06 | UMA FLOR EXÓTICA NUM PARAÍSO SOMBRIO

1.5K 219 64
                                    


JUNE.
Lakeside,

Agosto de 1996.

Se não fosse por Blue, eu nunca saberia como é frio e aconchegante a cobertura do Hotel Redwood da rua de trás, ou como céu é bonito visto de lá.
Eu estava andando aquela noite sem rumo, pela praça East Moon, minha mãe não fazia ideia de que eu havia pulado a janela do quarto mais uma vez. Mas com Louis em casa, ela de fato, não ligava para nada. Algumas luzes da rua estavam apagadas, outras falhando e algumas, poucas, ainda acesas permitindo que eu assistisse meus cadarços desamarrados enquanto caminhava pela calçada. Não havia tantas pessoas, mas o lugar ainda era barulhento, ou talvez os gritos de mamãe no andar de baixo não houvessem saído de minha mente me tornando surda para as coisas à minha volta.

Sentei no banco vazio de madeira, e fiquei esperando que qualquer estranho naquela praça viesse falar comigo, porque qualquer idiota era melhor do que estar quebrada e sozinha num lugar rodeado de gente, mas ninguém veio. Suspirei cansada, enfiei as mãos nos bolsos do meu casaco vermelho, velho e favorito. As pessoas andavam de um lado para o outro, indo embora, voltando, indo embora, voltando, indo embora...

Devo ter passado uma boa quantidade de tempo no lugar, tempo o suficiente para ser observada sem perceber pelo garoto encostado na picape atrás de mim, com os braços cruzados e um olhar certeiro.

"Eu não queria dizer, mas você parece patética e triste sentada nesse banco à esta hora da noite."

Me virei quase instantaneamente reconhecendo a voz dele. Blue usava jeans claros e por baixo de sua jaqueta escura, uma blusa desbotada, diferente das vezes que eu já o havia visto, porque na maioria delas ele usava uma blusa branca com outra xadrez de botão por cima, e mesmo assim parecia tão bem nele, que me fez perceber que qualquer coisa lhe cairia adequadamente.

"Eu não queria dizer, mas eu sou realmente patética a espera de uma pessoa que possa ser patética comigo essa noite."

Ele sorriu para mim, apertando os olhos asiáticos, dizendo sim sem usar as palavras.

"Isso é uma espécie de convite?" Blue colocou as mãos nos bolsos de seu jeans surrados.
"Depende, pode ser só uma maneira implícita de dizer que você é patético e o único que aceitaria fazer algo louco essa noite."
"É um bom argumento." Abriu a porta do passageiro da picape "Vamos?"
"Para onde vamos?"
"Não sei."
"Você sempre sabe onde estamos indo, Blue. Você sempre sabe."
"Tem razão."

O barulho do motor era alto, mas era melhor do que o silêncio que poderia fazer caso ele não estivesse presente ali. Blue girava a direção dobrando a esquina em alta velocidade, sem se preocupar com nossas vidas, ou talvez se preocupasse, porque ele mesmo havia travado meu cinto de segurança para mim.

Ele freou o carro de forma brusca e puxou o freio de mão com força, a ponto de nossas cabeças atingirem o banco do carro. Estávamos em frente ao Hotel Redwood. Blue colocou as chaves da picape no bolso e me convidou a segui-lo.

Fomos ao salão principal, onde Blue foi até Taehyung, o recepcionista e filho mais velho da família Kim que era dona do hotel, pegou as chaves da cobertura, trocaram uma ou duas palavras com cuidado para que eu não as ouvisse, mas foi o suficiente para saber que Taehyung entregou as chaves sem nem mesmo negar o pedido dele na primeira vez. Taehyung tinha uma estrutura óssea forte, ombros largos cabelos lisos e castanhos, uma pinta na ponta do nariz e a pele quase cor de mel, era o tipo de pessoa bonita e até estranha de um jeito bom e engraçado, mas ao mesmo tempo parecia um rapaz bobo e desleixado, suas roupas eram sempre duas vezes mais largas do que seu corpo, e mesmo com todo o dinheiro que tinha, seus óculos de aros grossos eram remendados na lateral. Sem se despedir de Taehyung direito, Blue seguiu em frente indo em direção às escadas que davam para a cobertura.

Querido BlueOnde histórias criam vida. Descubra agora