Vinte - De volta para casa

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- Você só pode estar louca. – Minha mãe dizia encostada na porta com os braços cruzados. Estava definitivamente com medo de encará-la.

- Você já me disse isso algumas vezes. – Suspirei.

- Agora você esta confirmando que eu não disse errado... – Estava me sentindo cansada mentalmente. Não havia dormido noite passada e minhas pernas formigaram, estava como um zumbi, porém, precisava me organizar.

- Eu agradeço imensamente por ter feito o que fez por mim durante estes quatro meses, não tenho palavras para dizer o quanto sou grata...

- Se fosse grata não estaria fazendo o que planeja. – Afirmou limpando sua garganta havia esquecido como suas palavras eram duras quando ela queria.

- Desculpa-me, mas pode uma vez pensar em como eu me sinto? – Minha mãe me encarou preparada para dizer algo que fosse provavelmente rude, mas comecei a falar antes dela. – Por anos eu consegui ser infeliz sozinha em uma cidade grande, poucos, na verdade apenas um, motivo me motivava a acordar todos os dias e encarar aquele lugar movimentado e barulhento demais. Contudo, quando chegava em casa eu sentia falta do que eu não tive. – Limpei o suor que escorria pela a minha testa apesar do frio lá fora. – Eu não tive uma família ao meu lado quando precisei, não tive uma família ao meu lado quando resolvi estudar arquitetura e novamente não tinha uma família ao meu lado quando depois de inúmeras noites me sentindo um lixo, sem competência desisti de seguir o ramo que estudei e novamente decidi me formar, eu não tinha absolutamente ninguém da minha família ao meu lado, meu porto seguro eram outras pessoas não você e o papai.

- Você sabe meus motivos May Lee, sabe por que fiz aquilo, sabe meu estado psicológico quando resolvi sair daquele inferno de cidade. – Afirmou brava desencostando da porta.

- Eu sei, sei tanto que não a implorei que ficasse comigo. Eu não iria com você, mas não exigi que largasse todos os seus planos por mim, mas sabe qual foi o problema no final? – A questionei. – Você me ignorou como se tivesse cometido um crime, mas não lembrou que eu também fui largada como você foi pelo o meu pai. – Sentia a veia em minha garganta saltar, mas precisava dizer tais coisas naquele momento. – Agora mais uma vez quero seguir o meu caminho como segui por anos e anos. – Suspirei. – Desculpa-me por novamente sair de perto de você, mas não posso continuar fugindo e mentindo para a minha mente e coração.

- Você irá voltar determinada para a cidade que tornou sua vida um inferno quando criança e adulta? Você literalmente não tem noção do que faz. – Minha mãe sempre foi à pessoa mais mente fechada em nossa casa. Antes meu pai sempre via o lado positivo de tudo que fizéssemos, mas minha mãe era aquela que julgava e até às vezes apostava como tais coisas não dariam certo no fim. Algumas vezes ela estava certa, outras vezes apenas riamos do seu comportamento tão ranzinza. Novamente ela estava agindo assim, não a condenava por talvez esta preocupada com a minha volta, mas não poderia ignorar tudo que meu coração dizia agora.

Passei a madrugada pensando se valeria enfrentá-la novamente. Os meses em que estive aqui ela havia demonstrado um pouco mais de preocupação por mim, havia mostrado de que alguma forma eu ainda valia para ela, então em minha cabeça desafiá-la mais uma vez seria um tiro no meu próprio pé, provavelmente seria mais anos sem sequer conversar com ela porque a mesma me evitaria. Contudo, minha cabeça não passava qualquer outra coisa a não ser que esta era a minha chance de sair deste lugar, não que ele fosse de um todo ruim, mas definitivamente nenhum jovem deveria viver daquela forma. Era como uma prisioneira que ganhava a sua liberdade, poderia me sentir desta forma agora.

- Mas é este lugar que pertenço! Poderia viver minha vida aqui, mas nunca seria completamente feliz, nunca estaria satisfeita, apenas eu sei como é exaustivo sentir-se presa e não quero continuar sentindo isso. – Minha mãe novamente cruzou os braços me encarando. – Você não irá entender, não irá compreender ou nada do tipo, mas não consigo viver assim...

Boyfriend Material | PCY, Chanyeol, EXOOnde histórias criam vida. Descubra agora