Acordei ao ouvir uma voz alta, e aparentemente irritada, soar fora do quarto; Guilherme. Apertei meus olhos e esfreguei minhas pálpebras com os punhos enquanto soltava um bocejo.
Saí da cama ainda meio atordoada pelo sono, e calcei meus chinelos, procurando pela porta naquele quarto escuro (afinal de contas, ainda era de madrugada), e seguindo até a sala de onde Guilherme discutia com alguém no telefone.
Ele estava na varanda, de frente pra vista e de costas pra mim. Esperei pacientemente ele terminar com aquilo, até que ele finalmente encerrou a ligação. No momento em que ele desabou sentado em uma cadeira que tinha ali, levei como a minha deixa e me aproximei.
Ele estava com a cabeça entre as mãos, apoiadas nos joelhos, e eu toquei em seu ombro, o fazendo erguer seus olhos vermelhos na minha direção de modo surpreso.
Ele me abraçou no mesmo instante que eu me sentei em seu colo, prendendo minhas pernas com o braço direito e afagando carinhosamente minhas costas com o esquerdo, como se fosse eu quem precisasse de consolo no momento. Sorri reconfortante pra ele, enquanto pousava uma das mãos em seu peito e a outra se pendurava ao redor de seu pescoço.
Não falei nada durante alguns minutos, os minutos suficientes para que eu sentisse seu coração desacelerar, e quando as batidas que eu sentia contra a minha mão de normalizaram, perguntei.
-Era ele?- ele demorou alguns minutos até que por fim acentiu.
Nas últimas semanas, o pai (o biológico) de Gui têm ligado pra ele, tentando fazer contato com o filho que até agora estava esquecido.
-Ele vem pra cidade essa semana e quer marcar um jantar pra conversar comigo
-Bem, não há nada de mal nisso, é apenas uma conversa, certo?- comecei a acariciar seus fios de cabelo com as pontas dos dedos
-Ele quer que eu conheça a noiva dele- ele disse com pesar e eu deixei que o silêncio permanecesse- Me desculpa por ter te acordado...
-Shhh... Não se preocupa com isso- beijei demoradamente sua testa e logo depois o puxei, deitando a cabeça do mesmo em meu peito- Talvez devesse se encontrar com ele...
-Você acha?- ele perguntou com a voz abafada e eu acelerei minha carícia em seu cabelo enquanto apoiava o queixo no topo de sua cabeça
-É uma total hipocrisia da parte dele te procurar só agora depois de tanto tempo fingindo que você não existia... Mas se ele está te procurando talvez queira resolver as coisas. Ele é seu pai e querendo ou não ele sempre vai ser. É melhor resolver tudo agora do que adiar, alguma hora não irá adiantar de nada. Não pode deixar a mágoa e o orgulho dentro de você te impedir de se acertar com alguém tão importante.
-E quanto a noiva dele?
-Conheça ela, dê uma chance. Seja otimista! Veja o exemplo do Leonardo. Sua mãe se casou com ele, e hoje você ama seu padrasto, e o considera mesmo como pai. Ele é seu verdadeiro pai. Quem cuidou de você, te criou e te amou... E você ainda ganhou um irmão de brinde, olha só!- senti seus ombros estremecerem, sinal de que ele tinha rido.
-Sempre tive medo do que aconteceria quando eu reencontrasse meu pai... Com os anos a raiva que eu sentia por ele foi crescendo tanto, que eu cheguei a pensar que tinha virado ódio mas...não consigo odiá-lo, entende?
-Não, não entendo- respondi sincera e ele ergueu a cabeça para me olhar com uma sobrancelha arqueada. Eu sorri dando de ombros- O que foi? Eu realmente não entendo
-Esse não é um dos melhores consolos. Talvez seja o pior deles- balançou a cabeça rindo e eu acompanhei
-Bom eu não te entendo porque nem sequer tive a chance de ter qualquer tipo de problema com o meu pai- Gui parou de rir no mesmo instante e me lançou um olhar preocupado
-Oh meu amor...- ele ajeitou meu corpo encima de si e eu o cortei antes dele voltar a falar
-É por isso que eu acho que você deve ir falar com ele, Gui. Precisa esquecer o fato de que tem problemas com o seu pai, e se importar com o outro fato de que você têm um pai- abaixei a cabeça por um instante, fechando os olhos com força
-Ei...- ele subiu sua mão que estava em minha coxa para o meu rosto, erguendo o mesmo a altura do seu- Você é incrível. É a minha própria mulher maravilha. Além de ser a pessoa mais forte que já conheci- sorri pra ele tornando a fechar os olhos e ele encostou nossas testas- Obrigado, por tudo...- minha resposta foi apenas segurar seu rosto com as mãos e beijá-lo
-Eu posso não te entender, mas faço de tudo pra te ajudar, sempre- ele suspirou, e eu senti seu hálito batendo em meu rosto
-Vai comigo?- ele sussurrou com os olhos fechados- Para o jantar com ele...
-Até parece que eu cogitei a ideia de te deixar sozinho nisso- ele sorriu me abraçando com força e voltou a encostar nossas testas
-Eu te amo. Te amo tanto que... Droga, mulher! Você me tornou incapaz de viver sem você!
-Ótimo, não quero mesmo que você se afaste de mim
-Até parece que eu cogitei a ideia de te deixar sozinha- devolvi seu sorriso- Melhor entrarmos, tá frio aqui fora...
-Perdi o sono- fiz bico me deitando em seu peito e encostando a cabeça em seu ombro
-Eu também...- ele bufou
-Tive uma idéia- me levantei e entrei de novo
Fui até a cozinha a cacei uma garrafa de vinho pelos armários. Peguei uma das barras de chocolate da minha coleção na gaveta, e por fim peguei duas taças. Levei tudo de volta pra a varanda, e antes de me sentar, dessa vez em uma outra cadeira do lado do mauricinho, fui até o quarto e tirei a coberta da cama.
Quando cheguei na varanda outra vez, Gui já tinha aberto o vinho e enchia as taças. Me sentei na cadeira ao seu lado e coloquei as pernas no colo dele. Guilherme me olhou de um jeito do tipo "sua folgada", e eu lhe mandei a língua, logo depois cobri o colo de nós dois.
Bebemos vinho, comemos chocolate e conversamos enquanto as horas passavam, e quando percebemos, estávamos assistindo o sol nascer.
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Garota muito mais que Complicada. 2
Teen FictionContinuação de "Garota mais que complicada" Ela voltou E está mudada Não só a aparência Mas seu jeito de ser A garota de cabelo azul que conhecemos mudou bastante Por incrível que pareça está madura (pelo menos mais do que antes) Mas será que tudo m...