o chupa cabra

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Mas como esses animais foram confundidos com monstros extraterrestres? Segundo Radford, a razão era a perda do pelo por causa de sarna sarcóptica, provocada por ácaros, uma doença relativamente comum e capaz de deixar os animais com o aspecto monstruoso no qual se encontravam.

"Os cachorros sarnentos são quase carecas, com a pele muito grossa e num tom vermelho ou preto escuro", observa Alison Diesel, especialista em doenças de pele em animais na Universidade do Texas.

Se a esse aspecto são acrescidas feridas provocadas pela coceira, está formado o chupa-cabra.

E as vítimas?

Mas isso era só metade da história - ainda faltava resolver o mistério dos animais vítimas dos chupa-cabras.

E a resposta, mais uma vez, foi surpreendentemente simples. Os animais encontrados eram provavelmente vítimas de predadores comuns, como cães ou coiotes. Não é incomum um cachorro selvagem morder um animal no pescoço e depois deixá-lo.

Muitas vezes, o bicho morre com hemorragias internas, sem outras marcas além da mordida.

As marcas no pescoço costumam ser relacionadas com vampiros, graças à lenda do Drácula, mas os animais que se alimentam efetivamente do sangue de outros não agem assim, como observa o pesquisador Bill Schutt, do Museu de História Natural de Nova York.

"As espécies que sugam o sangue o procuram perto da superfície da pele, o que não é o caso da veia jugular, por exemplo", observa Schutt.

BENJAMIN RADFORD

Radford procurou evidências nas regiões em que o chupa-cabra teria supostamente atacado

Assim, se compararmos as características de animais vampiros, como os morcegos, e dos chupa-cabras, há poucas semelhanças.

Os vampiros, segundo Schutt, são pequenos e furtivos, com dentes especializados e um sistema digestivo que lhes permite extrair nutrientes do sangue.

Uma criatura do tamanho de um cachorro "morreria de fome rapidamente se alimentando de sangue", segundo ele, por causa da falta de nutrientes essenciais como a gordura.

Além da presença desses sinais de mordidas, Radford acredita que os rancheiros que encontraram os corpos dos animais atacados podiam atribuir a morte deles a um vampiro depois de examiná-los e cortá-los - e ver que o sangue não jorrava.

"Quando um animal morre, o coração para de bater e não há mais pressão sanguínea", explica. "O sangue se acumula na parte mais baixa do corpo e então coagula e se espessa. Isso se conhece como lividez, e dá a ilusão de que o sangue foi retirado do corpo."

Culpa do antiamericanismo

Mas se toda a mitologia ao redor dos chupa-cabras cai rapidamente por terra diante da investigação científica, por que a lenda permanece viva até hoje?

Pode parecer estranho, mas Radford aponta para o forte sentimento antiamericano em toda a América Latina como parte dessa explicação. Isso é particularmente forte em Porto Rico, protetorado dos EUA.

"Falei com vários portorriquenhos, que sentiam que os Estados Unidos os havia explorado, enganado e ignorado, economicamente e de outras formas", diz.

Muitos portorriquenhos acreditam que os chupa-cabras são outra indicação da exploração americana: seriam o resultado de experiências científicas ultrassecretas promovidas pelos Estados Unidos na floresta de El Yunque, não muito longe da cidade onde Madelyne Tolentino fez o primeiro relato sobre a criatura.

Outro fator é a internet. "Eu classifico o chupa-cabra como o primeiro monstro da internet", diz Radford. "Se o primeiro testemunho tivesse ocorrido em 1985, algumas pessoas poderiam ouvir falar sobre ele, mas a história não teria viralizado pelo mundo todo."

UNITED ARCHIVES GMBH

Filme 'A Experiência' teria inspirado visão do chupa-cabra, segundo Radford

Radford observa que o mito mudou rapidamente.

"O chupa-cabra original tinha espinhos nas costas e olhos grandes. Mas ao longo dos anos o conceito da criatura foi se expandindo, até o ponto de hoje qualquer cachorro sarnento ser chamado de chupa-cabra", diz.

"Hoje as pessoas vão ao Google e procuram 'animal misterioso que ataca as coisas'. E o mito se autoperpetua."

E o que explica o primeiro avistamento, em 1995? Foi inventado?

A resposta de Radford é igualmente inesperada. Ele observa que a descrição feita por Madelyne Tolentino era semelhante à do alien do filme A Experiência (Species, no original em inglês), que havia sido recém-lançado em Porto Rico - ela tinha assistido.

A trama do filme envolvia experiências científicas ultrassecretas dos Estados Unidos e foi parcialmente filmada em Porto Rico.

"Está tudo ali. Ela vê o filme, depois vê algo que confunde com um monstro", diz Radford.

Ele afirma, porém, não acreditar que os relatos sobre o chupa-cabra eram mentira, mas simplesmente o fruto de imaginações extremamente férteis.

"Do meu ponto de vista, não há absolutamente nenhuma razão para acreditar que algo fora do comum esteja envolvido nos ataques ao gado", conclui Radford.

A história toda não passa de uma grande confusão envolvendo confusão científica, identificação errada de animais, exagero da mídia, ansiedade cultural e histeria coletiva. Tudo isso como resultado da impressão que um filme de ficção científica deixou sobre uma mulher em Porto Rico.

Mas as revelações de Radford mostram ainda que, mesmo que a análise rigorosa, todas as pesquisas e toda investigação científica demonstrem que o chupa-cabra não passa de um mito, as pessoas gostam de histórias fantásticas e continuarão a contá-las, por mais estranhas ou inverossímeis que pareçam.

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