Kai ainda não entendia muita coisa. Mas, compreendeu que seu irmão Taki fora assassinado por caçadores de dragões. Antes de morrer seu irmão do meio mandara uma mensagem com a mente para Nimay, para eles irem embora por causa do perigo, daqueles homens. Taki e Nimay conseguiam se comunicar mesmo não estando na forma animal. Afinal, o mais novo não conseguia se transformar. E por isso eles fugiram. E foram emboscados no caminho. Pois os caçadores tinham se colocado estrategicamente por onde seria sua rota de fuga. Por isso Hykaru foi ferido soltando o irmão e desceu para procurar. E agora, achando ou não o menor, seu irmão mais velho teria que viajar na forma humana, demorando quase um mês para alcança-los.
O pequeno mestiço tentava ordenar os fatos e acontecimentos e depois seus sentimentos em relação a tudo isso.
- Papa, eu entendi. O Taki ... não vai mais voltar, né? Ele virou árvore, como o vovô?
- Sim, filho. E os outros estão a caminho. Mas, como não podem vir voando, demorarão muito para chegar. Enquanto isso ficaremos por aqui. Esperando.
- O momy não acordou! Eu chamei e sacudi, mas ele não se mexeu.
Ryusei arregalou os olhos e deu um salto em direção ao seu ômega. E, realmente, ele parecia dormindo e por mais que o sacudisse ele não abriu os olhos. O kami olhou aflito para Hana.
- Ele está hibernando. – falou Takai. Desde que eles dividem a energia do coração de Hana, conseguem sentir e ouvir os pensamentos entre os três. – A dor de Akise foi tanta que ele perderia o bebê se não adormecesse. Parece que o bebê está adormecido, também.
- Bebê? – A cara de Ryusei iluminou. Virando-se para seu pequeno acariciou e beijou sua face. – Descanse, meu amor. Eu sei que assim que Nimay retornar você vai acordar. Reconstruiremos nossa família.
Foi até Hana. Abraçou sua ex companheira, mãe dos filhos mais velhos. E chorou. Takai levou Kai para explorar os arredores deixando os dois nesse momento de dor e intimidade.
- Por que tinha que ser Taki? Era minha vez de levar os remédios para a antiga caverna. Mas, ele ofereceu-se para ir no meu lugar, já que estava contando histórias para os pequenos. Eu nunca vou me perdoar, Hana. Nem espero que você me perdoe.
Os soluços sacudiam o deus dragão. Mesmo tendo mudado com o clã para a caverna de Hana, toda lua nova eles levavam remédios e deixavam no antigo lar onde alguém da casa de chá buscava no dia seguinte e distribuía para quem precisasse.
Quando perceberam que aqueles caçadores não apresentavam perigo para eles onde estavam, estabeleceram essa rotina. Mas, um novo clã de caçadores chegou nas proximidades e eles não contavam com aquela violência e rapidez nas ações.
- Eu não te culpo, Ryusei. Foi uma fatalidade. Poderia ter sido qualquer um de nós.
O Kamisama negava sacudindo a cabeça. Ele sabia que os outros seriam ele, Hana ou Hykaru que eram mais velhos e mais experientes. Ele morreria carregando aquele peso no coração. O perdão de Hana só aliviava um pouco o fardo que sentia.
**
Nimay acordou naquela tenda. O cheiro de putrefação alertava que ele tinha pouco tempo. Percebeu que tinha sido deixado sozinho com o corpo de Taki, ainda em cima da mesa, apodrecendo com o passar dos dias. Era muito cedo, o sol demoraria ainda uma hora para nascer, todos estavam dormindo. Tinha que agir rápido. Silenciosamente puxou o corpo do meio irmão com delicadeza. Ao contrário do que esperava, era muito leve.
Correu para uma clareira nas proximidades da floresta que cercava as tendas dos caçadores. Repousou o jovem dragão morto no chão suavemente. Enxugando as lágrimas acariciou os cabelos vermelhos e com um suspiro procurou algo para ajudar a cavar uma cova rasa.
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Equinócio de Outono [Completo]
Historia CortaContinuação do conto "Solstício de Verão". Ryusei Sama, o deus dragão, se vê forçado a fugir com sua família para as montanhas do norte. Segundo lendas draconianas antigas, além das Montanhas Místicas existe uma terra onde os dragões vivem em harmo...