Cemiterio Parque

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Durante mais de três décadas, todo dia 2 de novembro de cada ano, meu avô  João André  e minha vó dona Clarinda estavam presentes nas imediações do Cemitério Parque, vendendo as coroas de flores e velas aos visitantes que homenageavam seus ente queridos. Os dois eram muito conhecidos nas vizinhanças, moravam no Setor Urias Magalhães há muitos anos, portanto tinham muitas amizades e eram extremamente  respeitados  na região. No Dia de Finados o cemitério ganha vida, fica repleto de lindas flores.

Meu avô João André, já falecido, era um homem aguerrido, trabalhador, não escolhia serviço, sempre animado para a lida, homem simples, de grande conhecimento que a própria vida lhe deu, passou grande parte da vida vendendo churrasquinho nas festas da pecuária, Trindade e na Avenida Bernardo Sayão, no Setor Fama. Destemido, grande pai e avô, homem e tanto. Minha vó Clarinda, mulher do século passado, forte, formosura em pessoa, educação exemplar é uma de suas virtudes.  É um privilégio ser seu neto. Criou 11 filhos, mulher determinada, querida por todos, hoje com mais de 90 anos de idade, ainda conta causos que datam de bem antes do meu nascimento, memória incrível. Quero compartilhar algumas histórias deles com vocês.

O Cemitério Parque foi inaugurado em 1961 e ocupa uma área de quatro alqueires e meio. Situado entre os setores Urias Magalhães e o  Gentil Meireles, Ali foram sepultados, até o ano passado, 220 mil adultos e crianças, entre elas, a menina Leide das Neves, uma das vítimas do acidente com o Césio-137, ocorrido em 13 de setembro de 1987.

Seu João André e sua esposa dona Clarinda, meus queridos avós, fabricavam artesanalmente coroas de flores, e vendiam no Cemitério Parque, dias antes e no Dia de Finados.

No final do mês de outubro já armavam a tenda e colocavam as coroas em exposição. Meu avô João André me contou inúmeras histórias que ouvia das pessoas que durante esses anos visitaram seus entes queridos no Cemitério Parque de Goiânia.

Histórias intrigantes, histórias comoventes, lendas, histórias tristes, e até mesmo histórias engraçadas ele ouvia. Ele sempre me contava uma ou outra, eu ficava sempre atento, não queria perder nada, pois sabia que cada história tinha algo interessante e intrigante.

Ele me dizia que o Cemitério Parque sempre foi misterioso, repleto de lendas desde sua fundação. Com aqueles muros baixos que o cercam, as sepulturas de variados formatos e seu aspecto ímpar de lugar diferente, pra não dizer estranho.

Quase sempre, nos anos 60, 70 e 80 era fácil se deparar com objetos usados em “trabalhos” macumba nas imediações do cemitério, nos cruzamentos das ruas e avenida, os objetos deixados pelas pessoas da crença sempre chamavam atenção de quem por alí transitava.

Vô João André me dizia que o ano de inauguração do cemitério era um mistério. Segundo a lenda a data de 1961 somados os números, 1 + 9 + 6 + 1 = 17  e dezessete era não somente o resultado da aritmética. 17 Esse número revelava que todos os dias 17 de cada mês às 17 horas e 17 minutos acontece algo extraordinário naquele cemitério.

O silêncio toma conta do cemitério nesse dia e hora, dá pra ouvir o som do silêncio, acredita se, que as almas estão reunidas e de joelhos oram por Goiânia. Nem mesmo os pássaros que ficam nas árvores dentro do cemitério se movem, o respeito é notável e admirável, dizia ele.

Mas além dessa lenda das almas do dia 17, vô João André dizia que sempre ficava comovido com o texto do padre Juca, que  no Dia de Finados um homem, que não era da região declamava na entrada do cemitério. O texto era conhecido, mas o tal homem ninguém sabia sua identidade. O texo era o seguinte:

Há quem morra todos os dias.

Morre no orgulho, na ignorância, na fraqueza.

Morre um dia, mas nasce outro.

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