória. Lá estava escrito: "...Querido diário, hoje novamente chorei por aquilo. Mesmo depois de tanto tempo, aquilo me pressiona e me corta fundo, mais fundo do que qualquer lâmina. Sei que você já não pode mais ouvir, mas se estiver aí, me perdoe por..." Fim da página. Naquela hora todo meu corpo se arrepiou. O que de tão assustador aquela garota tinha feito? Minha teoria de que ela era algo sobrenatural era verdadeira? A princípio, hesitei em passar a página. Minha mão tremia. Finalmente criei coragem e passei a página, mas antes mesmo de que eu pudesse ler, ouvi o barulho da porta da frente se abrindo. Nunca senti nada parecido. Senti um nível de adrenalina gigantesco. Teddy saiu do quarto e eu não pude ir atrás dele. Olhei para todos os lados procurando algum lugar para me esconder. Decidi ir para debaixo da cama. Fechei o diário e fui. Ouvi ela chamando seu gatinho, mas ele não respondia. Naquele momento, fiquei imaginando como diabos eu conseguiria sair dali. A garota entrou no quarto. Eu estava completamente imóvel. Suava frio e tremia. Seu brinco caiu no chão, e ela iria se abaixar para pegar. Estou perdido. Antes que ela estivesse em um ângulo que pudesse me ver, Teddy latiu lá em baixo com o gato dela. Todos se assustaram e correram pra lá.

-Essa é a minha chance. -sussurrei comigo mesmo.

   Fui agachado até o quarto do Sr Harris. Lá, havia uma pequena sacada na qual ficava a mais ou menos um metro de uma árvore. Respirei fundo e pulei da sacada. Agarrei a árvore com toda minha força, e fui descendo lentamente. Soltei o tronco, saltei o muro e corri até a minha casa. Sentei na calçada e fiquei refletindo a merda que eu havia feito.

-Isso foi loucura! O que eu estava pensando? -mas mesmo com os riscos, eu admito que... Eu me diverti com aquilo. Pelo menos depois que tudo passou.

-Charlie? O que faz aqui fora? -Zack chegou finalmente com as compras.

-E... Eu estava procurando o Teddy, não o encontro em lugar nenhum.

-TEDDY, TEDDY, EI GAROTO! -alguém bate no portão da nossa casa, eu fui atender. Ao chegar lá, Jullie estava segurando o Teddy em seus braços.

-Acho que ele entrou por engano em nossa casa e se perdeu, toma! -peguei o cachorro e fingir que não sabia de nada.

-O...obrigado! -ela sorriu e foi embora. Suspirei fundo e aliviado. Aquele dia havia deixado de ser entediante.

A Garota Da Janela Da FrenteOnde histórias criam vida. Descubra agora