Essa é uma lenda urbana que tenho certeza que você já ouviu falar. De várias versões que já li sobre, essa é a que eu mais gosto.
Jean (não é seu nome verdadeiro) tinha um humor festivo, ou talvez tivesse algo a ver com a quantidade de caipirinhas que ele já tinha bebido. De qualquer maneira, ele, um divorciado de quarenta e oito anos, arrumou as poucas mechas de cabelo ainda tinha e seguiu a senhora para fora do bar.
No dia seguinte, quando Jean não retornou ao hotel, seus sócios chamaram a polícia. Eles contaram que Jean era um executivo de uma grande cadeia de supermercados, e acabara de fechar um acordo para exportar carne para os EUA. Era a última noite deles em São Paulo e estavam comemorando o sucesso da empreitada. Jean conheceu uma mulher muito bonita, tinha olhos escuros, pele branca, um sorriso arrasador e usava um vestido branco, simples, sem mangas e que ia até o chão. Os amigos de Jean não se lembraram de ela conversar muito, mas mesmo assim, todos a acharam encantadora.
A polícia já havia ouvido outras histórias semelhantes. Jean seria apenas mais uma vítima de Mulher de Branco.
A lenda
A lenda da Mulher de Branco começa em meados dos anos 1800, dentro da casa de um sapateiro. Sua loja ficava fora de São Paulo, mas ele sabia que se conseguisse abrir uma nova loja no coração da cidade, as pessoas perceberiam a qualidade de seu trabalho e ele não seria mais pobre.
Por muitos anos, ele fantasiou sobre sua nova loja, mas o pouco dinheiro que ele conseguia com sua atual loja, servia apenas para alimentar sua esposa e as cinco crianças pequenas. Era um homem cheio de sonhos, mas com pouca ambição, o tipo de homem que se queixa da vida e culpa os outros por isso.
A medida que os anos passavam, sua filha mais velha cresceu e transformou-se em uma bela garota. Ela tinha olhos lindos, pele lisa de cor caramelo, cabelos longos e encaracolados que dançavam na parte de trás de suas costas enquanto caminhava pelas ruas. Ela atraia a atenção de muitos pretendentes.
O sapateiro adorava muito a sua filha. De todos os seus filhos, ela era sua favorita. Era gentil e engraçada, e sempre que ela chegava à sua loja eles riam e compartilhavam histórias por horas a fio. Apesar de muitos homens desejarem ganhar seu coração, ela nunca havia manifestado interesse em se casar. O sapateiro se contentou em deixá-la continuar preenchendo sua casa e sua vida, com gargalhadas, e assim recusou todos os pretendentes que chegaram a pedir sua mão.
Uma proposta
Uma das maiores plantações de cana-de-açúcar no estado de São Paulo, ficava a três dias de distância da capital, tinha um dono que era conhecido por ser excessivamente cruel com seus escravos, e em todo o campo, haviam fofocas sobre as misteriosas circunstâncias em torno da morte de sua primeira esposa. O homem era pequeno, tinha olhos grandes e, mesmo não sendo muito feio, estava longe de ser bonito.
Ele viajava freqüentemente para São Paulo tratar de negócios. Em uma dessas viagens ele olhou para baixo e descobriu um pequeno corte em uma de suas botas. Decidiu parar fora da cidade para comprar um novo par de botas.
Foi assim que o dono da plantação de cana-de-açúcar chegou a loja do sapateiro. Enquanto ficou sentado em um banquinho, provando uma bota nova, notou quando a filha do sapateiro atravessou a porta e daquele momento em diante entrou em seu coração.
O homem voltou à loja todos os dias durante as próximas três semanas, trazendo presentes para a família do sapateiro, e especialmente para a filha. Nesse período, atacou o sapateiro com diversas propostas, oferecendo um dote maior em cada visita. O sonho do sapateiro em possuir a loja na capital começou a parecer real, mesmo que deixasse sua filha infeliz com futuro casamento.