2. Sonho com o lobo guardião

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Kemilly



Um quilômetro, dois quilômetros... Já estava seguindo para o terceiro quilômetro quando decidi parar de correr. Meu corpo estava bem quente, minhas mãos estavam trêmulas, meu coração estava disparado e meus olhos marejados de lágrimas.

William havia me perguntado uma vez o que eu fazia para amenizar minha dor. Eu disse que corria. Sempre funcionava. Quando eu corria, parecia que eu deixava fragmentos da minha dor a cada metro. Mas dessa vez não estava funcionando. Meu peito parecia a ponto de explodir. Eu queria gritar aos céus o quanto minha vida era injusta. No entanto, em nada adiantaria reclamar. Não resolveria o problema.

Meu celular voltou a tocar. Já era a quinta vez naquela manhã. Meu pai devia estar pirando e até arrancando os cabelos de preocupação, mas eu precisava de um tempo. Eu precisava calar todas as vozes ao meu redor e ouvir apenas a voz na minha cabeça. Precisava pensar em uma solução. Sempre há outro jeito. Sempre.

"Sua mãe não pode voltar, mas posso fazê-la ter sua irmãzinha de volta. Com uma condição..." dissera Brotão.

Brotão não chegou a impor sua condição, mas seja qual for eu sabia que seria a pior possível. No entanto o sonho com o ceifador mais impiedoso e terrível de todos não era o que mais me perturbava, e sim um pesadelo que tive na noite anterior. Foi assim:

Avistei Roger e o metamorfo em uma espécie de ritual bizarro. Havia um círculo de pessoas, e eles estavam no centro dele. Todos vestiam capas pretas e usavam maquiagens escuras e exageradas.

– Está na hora de libertarmos o mestre! – gritou o metamorfo.

Uma menina que aparentava ter uns doze anos se aproximou de Roger e do metamorfo, segurando um pássaro branco, cujas penas traseiras eram tingidas de azul-celeste.

– Este é o pássaro da luz – disse a menina. –Terão de sacrificá-lo para libertarem o mestre de vocês.

– Esse pássaro aí é um pombo, certo? – quis saber o metamorfo.

– Não, este pássaro aqui é bem mais raro – a menina baixou os olhos para o pássaro. – O que irão fazer não funciona direito com um pombo comum.

– Então vamos logo com isso! – exclamou o metamorfo, tomando o pássaro das mãos da menina.

Ele pareceu respirar fundo.

– Está com dó do passarinho, Eríade? – zombou Roger.

O metamorfo, ou melhor, Eríade ignorou Roger e retirou um punhal das vestes. O pássaro se agitava em sua mão.

"In sanguine avis lumine invocato aperientur portae Arkam rationem. Et libertatem domini mei." Pronunciou Eríade.

Com um golpe rápido, ele arrancou a cabeça do passarinho, deixando que seu sangue caísse sobre as pedras mágicas. Então se abriu uma fissura no ar, que foi se expandindo. Um homem esbelto, de olhos e cabelos negros atravessou a passagem recém-aberta ao lado de uma criatura completamente negra, com cerca de seis metros de altura, e olhos vermelhos como sangue.

Pisquei os olhos três vezes, tentando tirar o pesadelo da cabeça. Será que era real ou era apenas minha mente transformando meus medos em pesadelos?

Achei melhor voltar para casa.

Quando já estava subindo a escada do prédio que eu morava, meu celular tocou novamente. Desta vez era Daniel. Decidi atender.

O Príncipe dos Bruxos - Sangue dos heróis : Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora