Finis

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Elfca seguia cansada, as pernas doíam, os pés estavam machucados pela longa caminhada com um calçado inapropriado.

O vento gelado insistia em dificultar a sua tarefa de chegar o mais rápido possível ao castelo escuro, pois sua intensidade impedia que ela continuasse no mesmo ritmo.

A guerreira sentia que o mago não lhe contara tudo e que algo de muito perigoso lhe aguardava em Connasjen. Sentia também em seu coração que esse perigo estava destinado a ela e ao seu amado príncipe.

Ao se lembrar dele, buscou em vão junto ao pescoço o colar que Aldloc lhe deu de presente. Foram as palavras de Ladallmus que lhe trouxeram as memórias perdidas de antes do feitiço que a aprisionou no deserto gelado.

— Por que não posso retornar ao monte Frenno e buscar ajuda junto ao rei para destruir Taberud? — questionou Elfca ao mago.

— Não conseguirá! Assim que ultrapassar a linha meridional, seu corpo será destruído. Isso faz parte do feitiço, que os ligou aos desertos...

Ela tinha certeza que havia mais algum motivo oculto, algo que Ladallmus não quis ou não podia contar, mas numa coisa Elfca concordou com ele: precisavam matar o feiticeiro ou ele, em suas inconsequentes ações, acabaria destruindo Hascob.

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Com o olhar lançado para o norte, Aldloc deixava suas marcas na areia do deserto.

O sol da tarde castigava o seu corpo, que pedia com ânsia mais um longo gole de água, um luxo que ele não podia dispor naquele momento.

Tinha que permanecer vivo e manter suas reservas de alimentos e do líquido precioso até chegar a Connasjen, onde, segundo o mago, enfrentaria o maior desafio da sua vida.

Ladallmus lhe contou os detalhes do feitiço que o prendera no deserto e ele também questionou sobre a possível interferência de seu pai para alcançarem uma vitória mais fácil sobre Taberud.

— O que o príncipe se recorda sobre as histórias que estudou sobre o feiticeiro negro?

— Que ele parecia ser invencível e mais poderoso do que qualquer outro ser, somente com a exceção de um...

— E é tudo verdade, Aldloc! Se trouxermos um exército liderado pelo Rei Rissam, Taberud o varrerá do continente, como se fossem simples cartas de um jogo empilhadas sobre um tapete. Só existe uma forma de destruí-lo...

— Tem certeza de que não existe outro caminho? — lhe implorou o príncipe, para quem o mago contara todo o plano sem ocultar nada, como fizera com a guerreira.

— Infelizmente não! Eu, sinceramente, sinto muito.

Ladallmus apelou para a nobreza e o amor que revestiam o coração de Aldloc, para convencê-lo a participar da importante tarefa que tinha pela frente.

— E depois? O que acontece?

— Isso eu não tenho certeza, só uma suspeita, mas prefiro não criar expectativas.

— Só me diga mais uma coisa: por que está agindo contra o seu mestre?

— Essa é uma boa pergunta...

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A pergunta do príncipe ainda se repetia na mente do mago quando acordou pela manhã e olhou para sua redoma mágica, onde imediatamente pode observar os dois seguindo rumo ao destino que ele havia lhes preparado.

No fundo de sua mente, Ladallmus imaginava que a melhor resposta seria que ele buscava a paz. Mas não a paz entre os povos, esse era um desejo impossível.

Conhecia muito bem a natureza humana devido a sua longa idade e sabia que isso era como a definição da felicidade, a qual não se podia ter de forma contínua, mas somente em algumas épocas.

A paz a qual se referia seria a de espírito, de uma que ele ansiava há muito tempo.

Sim! —  imaginou, essa era a melhor resposta para a boa pergunta de Aldloc.

Levantou-se e cobriu a redoma, depois foi acompanhar o trabalho dos construtores.

Ficou satisfeito com o resultado que eles conseguiram tão rapidamente. Realmente realizaram uma obra de arte.

Em poucas horas Elfca e o seu príncipe entrariam em Connasjen, cada qual por um dos portões, com o objetivo de chegar exatamente até ali.

Faltava somente o ingrediente principal para que aquele cômodo pudesse realizar a sua importante missão, então foi buscar Taberud e o trouxe até ali.

Quando o mestre chegou, passou alguns minutos observando orgulhoso aquela obra de arte, a qual trazia ainda mais beleza e força para a sua fortaleza.

— Como chamaremos esse local do meu castelo, Ladallmus? A ideia foi sua, então faça as honras...

O mago revirou os olhos nas órbitas, pensou um pouco e profetizou.

— Podemos chamá-lo de Finis!

Taberud riu e concordou.

— O quarto do fim. Excelente! Vamos gravar esse nome sob a escultura do centro.

Os dois entraram no cômodo e direcionaram a sua magia para a base do anjo esculpido, e o foram preenchendo com o poder de ambos.

No final a escultura brilhou intensamente e aos olhos dos construtores que observavam tudo de fora do cômodo, deu a impressão que por alguns segundos a obra ganhou vida, chegando a balançar suas asas.

Na sua base, como proferido pelo mago, a inscrição nomeando o quarto ficou gravada, impressionando o feiticeiro que saiu dali eufórico.

- Quanto tempo falta, Ladallmus?

- Falta pouco agora, mestre! Logo nossos convidados estarão aqui...

Taberud deixou o local rindo feito um doido enquanto o mago continuou contemplando a arte dos construtores.

Realmente essa foi uma das melhores ideias que eu já tive...

Mas o mais importante era o objetivo, que tiraria de uma vez por toda o sorriso do rosto de um ser só e o expandiria para muitos outros.

É claro que terei que mudar o nome do local, quando tudo acabar. Tenho vontade de fazer isso agora, mas que graça teria...

Afinal, Pacem será um título muito melhor...

The FatherOnde histórias criam vida. Descubra agora