Cuidando da vida dos outros

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O tempo costuma passar mais devagar quando estamos entediados.

Não é esse o caso. Descobri que ficar enchendo a barriga e cuidando da vida de outras pessoas é até divertido.

São 11 horas da noite.

Já foram três copos de sucos, um prato de salada e vários encontros estranhos. Ou talvez seja só minha percepção errada de encontro, já que eu nunca tive um. É estranho, eu sei.

A garota à minha frente teve que esperar mais uns bons minutos até seu acompanhante chegar, eles conversaram uns dez minutos aqui e ele quis ir embora e ela foi com ele, provavelmente a um lindo lugar super romântico, ou talvez a um motel.

Vejo o garçom que carrega a década de 90 no nome recolhendo os copos de uma mesa no canto oposto da minha. Acho que ele ficou irritado comigo, já que todos os meus outros pedidos foram atendidos por uma mulher sem sal e com cara de nojenta, que ainda por cima, mascava um chiclete de forma irritante.

Ergo o braço com a intenção de chamar sua atenção. Ele me olha e abaixa a cabeça de novo, concentrado no seu trabalho.

Teremos que fazer uma breve cena?

Ele me olha de novo e dá um longo suspiro, por fim, vem em minha direção.

Sem cenas.

- Senhorita, deseja alguma coisa? - Pergunta, olhando pro caderninho.

- Uma informação. - Digo, bancando a negociadora.

Ele me olha com uma sobrancelha erguida.

- Você é da polícia? Ou é uma louca demente que fugiu do hospício? - Ele faz um pausa e coloca a mão no queixo, como se estivesse analisando a situação. - Aposto na segunda opção.

Reviro os olhos.

- Nenhuma das alternativas. Sou uma pessoa que precisa muito fazer uma coisa muito importante pra si mesma e você, como boa pessoa que parece ser, vai ajudar. - Falo, usando meus ótimos métodos de persuasão.

Ele me olha com expressão desconfiada e senta na cadeira a minha frente.

- O que você quer?

- Quero te fazer algumas perguntas sobre seu ambiente de trabalho, mas precisamente sobre o que acontece nele. - Digo, preparando-me para escrever.

- Certo. - Ele fala meio confuso. - Primeiro, vou fazer algumas observações: Você deve ser muito amargurada pra ter ficado a noite inteira sentada com a companhia de um computador, você tem um senso de humor detestável e se acha a dona do mundo e você é uma jornalista. ꟷ Ele conclui, com um sorriso no rosto.

Fico em silêncio, encarando-o. Não sou amargurada e nem me acho a dona do mundo.

- Vou ignorar tudo o que você disse. - Digo, olhando pra tela do meu computador. - Por que as pessoas escolhem esse lugar para encontros?

- Porque é um lugar destinado a encontros, tem um ambiente apropriado com uma iluminação que inspira romance e mesas que tem um formato certo para que as duas pessoas fiquem próximas o suficiente. - Ele fala, olhando pro ambiente do restaurante.

Também dou uma observada e constato que é tudo da forma que ele descreveu, inclusive, as mesas que deixam as pessoas bem próximas.

Afasto minha cadeira um pouco da mesa e ele ri, parecendo entender a situação.

- OK, continuando. Apesar de ser um lugar apropriado para encontros, os casais não ficam muito tempo aqui, por quê?

Ele começa a rir, quase derrubando o copo em cima da mesa.

Match Perfeito - (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora