Tomei outro banho e troquei minhas roupas, então corri para meu quarto na ponta dos pés, pois sabia que iria ouvir sermões se fosse pega (e muitos). Abri a porta, entrei, estava com o diário em minha mão direita. Meu quarto completamente bagunçado. Algumas roupas no chão, minha cama desarrumada, meu material escolar de lado...
Eu não costumava ser tão descuidada, mas provavelmente minha mãe tinha razão quando disse que eu estava pouco perdida por culpa do diário. Depois de encarar bem meu quarto bagunçado, olhei para o diário. Não era arrumar o quarto que eu queria e sim, me perder ainda mais por saber o que tinha ali. O que ainda faltava. Pois mesmo com tudo aquilo, Caio ainda parecia feliz demais nos últimos três meses e eu precisava saber, o que faltava. Qual era o segredo principal, o segredo para toda aquela felicidade.
Sentei na cama e abri o diário devagar, folheei encarando as páginas já lidas e prestando atenção nas letras escritas ali por ele. Parei em meio a página que rasguei, passei o dedo no rastro de papel que ficou e suspirei. Na verdade, eu tinha medo que aquilo machucasse Jack e ela se perdesse assim como eu, ou pior. Fiquei um tempo me perguntando se havia feito o certo. O complicado era que só teria aula na segunda, então era preciso que saísse e a visse antes. Eu não sei como minha mãe reagiria (se me deixaria sair), quanto ao meu pai estaria na escola, todos os sábados eram assim.
Respirei fundo e passei as páginas novamente, devagar até a em que eu havia parado. Não faltava muito para terminar o diário e isso me dava mais vontade ainda de ler, como em tão pouco, aconteceu tanto?
14 de Agosto (segunda-feira)
"Eu estive meio distante esses dias, mas juro que depois da conversa com a professora Edioda, tudo melhorou. Agora são onze e quatorze, tenho tanto para lhe contar... ela me levou para tomar um café no Sintra. Não foi um almoço digno de ser aplaudido, com velas e todos em volta encarando nossa conversa tensa, sobre tudo o que tem acontecido. Foi muito melhor que isso. Um copo de café com canela e gelo, acompanhado de muita conversa. Eu sabia que não poderíamos estar ali, não poderíamos ter uma relação fora da escola seja como fosse, pois ela era a minha conselheira. Só que se tornou minha grande amiga e então nada mais importa.
Contei à ela sobre tudo, principalmente sobre a surra que meu pai havia me dado. Antes mesmo de falar qualquer palavra, quase implorei de joelhos para que não levasse isso a alguém superior. Disse que confiava nela, coloquei tudo isso em jogo e ela aceitou. Sustentou.Ela me deu respostas que sustentariam qualquer um Luza. Disse que meu pai é uma pessoa maldosa e completamente fora de si, o chamou de ignorante e me mostrou o significado da palavra. Pediu para que eu fosse forte, para que eu encarasse a vida de frente, pois um dia a vida iria me retribuir... Foi só assim para que eu sentisse que alguém me compreendia e era só isso que eu precisava, eu acho.
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Daí em Diante (Andressa Palomanni)
Fiksi RemajaApós a morte inesperada de seu melhor amigo, tudo simplesmente desaba e então um diário aparece em sua frente, pronto para esclarecer todas as suas dúvidas sobre os últimos meses de amizade. Uma forte amizade é realmente construída de segredos conta...