Portas trancadas, nenhum sinal de arrombamento, nenhuma testemunha.
O edifício Belo Paraíso foi interditado.
O início da decadência se dá por um desaparecimento, seguido de uma série de acontecimentos macabros e sem explicação, que transformaram a p...
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O verão ia a todo vapor mesmo naquela hora da manhã. A alta temperatura não afastou os jornalistas da frente do prédio da delegacia, onde os moradores esperavam para prestar o depoimento.
O investigador encarregado do caso de desaparecimento de meses antes no mesmo prédio, massageava a cabeça com força. Os olhos fundos, rodeados por olheiras, encaravam o copo de café preto, tentando ignorar o barulho constante do ventilador, que sua mente já havia decorado.
Tec. Tec. Trec. Trac. se repetiam com suavidade pelo ambiente. Marteladas em uma mente cansada, ecoando por dentro do cérebro.
— Já descobriram que que aconteceu com o elevador? — perguntou, em tom monocórdico para o guarda que estava próximo.
— Não, tão mexendo no metal agora. — Carlos, o policial, bocejou. — Sorte que caiu no subsolo, lá que fica os poços, aí é úmido.
— Hm.
Tec. Tec. Trec. Trac.
O investigador tomou o resto do café, pegou a pasta de couro e abriu em cima da mesa. Encarou as fotos do apartamento, não havia nada lá. As portas trancadas pelo lado de dentro, nenhum sinal de arrombamento, nem de luta e os vizinhos não tinham escutado nada. Nada. A vítima tinha evaporado.
— As testemunhas já tão prontas? — perguntou, riscando o canto da página.
— Já, posso chamar? — o guarda falou devagar, esfregando os olhos.
Tec. Tec. Trec. Trac.
— Tá.
— Então vou chamar logo pra aliviar ali na frente, beleza?
Uma careta e um balançar de cabeça foi tudo que saiu do investigador. Passaria na padaria mais cara do centro quando acabasse o trabalho, pediria um capuchino com bastante creme para que pudesse aproveitar cada momento de degustação.
Pessoas entravam e saiam. Várias palavras foram ditas, palavras vazias de conhecimento. E ele continuava como estava antes, sem prova ou pista alguma. Suspirou, visitando o apartamento mentalmente, procurando algo que pudesse explicar o que havia acontecido. Sabia ser inútil, tinha feito aquilo tantas vezes que perdera a conta, ele e o delegado tinham desistido de tentar.
O guarda entrou na sala bocejando e, com tédio, comunicou a testemunha da vez.
— Vai entrar Eduarda Freitas Vasconcelos, ela chegou no prédio umas semanas antes da morte lá e teve o apartamento inundado.
Tec. Tec. Trec. Trac.
— Desaparecimento, Carlos. Sem corpo, sem morte, — corrigiu, sem vontade.
O guarda deu de ombros, saindo da sala de interrogatório sem pressa. O investigador respirou fundo algumas vezes, de olhos fechados. Escutou passos se aproximando da porta e, suspirando, abriu a pasta de fichas.