Do início

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Isabela usa sua gratuidade todos os dias para ir a seu colégio no Bairro da Marmota. Seu colégio não é lá muita coisa, é uma escola pública que sofre com a presença de crianças feias e má gestão da diretoria. Mesmo assim, precisa pegar um ônibus para chegar até lá. Já não se lembra mais quando começou a ir à escola sozinha. Sua mãe a acompanhava segurando seu pulso firmemente nos balanços do automóvel público. Noutro dia, já não estava mais lá. Estava sozinha para enfrentar a urbanidade selvagem de sua cidade. Nem tão sozinha.

Isa quase sempre o vê no ônibus que pega. Não sabe nada sobre ele, a não ser que ele estuda em um dos colégios particulares da região; mas, sempre que o vê, seu coração acelera. E quando não, bate uma aflição. Por que ele não está aqui? Será se perdeu a hora? Será se dormiu demais? Será se? Achou nele um depósito de sentimentos, jamais proferidos para alguém próximo, só os meninos da rua, sua família, e aquelas meninas estranhas com quem conversava na internet.

Mesmo que estivesse encantada, não sentava perto dele. Ao passar a catraca, tremiam os braços, tremiam as pernas. O assento ao lado estava vazio, mas não houve tempo para se decidir, olhos a cercavam. Isa optou por sentar um pouco mais para trás, quase que no automático. Ele costumava sentar nos bancos da frente, lançando olhares que adejavam quem entrava e quem passava pela janela do ônibus. Se o encarava, a boca abria lentamente, como se buscasse ar para respirar. Os olhos viravam para o lado rapidamente e a cabeça se abaixava, enquanto a boca tornava a fechar. Ela já percebeu que ele leva uma das mãos ao nariz quando ela passa por ele, mas nunca entendeu.

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