Sinto um arrepio no corpo do frio que faz lá fora. Decido tomar um banho e depois de secar o meu cabelo vermelho, vesti um top preto justo de mangas compridas e uma mini-saia de ganga num tom de preto mais fraco que o do top, calcei umas botas acima do joelho, também pretas com um pequeno salto, que estavam no chão espalhadas e vou até ao café do outro lado da rua. Não me posso demorar, não podia chegar atrasada ao primeiro dia na escola nova. A casa em que vivía estava a ficar muito cara por isso acabei por me mudar para aqui. Pego no meu café e saio apreciando o céu limpo. Vivo sozinha pois a minha mãe trabalha fora quase o ano inteiro, e o meu pai mudou-se, para bem longe daqui, com o novo namorado que me odeia, 2 anos desde o começo do seu romance e o meu pai começou a fazer-se de surdo cego e mudo enquanto aquele homem nojento me começou a maltratar sempre que eu ia lá a casa. Depois do meu café vou em direcção ao carro, conduzindo devagar até à escola. Não demoro a chegar, a nova casa é relatiamete perto, estaciono rapidamente e dirijo-me ao portão enquanto tiro um cigarro da minha mala vendo um oceano de pessoas a quase se espezinharem para entrar nesta escola. Acendo o meu cigarro e oiço uma voz grave atrás de mim pedir um isqueiro, não pensei sequer em dar-lhe importância atirando o meu isqueiro e esperando que este me fosse devolvido. Sinto o dono daquela voz a movimentar-se para a minha frente, estava todo de preto, era loiro com cabelo mais aos menos pelos ombros com caracóis, alto, tinha olhos azuis. Este misterioso rapaz atira-me o isqueiro e afasta-se ao sorrir e piscar o olho, comecei a rir daquela cena de fuckboy de 2015. Quando acabo o meu cigarro e oiço a campainha da escola tocar.
eu: Graças a Deus, cum caralho- assim que acabo a minha frase reponde-me mais um loiro que segundos depois se juntou ao outro rapaz e as suas amigas???: Não digas asneira.
Eu: what ...- sussurro para que mais nenhum loiro alto me dirigisse a palavra. Ia ser difícil visto que metade dos rapazes aqui são exactamente assim. Decido ignorar e ir até à sala.
--
As aulas acabaram à cerca de duas horas mas eu fui até à biblioteca começar a estudar já que não tinha nada mais para fazer. A minha frustração levou-me a sussurrar demasiado alto resultando na bibliotecária me mandar calar e umas miúdas se rirem do meu desespero na mesa da frente. Decido dirigir-me até ao café a que fui hoje de manha. Assim que me sento e ponho o meu café e livros na mesa, vejo um grupo enorme, tinha-os visto de manha a conviver no bar da escola. Eram os típicos machões e princesinhas. Uns olhavam para a mesa onde eu estava outros estavam completamente desinteressados.
--
Fiquei nesse cafezinho até as horas de jantar a ouvir musica e a escrever. Quando cheguei estava estafada do primeiro dia por isso decidi voltar a sair para ir ao mc, estava sem cabeça para cozinhar e sem mãezinha em casa é difícil resistir ao chamamento de fast food. A pensar já na comidinha, voei até ao meu carro e ao chegar ao meu destino e pedir aquilo porque ansiava à horas sento-me numa das mesas próximas da porta. Observo o restaurante atenta enquanto como o meu hambúrguer. Nada de mais acontecia, só famílias felizes, putos a berrar, namorados a comer mais a cara um do outro do que os seus hambúrgueres. Fiquei ali quase meia hora a olhar para aquela barafunda até que decidi finalmente levantar-me e ir até às mesas da rua com a minha coca-cola fumar um cigarro. Ao sair encontrei um pequeno grupinho numa mesa escondida a rir alto e fiquei com vontade de os conhecer. Era algo que faltava na minha vida, bons amigos. Claro que não me meti, nem tinha coragem de ir ter com eles. Ao chegar lá fora continuava presa no meu pensamento e quase me sentei ao pé de algumas pessoas do grupo que vi no café hoje à tarde. Também pareciam animados, falavam da escola, das suas conquistas amorosas e por não terem reparado em mim ouvi por alto uma das suas conversas.
Rapaz1: Já viste a miúda nova?
Rapaz2: Ya tava ao teu lado no café meu
Rapaz1: Eu sei que é o primeiro dia mas ela tava sozinha
Rapaz2: fosses para lá olha agora
Rapaz1: Achas? Tava lá a minha gaja. Tu é que podias ir
Rapaz2: Não fui eu que me queixei por ela tar sozi- São interrompidos pelo meu riso, as caras deles ficaram brancas por perceberem que eu estava umas mesas ao lado. Fingi que estava a rir-me de qualquer coisa no telemóvel. Ouvi-os a perguntar um ao outro se eu tinha ouvi o que me fez rir ainda mais. Acabei o meu cigarro pouco tempo depois de eles irem embora. Mas fiquei mais um pouco ali, talvez na esperança que o tal grupinho que estava lá dentro saísse.
--
É quase meia-noite e eu estou na varanda do prédio com um copo de vinho, um cigarro e o pc. A noite está linda e por incrível que pareça está quente mas isso pode ser só do vinho. Surgem-me imagens do dia de hoje, o que me faz beber ainda mais. Primeiro dia e não conheci uma única pessoa, ninguém alem de professores, o empregado do café e a senhora da biblioteca me dirigiu a palavra. Continuo muito entusiasmada sim mas no momento estou bêbeda sem nada para fazer e sem amigos. Decido pesquisar pela festa de que ouvi os dois rapazes falarem antes de eu ser o seu tema de conversa. Era uma festa aberta numa casa de um moço qualquer daqui. Por mais bêbeda que estivesse pensei duas vezes sobre ir ou não mas, como faço sempre, acabei por me ir maquilhar e ir até lá. Não tinha nada a perder.