PrólogoO ar fresco da noite estava denso, quase opressivo em meio à multidão que se formava em frente àquele endereço. As sirenes soavam altas, luzes giravam com velocidade – vermelhas – em tons de aviso, escondendo a paz da noite e a beleza da lua cheia. Os vizinhos haviam saído de casa e os transeuntes paravam para perguntar ao mais próximo o que havia acontecido. Três viaturas e um caminhão de bombeiros se encontravam estacionados na frente da entrada do prédio, cercando todo o perímetro, onde os jornalistas se espremiam uns contra os outros, jogando propostas para os policiais e para os residentes.
Os moradores ainda saiam, sem entender o porquê de o N°347 da rua São Pedro estar sendo interditado. Eram levados a um canto para esperar a liberação da polícia chegar. Uma ambulância se encontrava ali e ninguém sabia para quê, o caso mais grave já havia ido há tempos.
Uma mulher se levantou e foi até os policiais, um pré-adolescente estava ao seu lado, com o olhar perdido e vazio e sorriso nos lábios finos. Os jornalistas entraram em combustão, a seguindo e tentando escutar o que ela falava.
— Eu quero saber se posso ir com meu filho pra um hotel até resolverem isso. — O cenho franzido e a expressão desconfortável não eram típicas de Alessia, moradora do décimo terceiro andar, e nem mesmo combinava com seu rosto delicado.
— Senhora, a gente tem que avaliar cês dois, é protocolo — o coronel falou, olhando para as câmeras com desconfiança.
— Eu me responsabilizo, ok? Nem pego o carro hoje, vou de táxi.
— Tem o testemunho ainda, senhora.
— Amanhã cedo eu vou na delegacia, mas eu tô com uma criança e acho que já foi bem ruim toda essa... bagunça que aconteceu.
Ele nem tinha muito o que fazer, não podia manter ninguém detido. Pegou uns papéis no carro e a mulher os assinou. O Coronel só percebeu a estranheza do garoto quando eles já estavam mais afastados, prestes a enfrentar a nuvem de urubus que rondavam a desgraça alheia.
Foi inevitável. O mar de piranhas carnívoras esperando pelo melhor pedaço da notícia atacou mãe e filho. Perguntas por cima de perguntas, palavras emaranhadas, sons dissonantes e nenhum piedade das almas atormentadas.
∞
[REC]
— Vai, filma, filma! Eles tão vindo aí. — A mulher magra e bonita, de terninho cinza, apareceu em frente à câmera, tentou se posicionar da melhor forma. — Boa noite, já passam da meia noite em horário local, aqui é Georgiana Mendes falando diretamente do edifício Belo Paraíso. O recente acontecimento forçou a polícia a interditar o prédio residencial Belo Paraíso, depois do desaparecimento, sem solução, de seis meses atrás, a estranha queda de um garoto num dos poços reservatórios de água há pouco menos de dois meses e, hoje, uma inundação causada pelo vazamento de um dos principais encanamentos do edifício alagou mais de sete apartamentos até o momento dessa entrevista, mas a notícia mais horrível é a de uma possível tentativa de homicídio. Ainda não temos informações oficiais, mas garantimos a notícia em primeira mão. — Ela sorriu para a lente escura. — Agora dois moradores estão saindo.
Georgiana se enfiou em meio aos outros jornalistas, abrindo caminho a cotoveladas, que recebia de volta sem remorso algum por parte dos colegas de profissão. Mas chegou.
— Filma, Vagner!
A imagem tremeu e a câmera foi levantada. A mulher, auxiliada por um policial, passava devagar e em silêncio, com os braços em volta do garoto em modo de defesa.
A balbúrdia impossibilitava que qualquer pergunta se fizesse viável. Com um urro a moradora parou, gritando por silêncio.
— Filma direito, Vagner!
— Eu vou escolher três de vocês e vou responder uma pergunta pra cada, depois vocês vão me deixar passar com o meu filho. — Não era um pedido.
Os jornalistas aquietaram os bicos e a mulher apontou para uma jornalista nova, com cara de adolescente.
— Você conhecia a vítima?
— Sim, morava no andar de cima e às vezes cuidava do meu filho.
Apontou para um homem mais velho de terno preto, Georgiana impediu que Vagner virasse a câmera para o lado dele.
— É aquele puto que pegou minha vaga na CBB, não dá ibope pra ele, filma só a voz — gesticulou ela sem emitir som, Vagner decidiu não corrigi-la e fazer o que era pedido, era melhor para seus ouvidos.
— A senhora desconfiava do ambiente familiar que se passava com a sua vizinha?
— Sendo bem sincera, nunca reparei em nada que mostrasse o... — A moradora parou de falar e rapidamente afastou o garoto de sua cintura.
Ele se inclinou para frente e a mãe o segurou antes que caísse. O rapaz vomitou água e bile, depois seu corpo continuou a convulsionar, sem mais nada para expelir. Uma baixa comoção veio da área das vítimas, uma mulher, sentada na mureta vomitava também. As câmeras se voltaram para o garoto, que mexia a boca com rapidez. Ninguém queria perder o show.
A mãe tentou o esconder de volta, mas ele empurrou sua mão e olhou para o prédio sorrindo.
Metal arranhando em metal. O som anormal cortou a noite alta, silenciando qualquer conversa ou pensamento. Parecia um grito, uma canção aguda, sibilante e não humana.
As lentes, dos olhos e das câmeras, viraram imediatamente para o prédio, bem a tempo de captarem o barulho se aproximar cada vez mais e sentirem o tremor abaixo dos pés chegando como uma onda, quando o fogo e o som da explosão atingiram o hall de entrada vazio com ferocidade.
Alguns se abaixaram, outros se jogaram no chão. E ainda teve os que assistiram com prazer a língua de fogo subir e diminuir, deixando suas marcas.
A bagunça se formou, mas o importante era que cada segundo estava sendo filmado.
∞
O delegado, que tomava notas com o policial sobre o acontecido, se assustou com a explosão. Olhou para a balbúrdia e confusão que se formavam, bufou, e ligou para seu investigador, Mauro Chagas....
Peço que façam críticas, eu as amo e adoro receber, por favor, vai me ajudar muito ♡♡♡
Até segunda que vem, com o primeiro capítulo :*
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Canções Submersas (AMOSTRA)
TerrorPortas trancadas, nenhum sinal de arrombamento, nenhuma testemunha. O edifício Belo Paraíso foi interditado. O início da decadência se dá por um desaparecimento, seguido de uma série de acontecimentos macabros e sem explicação, que transformaram a p...