12 (parte 1) Drake

3.1K 555 36
                                    

Não tenho muito o que falar da minha vida, fora que serei eternamente grato aos Dragomir. Era um século difícil de se viver, principalmente para uma
mulher solteira com um filho estranho. Quando minha mae não conseguia algum pão velho ou alguma latinha de sopa, passávamos fome. Ela me dava ate a ultima migalha e dormia faminta. Ainda criança passei a roubar para comer, minha mae não concordava, mas eu nunca a deixaria passar fome novamente.
Os dias eram difíceis, e no inverno, as poucas roupas velhas e agasalhos
rasgados que tínhamos, não eram o suficiente para nos manter aquecidos.
Morávamos em um casebre velho e caindo aos pedaços.
Numa noite, a mais dura e fria do inverno, o vento soprava com violência, ameaçando derrubar nossa única proteção contra o frio. Minha mae tirou seu agasalho e colocou-o sobre mim, trincando os dentes de frio, sorrindo-me, com seus olhos verdes, quase sem brilho, e me disse o que sempre me dizia todas as noites.

_vamos sobreviver, mais essa noite! – e sorriru.

Fora suas ultimas palavras.

Fora seu ultimo sorriso.

Quando amanheceu, ela estava como se deitara na noite anterior, com seus braços ao redor de mim, mantendo-me em seu colo, mas seu corpo já não transmitia mais calor. Estava frio e sem vida.
Foi nesse momento que despertei meus dons e talentos, que muitos anos depois, descobri ter herdado de um pai, que jamais conheceria. O mesmo havia se aproveitado da inocência e vulnerabilidade da minha mae, e a abandonou SABENDO de sua gravidez.
Maltrapilho, perdido, faminto e só, deixei o velho casebre, que estava em chamas, por conta dos meus poderes, e vaguei por dias, levando fogo e ruina por onde passava.
Ate que o senhor Cambriel me achou. Estava cavalgando, enquanto eu andava com as ultimas forças que me restavam, delirante, a beira da exaustão. Ele desceu do seu garanhão e andou até mim, segurou meu queixo com firmeza e levantou meu rosto.

_nao abaixe a cabeça tao facilmente e aceite a morte dessa forma garoto! – falou firme – voce causou muitas mortes por onde passou – eu o olhei, sentindo minhas forças se esvaírem – se voce sobreviver, cuidarei de voce!

Ele jogou-me por sobre seu ombro, e voltou a montar seu garanhão. Não lembro o caminho traçado, mas acordei deitado numa cama macia, usando roupas quentes, com remédio em meus machucados e um prato de comida ao meu lado.
Tudo que minha mãe jamais poderá me dar, tudo que eu jamais poderia dar a ela em sua velhice. Sentei-me na cama, sentindo-me mortificado. Eu estava só no mundo, não tinha ninguém para olhar por mim.

_que bom que acordou... Coma! – a voz do meu salvador ecoou pelo quarto, dura e impassível – agora! – ordenou.

Peguei o prato de comida e comi, entre as lagrimas que caiam sobre o ensopado, num misto de tristeza e gratidão. Comi cada colherada, sentindo-me grato ao senhor que me salvara, e desolado, por saber que nunca em sua vida, minha pobre mãe teve a oportunidade de ter esse luxo.

_voce tem nome garoto? – perguntou aproximando-se, eu afirmei ainda de cabeça baixa, contemplando o prato vazio em meu colo – ouvi historias sobre um menino possuído, um menino demônio que vagava por caminhos tortuosos, trazendo a morte consigo... – comentou – eu sei que é voce, Drake!

_se vai me matar, por favor, mate! – pedi num fio de voz – não mostre compaixão, dando-me tudo que jamais tive, para então matar-me...

_nao seja tolo! – bradou – não tive o trabalho de trazê-lo até minha casa, cuidar de seus ferimentos e velar seu sono para mata-lo! – falou duro, e no instante seguinte, segui suas mãos firmes como garras, segurando meu queixo, fazendo-me olha-lo assustado – olhe para mim enquanto falo com voce garoto!

_d-desculpe... – murmurei engasgado.

_espero que seja tao bom em aprender, quanto é em falar tolices... – resmungou soltando-me – o quarto é seu, cuide bem dele! É sua primeira posse! – falou e o olhei incrédulo.

_mas Senhor... – ele interrompeu-me.

_cale-se! – e prontamente me calei – não permiti que falasse! – a porta foi aberta e um outro homem entrou – este é Victor, irá instrui-lo melhor!

_ola, Drake! – Victor falou.

_cuide dele, preciso ver meu irmão! – e se foi.

_nao tenha medo Drake, não vamos lhe fazer mal...

_qual o nome dele? – perguntei ainda olhando para porta.

_Cambriel Dragomir! – falou com reverencia e respeito profundo.

_ensine-me o que puder! – pedi a Victor.

_o que eu puder? – perguntou sorrindo – para que?

_irei servir ao Sr. Dragomir ate meu ultimo suspiro de vida! – falei convicto.

_você tem apenas 9 anos, criança... Tem muito o que viver! – brincou, mas ficou serio ao me ver determinado.

_ensine-me! - falei por fim.

Victor cuidou de mim, toda minha infância, enquanto eu crescia venerando os irmãos Dragomir. Nunca houve ascepçao, sentávamos a mesa com os irmãos, tínhamos os mesmos direitos que eles, mas mantínhamos nosso respeito por eles em primeiro lugar. Nunca descobri como Victor se juntou aos Dragomir, mas lhe era igualmente grato, por ter cuidado de mim. Em relação a eles, eu era relativamente jovem e inexperiente, mas fiz o possível para ser mais do que útil e me aperfeiçoar cada vez mais.
E mesmo agora, anos depois, quando ele nos chamou para uma viagem à
Londres para rever algum parentes com problemas, nosso respeito continuava convicto. Eramos três agora, com Joshua, um órfão de guerra, deixado para morrer e salvo por Caleb.
Dante havia sido feito cativo há anos, e igualmente a tanto tempo o
procurávamos. Mas qual foi minha surpresa ao chegar, e encontrar Safira, a doce menina que conheci há muitos anos, num parque de diversões. Estava acompanhada de seu pai, como bem me lembro, motorista de Alexus. Ela tinha dons, eu sabia disso e reportei o fato a Victor, e a observei por longos anos a distancia.
Foi então que entendi a ligação de Safira com os irmãos, e sugeri a Cam, que usasse o dom de Sansara para conseguir respostas. Dito e feito. A sondei cuidadosamente, e vi seu progresso controlando seus dons no almoço e enquanto eramos perseguidos por cães do inferno, sem falar no desenvolvimento de seu corpo, acho que Damon tinha algum problema mental, para não notar o mulherão que carregava em suas costas.
Assim que paramos, fiz uma coisa, que estava desejando fazer desde que a vi, puxei-a das costas de Damon.

_MAS O QUE... – ele ia protesta, quando eu a beijei.

Um puta beijo, que ela correspondeu mesmo sem querer.

_isso foi divino princesa! – falei – agora, dê-me seus poderes emprestados sim?! – a beijei novamente, mas agora, sugando dela seus poderes, temporariamente.

Seu corpo amoleceu contra o meu, e a fiz flutuar, enquanto virava para usar, os poderes dela, para repelir e extinguir a existência daqueles seres odiosos de forma canina. Esperei ate que os mesmos saltassem em nossa direção, usando a repulsão, lancei-o para o alto, e com um esfregar de mãos, fiz fogo, chamas negras da noite, e os incinerei. Um excelente efeito visual, que eu apreciaria, se não tivéssemos com pressa para fugir.

_podemos ir ago...- senti apenas o impacto daquele punho no meu maxilar, fazendo-me recuar dois passos, tonto.

Desconcentrei-me fazendo Safira cair no chão, sendo amparada em seguida por um Draco dividido, entre a fúria, a vontade de me destruir e carregar Safira, que estava sem forças no momento.

_depois vocês brincam de lutinha! – Cam rosnou – vamos embora!



Demorei
mas não desisti e consegui postar
Bjinhos

Irmãos Valerian - Série IMORTAIS - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora