Bem ao contrário de um mundo cinza, eis que agora um homem está lançado ao solo arenoso de um deserto, abaixo de um sol escaldante do meio-dia, sem uma nuvem sequer no céu para refrescar o seu dia.
Seu nome é Aldloc e se eu lhe disser que já fazem mais de dez dias que ele está caído ali, você poderia imaginar que não reside mais um pingo de vida em seu corpo.
Isso seria o mais lógico a se pensar, mas ele não é um homem comum e não será a temperatura elevada do deserto que colocará um fim na sua existência, mas concordo com você. É melhor que Aldloc se levante logo, pois ele tem um longo e perigoso caminho pela frente.
Vou usar da minha magia antiga para tentar despertá-lo, soprando algo em sua mente, que só eu e ele sabemos neste momento.
E não é que deu certo? Veja você mesmo!
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Com a cabeça pesada, como se tivesse dormido por décadas, Aldloc abriu os olhos e encarou o majestoso Sol que coroava sua cabeça. Estava exausto e teve grande dificuldade para se levantar e mesmo quando o fez, suas pernas bambearam e ele caiu de joelhos, fazendo uma careta de dor.
Para todos os lados que olhou, antes de tentar novamente se colocar de pé, viu somente areia e mais areia.
Com um novo esforço, respirando profundamente, se levantou e permaneceu um tempo parado, com os olhos fechados. Quando sentiu que as suas pernas estavam firmes no solo arenoso, abriu os olhos lentamente e pode reparar num objeto brilhante jogado a alguns metros à frente.
Caminhou até lá e descobriu um cantil prateado com uma adaga do lado. O toque no cantil quase queimou suas mãos e este se encontrava vazio, como Aldloc imaginou que estaria.
Colocou a adaga enfiada na tira de pano que segurava sua calça e começou a caminhar sem rumo, até que horas depois, próximo ao anoitecer, resolveu planejar o que faria para tentar salvar sua vida.
Só havia um deserto daquele tamanho em Hascob que se chamava Anmudi e ficava no hemisfério sul. Como ele tinha sido enviado para lá, na sua mente ainda era um mistério, mas tinha outras coisas mais importantes para resolver, como permanecer vivo, imaginou Aldloc, passando a mão nos lábios secos e desejando ardentemente ter água para saciar a sede enorme que sentia.
Sabia, por sua longa experiência como caçador, que permanecer sem comer por vários dias não seria um problema, mas o líquido transparente precioso não seguia essa regra e logo ele poderia ser tomado pela loucura que a falta da água em seu corpo causaria.
Recordava de contos antigos, onde os personagens haviam morrido de sede e não tencionava terminar igual a eles.
Olhou para o céu e começou a estudá-lo. Graças as inúmeras aulas de astrologia que recebera no passado por um de seus mentores do castelo do monte Frenno, conseguiu identificar as principais constelações e sabendo que precisava seguir para o norte, se levantou e reiniciou a sua caminhada.
Dormiu somente quando o dia amanheceu, colocando a adaga apontada na direção que deveria seguir. Horas depois se levantou, ainda mais exausto do que no dia anterior, e voltou a caminhar. Quase no fim da tarde, imaginou que uma ilusão lhe assaltava, quando avistou ao longe um pequeno ponto verde, com algumas árvores.
Pensou imediatamente em água e correu desesperadamente nesta direção. Agradeceu aos céus ao entrar no pequeno oásis e se deparar com um pequeno lago no centro.
Tocou a água com as duas mãos e lavou por um bom tempo o rosto, depois todo o seu corpo. Só depois de bem refrescado é que começou a beber dela com calma. Encheu o cantil que ainda trazia preso na cintura e escolheu uma sombra para se sentar.
Mal encostou a cabeça no tronco, uma tâmara caiu em sua cabeça e Aldloc não perdeu tempo e a devorou.
Transformou uma segunda blusa escura que vestia num tipo de bolsa e carregou nela vários frutos para a viagem, onde após se alimentar o melhor que pode, prosseguiu, após uma nova consulta às estrelas.
Vários dias depois viu uma pequena montanha que despontava no deserto. A conhecia de seus estudos como Madyazad e assim conseguiu ter um ponto de referência e determinar aproximadamente a distância que tinha que percorrer para escapar daquela vil armadilha, preparada, com toda a certeza, para destruí-lo.
Já estava anoitecendo e com cautela, seguiu até ela. Ao se aproximar de algumas rochas, percebeu que uma estranha luz redonda apareceu numa parede da montanha, com um símbolo desconhecido no meio, e então se escondeu. Desta luz que chegava a cegá-lo, tal a sua intensidade, viu brotarem diversos soldados com trajes escuros, trazendo armas e suprimentos.
Não demorou muito tempo para descobrir que eles estavam no seu encalço, pois um deles, o mais alto, que parecia ser o líder, deu as ordens para o grupo.
— Muito cuidado com o príncipe Aldloc. Ele vai parecer frágil e cansado, mas é um terrível inimigo de nosso mestre. Não tentem capturá-lo com vida!
Terrível inimigo? — refletiu ainda oculto atrás das rochas — Que mal será que eu lhes fiz? — Se perguntou Aldloc.
Imaginou que com a sua adaga não conseguiria enfrentar nenhum deles numa disputa corpo a corpo, mas como tinha certeza que deveria lutar pela sua vida, armou uma estratégia para apanhar um deles e utilizar a sua arma contra os demais. Era o máximo que conseguiria fazer naquela situação, concluiu.
Esperou que o grupo montasse o seu acampamento e quando eles se acomodaram, deixando alguns soldados de vigia, decidiu que ali seriam seus pontos vulneráveis. Quando teve a convicção de que a maioria deles dormia, resolveu agir, oculto pelas sombras da noite.
Não teve dificuldade alguma em cortar o pescoço do primeiro soldado e o arrastou para o lugar onde se escondera antes. Colocou as roupas deles, que ficaram um pouco largas, devido a sua escassa alimentação dos últimos dias, e se arrumou o melhor que pode.
Comeu mais algumas frutas e se posicionou no lugar do soldado abatido, imaginando que desta forma poderia se infiltrar no grupo, sem despertar a atenção sobre si.
Ficou ali como vigia durante quase a noite toda, este príncipe tolo, em vez de ter matado todos eles, um a um, enquanto ainda dormiam, enquanto ainda tinha uma vantagem sobre eles.
Mas é claro, ele não sabia ainda que não conseguiria enganá-los, pois diferente deles, Aldloc não fora marcado pela magia negra, cujo líder deles poderia distinguir facilmente, pois era um feiticeiro também. Não tão poderoso como o seu mestre, longe disso, mas forte o suficiente para ferir o prisioneiro do deserto.
Eu sei o que está pensando…
Eu sei que imagina que estou apenas conjecturando, supondo coisas…
Bem que eu gostaria de estar, mas não, tenho certeza de tudo que estou lhe dizendo, afinal, você já sabe, não é mesmo?
Eu estava lá!
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The Father
Mystery / ThrillerThe Father é, antes de tudo, uma história de amor, de dor e de superação, que ocorre num mundo fantástico, onde cada hemisfério do único continente conhecido é assolado por climas totalmente opostos e que servirão de lar para os dois personagens pri...