Isabella Portman.
Nos sentamos em uma das mesas da enorme sorveteria, olhei para garotinha e sorri mesmo sabendo o quanto ela estava odiando estar ali comigo.
— Vai querer sorvete do que?
— Chocolate. — Respondeu ela sem me olhar e eu assenti chamando o garçom e fazendo nossos pedidos.
Não demorou e logo nossos sorvetes foram entregues, ela me olhou.
— O que foi?
— Eu não queria de chocolate, eu pedi flocos. — Respondeu batendo na mesa atraindo olhares para nós.
— O que? Não, não, você quis esse!
— Mas não quero mais. — Bufou fazendo bico e eu respirei fundo.
Não posso me deixar levar por uma criança fazendo birra, apesar de não ser acostumada com isso, sei que não fiz nada de errado.
— Tudo bem. Quer que eu peça o de flocos?
— Eu quero ir pra minha casa, eu quero minha mãe. — Seus olhinhos grandes esverdeados já estavam marejados, fazendo meu coração apertar.
— Agora não dá, quando seu papai voltar, você vai pra casa. — Ela assentiu — Agora toma seu sorvete.
— Eu quero o seu. — Murmurou olhando o meu de morango com calda de chocolate, suspirei.
— Vou pedir um igual pra você. — Sorri e ela arregalou os olhos com a feição enfurecida.
— Eu quero o seu. — Assenti trocando nossas taças e ela sorriu comendo tudo quietinha.
(...)
— O seu papai vai demorar para chegar, enquanto isso vamos ficar aqui no parque. — Disse sorrindo e posicionando sua cadeira de rodas em minha frente. — Está com fome?
— Não, essa já é a milésima vez que você pergunta isso. — Resmungou cruzando os braços.
— Então tá bom — Ri fraco a encarando — O que você gosta de fazer zangadinha?
— Eu gosto de desenhar.
— Sério? Que legal, já eu prefiro pintar.
— Você tem alguma cor favorita?
— Gosto bastante de vermelho e você? — Respondi feliz por ver que ela estava parando de resistir à conversar comigo.
— Azul, porque me lembra o céu e ele me lembra minha mãezinha.
Fiquei alguns segundos a observando sem saber o que dizer apesar de ter passado pela mesma situação quando tinha doze anos de idade.
Meu pai morreu de leucemia, sofreu por muito tempo até falecer, o que acabou deixando não só eu mas toda a família abalada por ver seu sofrimento de perto. Até hoje eu não supero o fato de te-lo perdido tão cedo mas sei que apesar disso ele estará sempre ao meu lado.
Ver essa garotinha tão nova com essa ferida extensa em seu coração, me vem uma enorme vontade de chorar, mesmo que ela tenha um pai rico e seja reconhecido em todo o mundo por suas empresas, faz falta ter um aconchego, um outro refúgio como o de sua mãe que hoje não está mais aqui.
— Ela deve estar muito orgulhosa lá em cima por ter uma filha tão linda como você. — Disse a olhando brincar com sua cadeira de rodas.
— Sabia que você me lembra ela?
— Eu? Por quê?
— Acho que é por ser muito mandona e o cabelo de vocês é igualzinho — Completou com um sorriso.
Sempre vi Laura e seu pai em todo tipo de revistas e jornais, eles eram realmente conhecidos em diversos lugares, inclusive sua mãe, Elena Calazans que era modelo fotográfica e muito bonita por sinal.
Seus olhos eram castanhos e o cabelo no mesmo tom, sua beleza era estonteante e natural, o que me deixa bastante honrada por ter sido comparada à ela por sua própria filha.
Sua morte foi algo que chocou a todos em qualquer lugar. Esse era um dos assuntos mais comentados, porém, cada vez se tornava mais triste abrir algum site ou ligar a televisão e se deparar com essa notícia. Sempre me perguntei como sua filha e seu marido se sentiam, e hoje, depois de um ano, vejo o estrago nos olhos de cada um.
O coração de Laura deve estar tão afetado quanto de seu pai pois ela quem estava no carro quando todo o acidente ocorreu e é por conta do impacto que sofreu tanto físico quanto psicológico à deixou de cadeira de rodas, em alguns sites dizem que é algo permanente já em outros que é só até ela estar apta a voltar sua rotina normalmente.
— Então tá bom, muito obrigada Laura — Dei uma risada e ela me acompanhou.
— Até que você não é chata, tia Bella — Ao ouvi-lá dizer isso, meu coração se derreteu.
— E você não é tão teimosa quanto eu pensei.
— Papai que fala pra eu ser chata com as suas colegas de trabalho — Ela deu risada e eu sorri.
— Só pode ser chata com aquelas que também são.
— Então não vou ser mais com você, tá bom, tia? — Disse ela e eu acariciei seu rosto que continha algumas sardas.
— Ta bom, zangada.
— Está sentindo falta da escola? — Perguntei e ela riu mais uma vez.
— Só das minhas coleguinhas mas às vezes meu papai me leva pra brincar com elas, quando minha mamãe estava aqui comigo ela adorava brincar de boneca com a gente. — Suspirou ela — Sinto falta dela mas sei que não me abandonou.
— Não mesmo zangadinha e você tem seu papai para cuidar de você.
— Eu amo tanto ele mas as vezes sinto um pouco de raiva — Suspirou mais uma vez olhando para o chão.
— Raiva? Por que?
— Sim, mamãe e meu irmãozinho morreram porque papai traiu ela.
E naquele momento meus olhos se arregalaram numa forma extremamente surpresa, ainda mais por ver uma criança dizer algo desse tipo sobre seu próprio pai.
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Quando conheci Ella - Duologia Callegari
RomanceLivro 1. Enzo Callegari é dono da maior empresa de Seattle, sempre foi um homem cobiçado mas se tornou ainda mais desde que perdeu sua esposa num drástico acidente, deixando-o sozinho com sua filha de seis anos. Com todo o arrependimento resolveu fe...