Capítulo 01.

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"Quando você disse seu último adeus eu morri um pouco por dentro, eu deito na cama chorando todas as noites sozinho, sem ter você
ao meu lado."
All I Want - Kodaline.

Enzo Callegari.

Um ano e meio se passaram desde que minha vida se tornou um verdadeiro inferno.

Sim, eu continuo sendo um empresário rico, dono da maior empresa de Seattle. Continuo sendo desejado por diversas mulheres ainda mais depois de perder a minha. Mas nada disso importa quando eu já não me sinto mais o mesmo.

Hoje é meu primeiro dia no trabalho desde tudo o que aconteceu e me dói tanto imaginar os olhares de pena surgirem sobre mim quando eu chegar lá, que a minha única vontade agora é de continuar em casa me afogando no álcool.

Termino de me arrumar e vou até o novo quarto da minha pequena Laura que estava em sua cadeira de rodas parada em frente ao espelho analisando seu reflexo. Me aproximo sentando em sua cama a olhando.

— Eu sinto falta da mamãe — Disse ela e eu senti uma pontada enorme em meu coração.

— Eu também sinto, filha — Suspiro tentando não desabar em lágrimas.

— Vovó me disse que agora ela é uma estrelinha no céu e que toda vez que eu me sentir só, posso olhar para o céu e admira-lá. — Seus olhos verdes me encararam — Mas agora eu olho pro céu e não consigo ver a estrela brilhando, nem em dias de chuva, será que ela me abandonou?

— Isso nunca vai acontecer e acredite, ela ainda está lá, olhando por nós dois — Deixo uma lágrima solitária escapar e a seco rapidamente — Agora está na hora de irmos.

— Não papai, eu não quero ir — Resmungou ela enquanto eu empurrava sua cadeira de rodas até a sala.

— Prometo que só vai ser hoje. — Sorrio e ela continua com um bico enorme assim como sua mãe fazia quando as coisas não eram do jeito dela.

Não demorou muito e nós já estávamos em minha empresa. Os funcionários nos olhavam de uma forma estranha e aquilo me deixava completamente enfurecido.

— Perderam alguma coisa aqui? Voltem ao trabalho, AGORA! — Disse antes de entrar em minha sala ao lado de Laura que me olhava assustada.

— O que eu vim fazer aqui? Eu quero minha casa. — Resmungou mais uma vez Laura, eu a peguei no colo colocando-a no sofá e liguei a televisão num desenho qualquer.

— É só hoje! — Disse um pouco irritado e ela me fuzilou com os olhos.

Fui até minha mesa colocando minha maleta em cima da mesma e me sentando na minha enorme poltrona. Analisei todos os papeis haviam ali com cautela e atenção.

Escuto alguém entrar e ao olhar era Catalina, minha assistente pessoal, a mesma que foi motivo de uma das minhas traições.

Respiro fundo.

— Seja bem vindo de volta Sr. Callegari. Fico feliz por sua volta e...

— Você está despedida. — Interrompi seu falso discurso e ela seus olhos se arregalaram.

— Mas...

— Só saia sem fazer barulho porque minha filha está dormindo. — Digo voltando meu olhar aos documentos que precisava assinar — Se puder trazer um cappuccino para mim antes de ir embora, ficarei grato.

Mesmo sem olhar para ela sabia o quanto estava com raiva e isso me deixa feliz porque percebo o quão é bom estar de volta à rotina.

Escuto baterem na porta e ao olhar vejo Christian entrar, o mesmo que além de considerar um irmão também é meu colega de trabalho.

— Laurinha ainda está usando isso? — Perguntou se referindo a cadeira de rodas enquanto vinha até mim e se sentava na poltrona em minha frente.

— Infelizmente mas o médico disse que daqui à alguns dias o tratamento vai terminar — Suspiro o olhando e ele assente.

— Mas e você irmão? como está se sentindo?

— Acho que incompleto definiria bem minha situação e eu tenho certeza que a minha vida toda vai ser assim.

— Não vai, algum dia essa dor que você sente irá sumir. O que aconteceu foi realmente trágico mas vai te ensinar a ser alguém melhor, ou pior. — Disse ele abrindo uma das garrafas de whisky, enchendo um copo e me entregando — Vamos seguir em frente meu irmão.

— Sim — Suspiro e ficamos em silêncio por alguns segundos — Eu preciso de uma nova secretária, demiti a que eu tinha e provavelmente demitirei algumas outras.

— Por que? — Ele me olhou sem entender.

— Ela e algumas outras mulheres daqui me fazem lembrar do quanto eu fui um lixo com a minha mulher e me sinto pior só de ver elas sorrindo ou dando em cima de mim como se fosse ter chance comigo. — Disse dando um gole em minha bebida e Christian concordou se levantando.

— Bom, agora eu tenho que voltar ao meu trabalho. Precisa de algo?

— Preciso que você avise que precisamos de funcionárias novas até hoje. — Disse e ele assentiu saindo da sala.

Continuei meus afazeres que por sinal era uma das partes mais chatas de ser dono de uma das maiores empresas do país.

Fiquei nisso por mais ou menos uma hora até receber uma ligação avisando que já havia muitas candidatas para subir.

Depois de diversas entrevistas, eu já não aguentava mais, o melhor é que só faltava mais uma e depois dessa pretendia levar Laura para passear.

Escuto baterem na porta.

— Pode entrar. — Digo num tom rude.

— Com licença. — A mulher alta dos cabelos castanhos entra fechando a porta e se vira para mim. Droga. Aquilo só podia ser brincadeira daquelas de muito mal gosto. Sua semelhança com a minha falecida esposa era surpreendente, desde os pés até o último fio de cabelo. — Sr. Callegari? — Disse ela me fazendo despertar do transe.

— Como você se chama e porque gostaria desse emprego? — Perguntei cruzando os braços e a olhando com seriedade.

— Sou Isabella Portman — Respirou fundo — Gostaria de conseguir esse emprego porque sei que é uma grande oportunidade, é algo que quero e preciso muito pois estou desempregada à algum tempo o que dificulta muito para pagar o aluguel do meu apartamento entre todas as outras coisas que...

— Ta... Ta... — Disse revirando os olhos e a interrompendo — Você está contratada.

— Isso é sério? — Perguntou ela extremamente surpresa colocando suas mãos sobre sua boca que havia um enorme sorriso.

— Não querida, é que nesses meses tem sido muito difícil então resolvi fazer uma brincadeira com a sua cara. — Disse irônico e sua feição mudou totalmente — Não me faça perder a paciência que me resta. Então se eu disse algo, não me pergunte se é sério ou... — Sinto meu celular vibrar com uma ligação e atendo o mesmo tendo a notícia de que teria uma reunião de emergência e eu precisava comparecer. Bufo desligando. — Você vai começar hoje, para ser mais exato, agora.

— Tudo bem. — Ela sorri me olhando — O que devo fazer?

— Cuidar da minha filha de seis anos — Aponto para a mesma que se remexia no sofá — Leve-a para tomar sorvete e faça tudo aquilo que ela pedir, caso o contrário, você está fora.

Quando conheci Ella - Duologia CallegariOnde histórias criam vida. Descubra agora