Na linha meridional que divide o continente em dois, separando o Inverno constante do norte do Verão intenso do sul, existe uma imensa cordilheira formando uma parede vertical intransponível, a não ser pelo ar.
Para vencer este obstáculo e poder cruzar de um lado para o outro, existem somente duas passagens conhecidas e que ligam os dois extremos. A primeira é através do monte Frenno, vigiado dia e noite pelo exército do Rei Rissam, o local onde nossos dois prisioneiros dos desertos saíram.
A segunda passagem fica exatamente na linha meridional que divide o continente, muito a leste do monte Frenno, através de um castelo antigo, tido por muitos como desabitado, devido ao seu estado de aparente ruína.
O acesso sul deste incrível local fica após as areias do deserto Anmudi e na sua entrada ao norte se estende o segundo deserto coberto de neve.
Se este castelo um dia teve um nome, hoje poucos detêm este conhecimento, mas os antigos, assim como eu, o chamam de Connasjen, a morada de Taberud, pois foi construído por ele e para ele reinar.
Dizem as lendas que Taberud foi um famoso feiticeiro que, de tanto poder que acumulou ao praticar a magia negra, acabou enlouquecendo, e na sua ânsia de querer destruir o continente de Hascob, criou os dois desertos, que vestem o mundo conhecido de amarelo e branco. Dizem até que ele criou também a gigantesca cordilheira Sanrayna, que teria esse nome em homenagem a sua mãe.
Aparentemente a sua fúria foi iniciada quando sua genitora foi condenada a morte por um ancestral do Rei Rissam, pelo uso indevido da magia para assassinar aldeões.
A lenda rege que após Taberud criar os dois desertos e a cordilheira, acabou sucumbindo ao seu próprio poder e para alívio de muitos, desapareceu.
Na verdade, o feiticeiro somente ficou fraco demais e levou mais de um século recuperando a sua força vital, pouco a pouco trazendo vida novamente para Connasjen.
Um dos seus primeiros atos, assim que recuperou toda a sua energia mágica, foi justamente lançar um feitiço sobre o herdeiro do trono do monte Frenno e de sua amada e protegida guerreira, mas algo não funcionou como ele queria, pois assim que realizou o feitiço, cada um deles foi parar num dos desertos e agora ele aguardava ansioso o retorno de suas tropas, sentado no seu trono feito de ossos.
☸🔅☸🔅☸
— Ladallmus, preciso de você!
Num segundo o servo surgiu em sua frente.
— Em que posso servi-lo, mestre Taberud?
— Por que minhas tropas do norte demoram tanto para retornar de uma tarefa tão simples?
— Consultei o portal agora a pouco, meu senhor, e sinto trazer notícias não muito agradáveis…
O feiticeiro se levantou e a sua sombra preencheu toda a sala do trono.
— Fale de uma vez!
— No acampamento das tropas do norte vislumbrei a guerreira tomando posse dos pertences dos soldados de Connasjen.
— Aquela infeliz, miserável! Vá você, Ladallmus, monte outro grupo e resolva este problema para mim…
— Como desejar, meu senhor!
— Mas antes me diga: o que o Rei Rissam respondeu sobre a minha oferta?
Ladallmus fez brotar em sua mão uma carta com o selo real de Frenno e a entregou para Taberud, que após a ler, a sua raiva parecia lhe saltar dos olhos escuros.
— Então ele não se importa com o filho ou com a futura nora? Mas que belo imbecil ele é!
— Acredito que o Rei alimenta a esperança de que o mestre não retornou. Ou prefere não acreditar…
— Isso se chama medo, Ladallmus! Ele sabe o quanto poderoso eu sou…
— E misericordioso também…
— Sim Ladallmus! Por isso lhe pedi a sua rendição, pois não pretendo derramar sangue, não dos meus futuros escravos…
Taberud riu e enquanto seu servo se preparava para sair da sala envolta nas sombras, ele ainda o chamou mais uma vez.
— E os soldados que foram enviados para o sul? Alguma notícia deles?
— Nada ainda, mestre!
— Então, Ladallmus, você está incumbido de resolver as duas missões e não volte aqui sem uma solução…
— Farei o que ordena, meu senhor!
Taberud ficou só com os seus pensamentos, que eram muitos. Queria urgentemente tomar o monte Frenno e reverter a magia que usara no passado para criar a separação entre os hemisférios, mas segundo lhe instruirá o seu servo mais leal, a chave para isso era destruir Aldloc e Elfca primeiro.
O feiticeiro sabia que podia confiar plenamente em Ladallmus, pois fora este servo que o mantivera vivo por todos aqueles anos, enquanto ele se recuperava lentamente do feitiço que quase causara o seu fim.
No novo reino que imaginava criar, muito mais sombrio que o atual, Taberud tinha em mente que um segundo e menor trono deveria ser reservado para Ladallmus, que era tão poderoso quanto ele mesmo.
Esse último pensamento fez um sentimento estranho brotar dentro do feiticeiro, algo que ele não sentia há quase cem anos. Esse sentimento estava repleto de medo e Taberud jamais imaginou que voltaria a senti-lo.
Pensou melhor e concordou consigo próprio de que um segundo trono estava fora de questão. No fundo imaginava que no futuro somente um poderoso feiticeiro seria o suficiente para governar o continente de Hascob e esse alguém era ele.
Taberud riu do pensamento.
Eu não!
Aquilo me magoou profundamente…
Afinal, depois de tudo que eu fiz por ele...
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Father
Mystery / ThrillerThe Father é, antes de tudo, uma história de amor, de dor e de superação, que ocorre num mundo fantástico, onde cada hemisfério do único continente conhecido é assolado por climas totalmente opostos e que servirão de lar para os dois personagens pri...