8. DO OUTRO LADO DA RAVINA

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Amebelle

Eu me sentia como um farol sobre aquele cavalo. Ei! Olhem pra mim, estou indo em direção a minha morte. E conforme seguia em meio às árvores, saltando sobre galhos caídos, o vento rugia em meus ouvidos e bagunçava meus cabelos.

Eu podia imaginar a reação dos meus pais se tivesse me visto nesta situação, estariam logo atrás de mim, berrando xingamentos para o cavalo e me mandando parar imediatamente. Como se eu tivesse algum controle sobre o animal. A pura verdade é que não importa o quanto eu tente fazer algo certo, no final sempre acabo fazendo alguma besteira.

O cavalo se movia como trovão e se virava com a agilidade do relâmpago, eu sinceramente não tinha ideia de como ela conseguia tal feito. Talvez fosse a cor da crina balançando junto ao vento e meu próprio corpo, mas passei a pensar no animal como uma égua e ela era tão rápida que os meus olhos se enchiam d'água como vento que soprava. Eles com certeza estariam como dois tomates vermelhos também.

Agarrando-me à crina dela, a égua avançou, metro após metro, reduzindo a cada novo segundo a distância entre a queda a espreita.

"Está louca?" gritei, a égua não me entenderia, mas isso não me impediu de continuar. "Nós vamos morrer! Animal idiota."

As árvores ficaram para trás, eu conseguia ver a muralha rochosa do outro lado da ravina, porém era muito mais alto do que o lado que estávamos, a ravina deveria ser extremamente funda, pois eu não conseguia nem ao menos ouvir o som do rio lá embaixo.

Pensei se deveria ou não me jogar de cima daquela égua. O animal me olhou como se conseguisse ler meus pensamentos, seus olhos coloridos pareciam sorrir para mim.

Olhar aqueles gigantes olhos doces e ao mesmo tempo tão rebeldes pulsando com vida e alegria, me senti sem ar, sendo envolvida por um fio invisível como se o destino me empurrasse para ela, de novo e de novo.

Talvez a estupidez finalmente me matasse mas resolvi me conformar com a situação que já estava.

A parede gigante que se erguia da terra, estendendo-se como um manto mortal se aproximava mais a cada segundo, apertando os olhos consegui ver que toda aquela pedra era perfeitamente dividida no meio por uma enorme fissura. Eu, geralmente, me sentia tonta e enjoada quando estava em situações assim, mas naquele momento... não.

Não havia mais espaço para pensar em parar, então comecei a pedir a qualquer um que conseguisse me ouvir, para não acabar como um ovo quebrado no fundo da ravina.

Mais rápido Hala, e como se ouvisse meus pensamentos, a égua disparou num rompante súbito de velocidade, e logo estava ao pé da ravina.

Mesmo já esperando, meu fôlego ficou preso. O salto tinha de ser de, pelo menos, 10 metros e nem queria saber quanto tempo a queda levava. Meu corpo ficou tenso, e a égua saltou da borda. Eu não me sentia a Ambelle de todos os dias, não naquele momento, e sem que eu notasse um grito de alegria irrompeu de minha garganta levando todo meu ar com ele.

Hala parecia voar, apenas ar abaixo de nós, nada que nos salvasse da morte então havia um rochedo, rocha sólida.

Não batemos de cara contra a muralha de pedra!, minha mente derreteu de alívio ao constatar isso.

Me segurei com mais força a Hala quando aterrissamos na passagem estreita do outro lado, o impacto reverberando pelos ossos, e continuamos galopando. A passagem era tão estreita que as pedras quase arranhavam minhas pernas, e em alguns lugares minha cabeça batia contra as pedras, estava muito escuro para que eu soubesse onde ficava cada curva.

Me moldei a Hala para me encaixar como uma segunda pele e assim não acabar sem cabeça no final do túnel, quando ela parou bruscamente me jogando para o lado e o forte cheiro de sangue chegou em minhas narinas eu soube, que o que havia do outro lado da ravina não era nada bom.

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