Espremida

47 9 0
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Entrei na sala quieta e me sentei na cadeira, todos os olhos estavam em mim, inclusive os da professora.


— Não estava de suspensão, senhorita Palomanni?! — Pelo visto o assunto já havia percorrido toda a escola. Abro a boca para responder, mas o diretor a chama da porta, então me calo.


Para descontrair toda aquela tensão, resolvo abrir minha mochila. O cheiro forte de café com canela atinge meu olfato e eu reviro a bolsa rapidamente, procurando o culpado por trazer a tona, toda a cena do Caio derrubando o café no suéter, até a cena em que estava deitado e entubado. O copo do café gelado com canela, escrito "Dessa Bathory" ainda estava lá.


Esse Bathory era uma piada interna. Assistimos o filme por indicação de um site qualquer, onde a condessa gostava de se banhar no sangue de garotas jovens e virgens. Eu me lembro de ter sido um dos piores que já vi, entretanto Caio adorou. Sempre foi muito fixado em filmes baseados em fatos reais. Con"Dessa" Bathory, esse era o sobrenome da mulher. Fitei o copo durante alguns minutos enquanto me convencia de que Caio estaria em tudo nos dias seguintes e qualquer palavra, ato ou cena me lembraria ele. Isso tudo me fez pensar nas diversas vezes em que me ofereceu esse café e eu recusei. Deveria ter aceito, todas as quarenta e duas vezes.


— Andreza, — Eu nunca gostei dessa professora e do fato de sempre, mesmo eu já tendo a corrigido, pronunciar meu nome errado. — suspensão cancelada. — Os meninos do time de futebol me encaram com raiva do fundo da sala. — Fiquem despreocupados garotos. — A professora prosseguiu indo apagar a lousa. — A suspensão da Barbie também.


Barbie era o apelido que deram a ela, a menina a qual quebrei o nariz. Mas todos sabiam que não havia nada naquela garota que poderia ser comparado a Barbie, exceto o cabelo loiro oxigenado e os olhos claros. Quanto as proporções... Ah vamos, me poupe, ela nem era tão (me desculpem o termo vulgar) "gostosa" assim e se alguém tivesse em questões de corpo a mesma proporção que a Barbie, bom, esse alguém não conseguiria nem ao menos se levantar.


— Andreza? Vai ficar apenas olhando a lousa, ou copiar o texto? — Me assusto ao perceber que estava parada pensando. Todos riem pelo simples fato da professora ter chamado minha atenção, ignorei e segui os estudos calada e sob alguns olhares de raiva.


Não foi uma boa ideia ir à escola. Jogaram bolinhas de papel em mim, me fizeram tropeçar, riram sem explicação quando arrumei o cabelo apenas passando as mãos e cochicharam me encarando. Jorge com certeza foi o mais chato, era zagueiro do time, mas agia como se fosse capitão. Branco dos lábios carnudos, olheiras roxas rasas, a cabeça raspada, sobrancelhas grossas, pernas fortes e a voz em um tom rouco. Eu achava completamente irritante o jeito estranho com que ele falava naquela voz coisas e mais coisas preconceituosas.

Daí em Diante (Andressa Palomanni)Onde histórias criam vida. Descubra agora