5. O HERDEIRO DE NAMU

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Ambelle

A aldeia era quase um vilarejo, haviam algumas casas espalhadas nenhuma muito próxima uma das outras. Os moradores não se importaram com nossa chegada, também não discutiram quando papa negou o convite para ficarmos em algumas casas. 

O acampamento foi montado, as tendas completamente erguidas e só então paramos para descansar, meus pés estavam completamente doloridos e minhas mãos ganharam alguns calos também, e quando Cloe e eu nos deitamos sob uma cerejeira mama se juntou a nós. Seus cabelos estavam presos num coque, enquanto uma fita preta rodeava sua cabeça, seu rosto estava sujo com manchas de cinzas da fogueira acesa no centro do acampamento, ela parecia esgotada.

"Olá meninas." Ela nos cumprimentou com um sorriso.

"Hey Mama!"

"Olá tia Becky, você parece bem cansada, pior que a gente." Cloe a olhou franzindo o cenho, talvez estivesse pensando muito profundamente ou, o que era mais provável, que estivesse irritada com o rumo que o dia tomou fazendo-a trabalhar quando podia ter aproveitado todo o dia com o marido.

"Acho que estou ficando velha, apenas isso minhas queridas." mama sorriu enquanto recostava-se em uma das árvores.

"Os anciões da tribo querem reunir a todos numa noite de fogueira novamente, ouvi alguns dos homens murmurando sobre isso." Cloe comentou, passando os longos cabelos por seus ombros enquanto começava a trançar pequenas mechas de cada vez.

"Quando ouviu isso?" Quis saber curiosa, meus olhos talvez estivessem brilhando agora, nunca fui a melhor em esconder meus sentimentos. Não que eu estivesse sentindo algo.

"Ainda hoje, ora essa. Não tive muitas oportunidades de ouvir conversas desde ontem muito cedo." Ela falou com um sorriso malicioso. 

"Pelos céus! Pare, ou irei vomitar em meus próprios pés." Levantei ambas as mãos, num gesto de pare, meu ombro ardeu terrivelmente com o movimento mas eu ignorei aquilo.

Talvez ficasse inflamado, mas que droga! Por que alguém precisa sair mordendo as outras pessoas?

Ouvi mama rir, ela realmente gargalhou, encostando-se contra o tronco áspero da árvore.

"Não dirá isso quando estiver no lugar dela." Garantiu com os olhos brilhando em humor contido.

"Bom mama, por enquanto não estou no lugar dela, e não quero estar por um bom tempo ainda." As suas riram. Deixei que meus cabelos caísse sobre meu rosto, que inconvenientemente, ganhou um tom de vermelho profundo.

Era só o que me faltava. Pensei irritada, por ter ficado tão vermelha assim.

Não que eu não quisesse um marido, longe disso, eu  queria muito ter alguém pra mim, mas eu não me sentia pronta, só agora ouvindo Cloe a incerteza do que o casamento traria se fez presente.

Além disso uma parte minha que sempre ficava a espreita começou a fantasiar com quem não deveria. Eu fiquei fascinada desde que pus meus olhos nele, mas agora… o que isso fazia de mim?  

Eu não queria decepcionar meu futuro marido, e menos ainda começar um relacionamento sabendo que jamais iria amá-lo. Meu coração doeu e nesse momento mais uma vez o ressentimento por não ter opinião ou escolha estava rastejando sobre mim.

"O que fazem aí?" A voz irritada de Freyja chegou até onde estávamos. "Fizeram-me vir procurá-las." Ela estalou a língua num claro sinal de repreensão.

"Está bem longe da hora do jantar," mama falou, pouco afetada com a irritação crescente de Freyja.

"Sim, estar. Porém alguém tem que fazer algo para os homens comerem, já me encheram falando que seus estômagos reclamam."

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