Capítulo 15.

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Enzo Callegari.

Abri a porta do meu apartamento com certa rispidez enquanto Marie Calazans vinha logo atrás de mim, deixando que diversas coisas desnecessárias saíssem de sua boca.

Larguei minha maleta no sofá e fui até minha estante de bebidas pegando uma garrafa de bourbon e despejando num copo.

— O que você está fazendo com sua vida, Enzo? — Gritou ela.

Eu sentia meu sangue ferver como um sinal de que eu iria explodir à qualquer momento.

— Eu estou apenas vivendo, Marie — Disse no mesmo tom que ela.

— Vivendo? Quem deveria estar fazendo isso era minha filha, que por sua culpa não está mais aqui.

— Já chega, Marie! Eu não vou deixar que você grite comigo na minha casa, onde você não é ninguém — Coloquei o copo na mesa me aproximando dela — Para ser sincero, eu já estou farto de suas acusações.

— E eu estou farta de você se passar como vítima de toda essa história.

— Elena morreu e por mais que doa admitir foi porque chegou a hora dela, não fui eu quem fiz ela bater o carro e muito menos pedi para ela sair de casa no meio daquela tempestade — Disse já com lágrimas nos olhos.

— Mas foi você quem a traiu enquanto ela esperava mais um filho seu.

— Não....

— Você nunca foi homem suficiente para ela!

— Mas eu a amava, eu juro que a amava... — Minhas lágrimas saiam sem permissão e mais uma vez senti meu coração doer excessivamente.

— Você não ama nem a si mesmo, quem dirá ter amado ela. Para mim, você é um monstro, um enorme encosto, que surgiu nas nossas vidas somente para atrapalha-las — Ela cuspiu aquelas palavras em meu rosto — E eu faço questão de te lembrar, todos os dias, o quanto desejo que você seja extremamente infeliz.

— SAIA DAQUI AGORA!

Gritei recebendo em seguida um tapa forte em meu rosto, fazendo com que eu perdesse as forças caindo de joelhos no chão da sala.

Vejo a porta abrir e era minha mãe juntamente de minha filha, elas entraram enquanto eu não conseguia me desvencilhar daquele maldito choro.

— Filho? O que aconteceu? — Minha mãe correu até mim me abraçando mas logo soltou ficando frente a frente com Marie — Qual é o seu problema?

— Meu problema é seu filho.

— Deixa ele em paz e volte para sua vida, não me obrigue a te tirar daqui à força pois eu garanto que não vai ser nenhum pouco legal.

Marie encarou minha mãe por um certo tempo e saiu da sala batendo seus saltos, sem nem ao menos cumprimentar sua "querida" neta, Laura.

— Mãe... — Disse me levantando com sua ajuda e me sentando no sofá.

— Não, meu filho. Você não deve se culpar, eu acredito na pessoa que você é e na que está se tornando, então não deixe que ela te culpe dessa forma.

Suspirei assentindo e em seguida sequei as lágrimas do meu rosto. Laura se aproximou empurrando sua cadeira de rodas parando em minha frente.

— Te amo, papai — Disse ela de uma forma tão doce e me encarando com um sorriso meigo nos lábios.

E mais uma vez senti as lágrimas virem mas dessa vez era de felicidade por ter restado a melhor coisa que eu já fiz, minha pequena Laura.

— Também te amo, filha — A peguei no colo, deixando-a ao meu lado, logo a mesma se aninhou em meu abraço.

(...)

Senti o sol bater em meu rosto e me levantei do sofá indo até a cozinha preparar algo pra eu comer.

E mais uma vez, eu não consegui dormir, passei a noite toda pensando em tudo o que havia escutado e minha consciência pesou e pesou ainda mais pelo fato de estar sentindo algo por Isabella.

Quem em sã consciência faria isso? Ainda mais após de perder sua mulher num acidente, de onde ela estiver deve estar me odiando assim como sua família, assim como sua mãe.

Estou sem ânimo, é como se toda a dor que senti à quase dois anos estivesse de volta, ainda mais forte.

Termino de tomar me café e vou direto ao banheiro, tomando um banho quente, deixando a água levar todo o sentimento ruim que havia em mim.

Logo após me arrumo indo até o quarto de Laura depositando um beijo em sua testa e em seguida na de minha mãe que dormia ao seu lado.

Sigo meu caminho até o saguão do apartamento onde esperava um táxi, que assim que chegou eu entrei, mudando totalmente a rota e ao invés de ir para minha empresa, pedi para que me levassem para o cemitério.

Aquela era a primeira vez que eu ia visitar o túmulo de Elena, sim, apesar de tanto sofrimento eu não conseguia ir até lá após seu enterro.

Depois de alguns minutos o táxi estacionou, paguei para o motorista e desci abotoando meu terno.

Passei numa floricultura que havia ali, comprando três girassóis pois eram suas flores favoritas e segui andando por diversos túmulos com um aperto enorme em meu coração.

Sinto meus olhos marejarem ao ler a lápide com o nome de Elena Calazans.

Me agacho colocando as flores em cima de sua sepultura e permaneço ali.

— Tenho a certeza de que você deve me odiar, independente do lugar que estiver sei que está me ouvindo pois eu acredito nisso. Sei que não fui um bom marido enquanto você estava aqui, mas eu também sei o quanto te amei Elena, sim, eu amei cada pedacinho seu, me apaixonava todos os dias pelos seus detalhes e manias — Enxuguei a lágrima que escorria em meu rosto, respirando fundo — Sei que dai de cima você está observando tudo, o quanto nossa Laurinha está esperta e cada dia mais linda. É óbvio que você já deve ter visto mas eu conheci uma mulher, o nome dela é Isabella e ela é incrível da cabeça aos pés, me faz lembrar da pessoa boa que existe dentro de mim, ela vê e acredita no meu melhor. Porém, tenho medo, muito medo de destruí-la assim como fiz com você. Algo me diz que devo arriscar, devo deixar que o que eu sinto por ela fale mais alto e me permitir ser feliz mais uma vez. Só que dói tanto lembrar de você quando estou ao lado dela, me lembrar do quanto te fiz mal e o que você irá pensar de mim, será que existe alguma possibilidade de você me odiar ainda mais? — Soltei um riso em meio a lágrimas — É, Elena Calazans, apesar de nossas desavenças e de todo o resto, você foi o meu primeiro amor. Você me deu meu maior e melhor presente, você foi quem causou uma enorme bagunça em meu coração mas infelizmente não teve tempo de arrumar. Eu prometo que sempre me lembrarei de você sorrindo, de suas conquistas e da pessoa que era e mais uma vez, te peço perdão por todo o mal que lhe causei! E agora, se você realmente estiver me escutando, queria saber se irá me permitir seguir em frente pois já não aguento mais essa culpa me enfraquecendo todos os dias, tenho consciência dos meus erros e carregarei isso comigo todos os dias. Caso me permita e ache que tenho o direito de seguir em frente, por favor, me mande um sinal, um que toque em meu coração de uma forma que eu tenha certeza de que foi você.

Suspirei me levantando e olhando para o céu.

— Por toda a minha vida, levarei uma parte de você comigo. Obrigado, Elena.

Continuei parado no mesmo lugar, em silêncio apenas tentando sentir sua presença junto à mim.

Pois não tenho dúvidas, que de alguma forma...

Ela estava ali.

Quando conheci Ella - Duologia CallegariOnde histórias criam vida. Descubra agora