Capítulo 3 - Traição

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Nanda

"I wish I knew then what I know now, wouldn't dive in, wouldn't bow down..." Wide Awake - Katy Perry

Depois de alguns segundos olhando pro garoto que tinha esbarrado em mim, eu me forcei a olhar pra outro lugar que não fossem seus olhos verdes.

"Me desculpa, eu não estava prestando atenção."

"Que isso! Me desculpa você, eu que estava olhando pra cima e não te vi." Ele me respondeu mas nenhum de nós fez menção de sair de onde estava.

Alguma coisa nele inexplicavelmente me atraía. Ele era tão alto quanto Felipe, me fazendo olhar pra cima, tinha a pele clara e cabelos pretos e lisos, jogados para o lado como se tivesse acabado de passar por uma ventania. Tinha um rosto bonito, com a boca definida. Mas o que prendeu minha atenção foram os olhos: de um verde profundo com uma certa melancolia como se estivesse sempre pensando em algo que não podia ter, que me faziam ter vontade de cuidar e ser essa coisa que ele supostamente queria ter.

Me repreendi mentalmente por estar reparando tanto no garoto. Você não aprende não é Maria Fernanda! Depois de tudo o que aconteceu tão recentemente...

"Sem problemas", ele deu um sorriso preguiçoso.

Provavelmente teríamos ficado horas ali nos olhando,(pelo menos da minha parte), mas um senhor arranhou a garganta pedindo passagem já que estávamos no meio do corredor. Ele deu um sorriso (e que sorriso), se despediu pedindo desculpa outra vez e sumiu pelo corredor. Eu fui obrigada a sair do meu transe e fui ao banheiro.

Quando voltei para o meu lugar meu irmão já estava praticamente dormindo, o que era de se esperar. Tínhamos acordado tão cedo. Achei melhor pois assim evitava perguntas desnecessárias do porque demorei tanto. Mas o menino do corredor não saía da minha cabeça. Aquela voz... parecia me passar uma paz enorme com apenas algumas palavras.

Pus meu fone de ouvido na esperança de dormir e esquecer o que assombrava os meus pensamentos, mas só consegui relembrar tudo.

Há uma semana atrás eu estava tão feliz, por que era o nosso aniversário de namoro e eu tinha comprado um presente que eu tinha certeza que ia agradar: um porta retrato com a foto que nós tiramos quando fomos para o Rio de Janeiro com a minha família. Ele dizia que adorava aquela foto, uma das mais bonitas que já tiramos.

Ás 15:00 horas em ponto ele tocou a campainha da minha casa. Fui atender com o coração acelerado de tanta ansiedade.

"Oi, meu amor...", cortei minha frase no meio quando vi a cara de enterro dele. "Que cara é essa, Gustavo?"

"A gente precisa conversar, Nanda." Abri a porta pra ele entrar, e ele passou direto sem nem um beijo e sentou no sofá. Achei estranho pois o Gustavo não era assim. Fechei a porta e me sentei ao seu lado.

"Gustavo, fala de uma vez que eu já estou ficando nervosa."

"Calma, Nanda, é um assunto delicado, não dá pra falar de uma vez", eu já estava suando frio. Ele estava muito estranho. "Nanda, antes eu queria dizer que eu estou muito arrependido do que eu fiz e não espero que você me
perdoe."

"Fala logo Gustavo, o que foi que você fez de tão grave assim?" Uma conversa começando com essas palavras? Não ia acabar bem.

Ele respirou fundo. Parecia medir cada palavra antes de finalmente falar.

"Ontem, depois que eu te deixei em casa logo depois da festa da Bárbara, eu não fui pra casa. Eu fui pra casa de um amigo meu", quando ele falou isso eu soltei o ar que nem sabia que estava segurando. Era só isso? Não tinha nada de grave nisso, nunca fiz a linha ciumenta. E foi isso que eu falei pra ele antes dele recomeçar a falar e eu perceber que aquele ditado "depois da calmaria, vem a tempestade" era realmente verdade.

"Mas não foi só isso Nanda. Eu fiquei com a irmã desse meu amigo." Eu não tinha reação, apenas fiquei o encarando esperando ele começar a rir e gritar: HÁ! Era brincadeira! E quando isso não aconteceu, lágrimas riscaram meu rosto.

Sempre achei que se um dia isso acontecesse comigo, eu ia ser capaz de dizer algo muito melhor do que a mesma frase clichê de sempre:

"Como você pôde fazer isso, Gustavo? Eu confiei em você!"

"Eu sei, Nanda, mas eu estava bêbado, ela foi chegando e a gente acabou ficando. Mas eu não espero que você me perdoe. Eu sei que o que eu fiz foi errado."

"Como é que é?", eu estava bêbado? Ela foi chegando? "Gustavo quando um não quer, dois não beijam." Minha voz estava saindo como um sussurro até para os meus ouvidos. Aquilo não entrava na minha cabeça. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, me levantei. Não queria dar a chance dele me convencer do contrário. Em questão de segundos eu decidi o que fazer. "Você tem razão", falei indo até a porta, "Não espere que eu te perdoe, porque isso não vai acontecer. Sai da minha casa AGORA e tenha a decência de não falar comigo nunca mais."

"Eu vou, mas eu sinto muito, Nanda." Ele me olhou mais uma vez com os olhos caídos e eu desviei o rosto. Eu não suportava sustentar o olhar dele nem mais um segundo. Quando ele saiu e eu fiquei sozinha chorando, e só pensava no que eu tinha feito de errado. Será que eu era uma namorada ruim? Grudenta? Eu tentava arduamente achar um motivo pra ele ter feito o que fez.

Quando meus pais chegaram eu já tinha parado de chorar, mas meus olhos pareciam duas bolas de golfe e eu não consegui disfarçar. O meu pai quase foi atrás do Gustavo, mas minha mãe não deixou. Nem eu.

E como num passe de mágica eles decidiram viajar. Não me deixaram nem argumentar e já estavam olhando passagens pela internet. Disseram que já estavam com planos de viajar, só tinham remarcado para o meu aniversário e que eu podia considerar como um presente adiantado.

Por isso eu não estava tão animada para essa viajem. Foi tipo: solução de emergência! Vamos viajar pra ver se ela para de chorar por quem não a merece!

Acordei com um sobressalto ao perceber que meu rosto estava molhado de lágrimas e meu irmão me olhava com pena.
"Ah, Nanda. De novo?"

No Compasso do Seu Coração - 1° temporada - NOVA VERSÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora