Conduzia devagar, assustada com tudo o que tinha acontecido mas decidida a tentar por aquele estranho atrás das grades. Já no hospital depois de todos os exames e recolhimento de "provas", deram-me uma pílula do dia seguinte e depois de dar o meu depoimento a uma polícia bastante simpática, pude voltar para casa e finalmente lavar-me. Fumei mais um cigarro ainda a tremer e depois deste fiz o meu caminho até casa. Felizmente às 4h da manhã o loiro já dormia, ainda que no sofá. Tinha uma mensagem da Elsa que dizia apenas um ok. Fui tomar o meu banho e não vos posso mentir, chorei muito. Se antes muito pouca coisa fazia sentido então agora já nada o fazia. Sabia que não me poderia ir abaixo, pela minha mãe e pelos meus novos amigos também. Saí do banho ainda com dores decidida a não me ir abaixo. Não quis acordar o loiro mas não queria dormir, não conseguia. Pego no meu telemóvel e numa garrafa de vinho e vou até ao jardim. Estou completamente tapada devido às nódoas negras, nos braços e no pescoço. Choro um pouco mais, sem sequer tentar, apenas escorriam lágrimas e lágrimas. Eu bem tentei não fazer barulho mas foi impossível, o ódio tomou conta de mim. Atirei a manta para a piscina assim como uma cadeira. Arranquei as mangas da minha camisola e sem pensar atirei-me para a piscina, acordando o Lucas que se atira de seguida enquanto eu choro na piscina. "Calma Maya. O que aconteceu?" Ele tenta correr ate mim mas como estamos na água falha ao fazê-lo. Eu ignoro o loiro agora ao meu lado e cedo ao seu abraço. Não achava possível confiar alguém com as mãos no meu corpo... sei bem que da primeira vez não foi. Decido dar a backstory toda a Lucas, o único que a iria ouvir. "Começou a 5 anos a história" começo a falar aceitando sair da piscina e pondo uma outra manta a minha volta. Acendo um cigarro e ele faz o mesmo, ele entendeu pelo o meu olhar e obviamente pelas nódoas negras que seria algo difícil de falar. Demorei um bom bocado a retomar a historia mas assim que ganhei coragem não me calei. "Ele tinha mais ao menos 50 anos, eu tinha 14." Entre alguns cigarros fui avançando na minha história, deixei de fora os pormenores sórdidos, contando o facto de o meu pai não fazer ideia e ter implorado a minha mãe para não fazer queixa, já que não tinha doenças nem estava grávida. "Depois disso, não abracei ninguém, nem mesmo a minha mãe por 2 anos, bebia imenso todos os dias, e sim eu sei que bebo todos os dias mas antes eu ficava quase em coma todos os dias." ele estava chocado, caíam-lhe lágrimas e recusava-se a largar a minha mão, era estranho pois o seu toque não me incomodava. Finalmente cheguei a contar-lhe a parte de hoje, as lágrimas pararam de repente. Olhou para mim com raiva, de mim? Seria possível que o rapaz em que mais confio tenha raiva por eu ter deixado isto acontecer outra vez? "Quem? Quem foi o cabrão?" eu digo o mesmo que disse à polícia, a escuridão era imensa, não vi nem a cor do cabelo, apenas cheirei algo quase tóxico, um perfume que nunca tinha cheirado na vida e uma voz nojenta que nunca ouvi na vida. Ele finalmente conseguiu reparar no meu medo e voltou a olhar para mim com os mesmos olhos de sempre. Fiquei surpresa pois até a minha mãe me olhou com pena depois da primeira vez que isto aconteceu. Lucas limpou a minha lágrima que se havia soltado e pediu desculpa. "Quer dizer que não me culpas?" digo incrédula, sempre achei que se alguém além da minha mãe soubesse seria olhada como uma puta qualquer que não se deu ao respeito. "Achas? Não tens culpa ouviste? Não tens" desfaço-me em lágrimas enquanto ele me abraça e voltamos para a sala. Bem tento que vá dormir mas ele recusa-se a deixar-me sozinha. "Amanhã vais-me levar ao colo para as aulas? digo e finalmente solto um sorriso. "Só se pedires com jeitinho boneca".
São 7h da manhã e acordo com Lucas ao meu lado a ressonar. Vou tomar outro banho e sigo no carro até ao ginásio até as 8:30. Corro para fora do mesmo, e conduzo de volta a casa repetindo o banho. Com tanto calor senti duas opções pesarem em mim, morrer de calor ou admitir o que aconteceu aos meus amigos e ver a pena nos olhos deles. Optei pela segunda mas tentei esconder a maior parte das nódoas negras. Já me massacrei tanto antes, uma parte de mim sabe que não preciso de ter vergonha, que a culpa não é minha mas eu odeio só de imaginar a pena. Para minha salvação o Lucas deu-me uma camisola dele que tapava grande parte do meu braço, vesti umas calças e agora era só por umas pulseiras e não tirar o cabelo do pescoço e tudo ia correr bem. Como tinha aulas que acabavam muito antes das dele levámos cada um o seu carro. Chegámos rápido pois era relativamente perto e ficámos a fumar cá fora como sempre. Estava lá o Ash e o Calum, que me distraíram disto tudo. por uns minutos até soar o toque de entrada. Mais uma vez ia ter português e mais trabalhos iam ser apresentados, cheguei rapidamente à sala onde se encontrava o meu grupo de amigos. "Chegaste bem a casa?" ouvi de Kevin assim que cheguei lá. Isto já aconteceu uma vez e por medo e vergonha perdi todos os meus amigos, andei anos com companhias de mau gosto passageiras sem nunca ter feito um amigo, perguntei a mim mesma se queria mentir a pessoas que pareciam querer o meu bem e decidi mudar o padrão. Contei tudo mais resumidamente do que a Lucas e alem de lágrimas e abraços, não tinham pena. Estavam prontos a lutar comigo e foi aí que entendi que finalmente tinha pessoas na minha vida prontas para me amar reciprocamente. E, apesar disto tudo estava feliz. A cass ao abraçar-me disse "nunca penses que estás sozinha" e uma lágrima quis rolar pelo meu rosto admito, O kevin pediu desculpa apesar de não ter culpa assegurei-o de tal obviamente e o Scott apesar de não conseguir falar abraçou-me e não me deixou a aula toda. Fui para o lado do Ruivo para não ter que lidar com flirts desnecessários do Dave e quem tomou o meu lugar foi o Scott. Eu estava bem... e a adorar o gay flirt à minha frente. Parecia uma série, os olhares as piadas os toques discretos tudo era lindo de se ver e... engraçado. Até o Ruivo que nunca presta atenção a nada, reparou e tivemos um momento de pura diversão... até eu ajeitar o cabelo... "Quem foi o porco?" ele pergunta, parece zangado. "Não te preocupes, eu fui ao médico" digo quase como um reflexo. Ele parece confuso por uns momentos e apenas o oiço baixo a dizer não. Parece chocado, quase preocupado. "Desculpa eu... Desculpa. eu nem pensei que... Desculpa" asseguro-lhe que estou bem, deixo de parte o passado e ele acaba por mudar de assunto ao reparar que a mão de Scott está um pouco mais acima do que o esperado... sim, aí mesmo onde estão a pensar. A aula acabou e seguimos para Inglês onde ficámos exactamente nos mesmos lugares. O flirt era ainda mais agressivo, e sem interrupções já que ficámos sem intervalo. Eu e o Ruivo rimos assim como os meus amigo que estavam a frente porque fiz questão que acompanhassem o flirt por sms. Sou interrompida pelo Ruivo "Sabes quem foi?" abano a cabeça dizendo que não e ele aceita mas continua com perguntas, parece genuinamente preocupado. Satisfaço a sua curiosidade e este acalmasse cada vez mais até lhe dizer onde foi. "Filho da puta" sussurra alto de mais. "Sabes quem me fez isto Ruivo?" O meu coração quase para. Ele diz para não me preocupar, "Eu trato disto" e não sei como nem porquê mas a única coisa que saiu da minha boca foi "Se isso é um sim, apenas o entrega à policia" ele olha-me confuso, o que é normal até eu estou mas continuo sem sequer saber como "Não lhe batas, não faças nada disso, o único que deveria ir preso é esse porco." Ele apenas me olha como se fosse a primeira pessoa a entender o que ele ia fazer graças a tão poucas palavras e limpa a lágrima que me escorreu pela face. "Michael... o meu nome é Michael" ele sorri fixando a sua atenção não na aula mas sim no flirt de Scott e Dave.
