A neve que caia no norte deixava a aparência de Connasjen ainda mais fascinante aos olhos de Elfca.
Ao longe a guerreira tinha a impressão de que o castelo teria sido esculpido dentro da cordilheira Sanrayna e se não fossem as suas formas retas e as pedras mais escuras que o erigiam, uma pessoa mais desatenta, pensaria que ambos eram parte de um mesmo monumento construído pelo homem ou até que fosse uma obra realizada graciosamente pelas mãos da natureza.
Do seu lado, com o Sol se pondo a sua esquerda, Aldloc teria uma visão maravilhosa do castelo, não fosse sua atenção estar voltada para os soldados que vigiavam o acesso sul de Connasjen.
O mago o havia alertado que este fato ocorreria e que não haveria uma recepção de boas-vindas o aguardando na porta.
— Muito ao contrário — dissera ele — Terão sorte se conseguirem chegar até a sala mágica.
No mesmo instante em que o príncipe ganhava terreno, vencendo o primeiro grupo de soldados que tentava bloquear a sua passagem, Elfca acabava de perceber que teria que usar sua longa espada para eliminar alguns inimigos, sob mais uma das inúmeras nevascas que a acompanharam por toda a parte norte do continente.
Esses inimigos, em número reduzido a pedido de Taberud e por orientação do mago, seriam somente para causar a impressão de uma defensiva do castelo, pois caso realmente quisesse impedi-los, era claro que ele mesmo estaria comandando um dos grupos de defesa, enquanto o mago conduziria o outro.
Segundo Ladallmus, seria importante enfraquecê-los ao máximo, para facilitar a magia preparada para destruí-los, mas necessitavam que os dois chegassem juntos até o ponto de encontro.
Quando a guerreira e o príncipe venceram seus obstáculos iniciais, cada qual avançou pelos muros do castelo escuro, onde um perigo muito maior os aguardava.
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Pela primeira vez em meses, o coração de Aldloc parecia querer saltar do peito, por sentir a presença ali dentro de sua amada Elfca.
Isso perturbou sua concentração e quase foi atingido por um soldado que se encontrava oculto atrás de uma das portas que atravessou.
Teve tempo e reflexo suficiente para esquivar-se de sua lança e usou a arma do inimigo contra ele mesmo.
Jogou esta arma no chão e seguiu, agora mais atento, empunhando a adaga.
Connasjen era enorme, cheio de corredores e escadas que levavam para outros níveis, mas a orientação do mago fora que seguisse sempre a esquerda e seria conduzido diretamente para o seu objetivo.
Para a guerreira que se livrara dos primeiros três soldados que entraram no seu caminho, a indicação era a mesma.
— Siga sempre para a esquerda e quando menos perceber, verá novamente o homem que procura...
— E o que acontecerá quando nos encontrarmos? — questionou Elfca quando dialogaram abrigados na caverna em que ela fizera Ladallmus de prisioneiro.
— Eu ainda não sei, mas saberemos...
— Por que devo confiar em ti, mago das trevas?
— Eu não disse que devia confiar em mim! Mas, se o quiser fazer, saiba primeiramente que eu não prático magia oculta ou negra e que o mais importante é confiar no seu próprio julgamento.
Tive que mentir um pouco para ela, é verdade, mas se falasse toda a verdade, será que a guerreira me escutaria?
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De locais ocultos, Ladallmus e Taberud, cada qual com sua própria redoma mágica, observavam o avanço do príncipe e da guerreira.
O feiticeiro os via como se eles fossem duas peças se mexendo num imenso tabuleiro, olhando-os de cima, aguardando seus próximos movimentos...
Já o mago apreciava vê-los caminhando um na direção do outro, numa visão dividida em sua redoma, com o olhar de quem ansiava ardentemente este reencontro.
Por decisão de Taberud, cada um deles ficou numa ala do castelo, com mais um bom número de soldados, para caso o plano desse errado, eles pudessem prender os invasores.
Eu tinha plena convicção de que isto não seria necessário, apesar de saber que todos seriam surpreendidos no final, inclusive eu...
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Após mais de uma hora enfrentando diversos inimigos, eis que Aldloc e Elfca, como movidos pelo acaso, chegaram num longo corredor, separados apenas por um cômodo no meio, construído com paredes de um material transparente que imaginaram ser vidro.
Graças a essa transparência, conforme avançavam estes últimos metros que os separavam, puderam se ver e iniciaram um passo mais acelerado, prejudicado pela aparição de novos soldados.
O príncipe notou primeiro a belíssima escultura em forma de anjo que existia no centro da sala mágica. Esta obra de arte tinha no mínimo três metros de altura e também foi construído com um material transparente.
A guerreira, mais detalhista, pode observar ao se aproximar que o anjo fora esculpido numa parede que dividia o cômodo, impedindo que o casal pudesse se tocar diretamente, algo que o mago já os havia alertado que não deveriam fazer de forma mais ampla, pois o feitiço de Taberud alimentava cada um deles com um tipo específico de energia da natureza, sendo a dela do Inverno e do seu amado Aldloc, do Verão.
Ele até se recordava das palavras de Ladallmus, mas a ânsia era tanta por reencontrar sua futura rainha que o príncipe, após vencer os últimos inimigos do corredor, entrou em grande velocidade no cômodo transparente e se lançou contra a parede aparentemente de vidro, tentando despedaçá-la.
Porém a parede se demonstrou ser feita de um material muito mais resistente e o impacto o fez cair de bruços no chão, de onde se levantou rapidamente, tornando a golpear a parede, que parecia agora ser feita de um material muito forte.
Ainda a golpeava, quando Elfca se aproximou e colocou a mão espalmada sobre ela e Aldloc parou no mesmo instante de tentar quebrá-la, com receio de machucar a guerreira.
— Meu príncipe! — disse ela com lágrimas nos olhos, enquanto ele imitava seu gesto e colocava também sua mão espalmada na parede, cobrindo a mão dela.
— O que fazemos agora? — perguntou ele ofegante.
Elfca olhou para a bela escultura e subiu no joelho dobrado do anjo, se agarrando na asa, onde encontrou uma cavidade com espaço suficiente apenas para esticar seu braço por ela, conseguindo chegar até seu ombro.
— Me ajude aqui! Vamos derrubar essa parede juntando as nossas energias — pediu a guerreira o olhando nos olhos.
Aldloc, num salto, subiu no colo do anjo e observou a pequena passagem redonda.
— Isto está parecendo uma armadilha...
— Sim, meu príncipe, e deve ser mesmo, mas que escolhas nós temos?
— Nós... nós podemos tentar fazer a volta...
— Não podemos mais — respondeu ela olhando atrás dele e vendo que inúmeras paredes transparentes subiam do chão.
Ele viu a mesma coisa acontecendo por onde ela veio, junto a vários soldados que saiam das laterais e lotavam o corredor.
— Minha amada Elfca, você sempre tem razão.
Dizendo isso, enfiou a adaga na cintura e colocou seu braço lentamente pela abertura.
Antes que eles se tocassem eu imaginei se poderia estar cometendo mais um erro.
Afinal, foram as falhas de um passado distante que os conduziu até ali.
E pela primeira vez tenho que admitir que eles não estão sendo tolos, pois não há realmente mais nada que eles possam fazer...
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The Father
Mystery / ThrillerThe Father é, antes de tudo, uma história de amor, de dor e de superação, que ocorre num mundo fantástico, onde cada hemisfério do único continente conhecido é assolado por climas totalmente opostos e que servirão de lar para os dois personagens pri...