6. POR UM CORAÇÃO PARTIDO

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Talon

Richard McLean.

A última vez em que encontrei ele, não terminamos muito bem, como Dante afirmava na época a culpa foi dos hormônios. Ele tem razão, hormônios que me falavam para ensinar aquele filho da puta a não partir o coração de uma criança. 

A verdade é que ele sempre foi muito idiota, um verdadeiro demônio. Era realmente uma pena que ninguém tenha acreditado em mim, quando me perguntaram o motivo de ter batido nele até deixá-lo inconsciente. Todos os castigos recebidos não me deixaram por um segundo arrependido. Katrina precisou ir embora depois que seu coração foi pisoteado e todas as suas esperanças de finalmente se casar foram alvo de gargalhadas.

Ela sempre foi uma menina doce, um pouco ingénua demais, apesar da idade faltava maturidade e era justamente por isso que aos 21 anos ainda estava solteira. Até que este imbecil apareceu e a encheu de promessas vazias, e quando os meses se passaram e ela percebeu que nenhuma das promessas tinham sido reais eu a vi murchar e quase morrer. 

Isso já fazia muito tempo, anos. Dizem que as pessoas amadurecem com o tempo, quem falou isso com certeza não teve o desprazer de conhecer Richard, ele continuava o mesmo merda de sempre, senão pior.

"Por que me chamaram aqui?" Observei todos os homens que se acomodavam num círculo perfeito. Ver Richard sorrir ironicamente pra mim, deixou-me com vontade de rosnar, mas me controlei. Não valia a pena.

"Sente-se meu rapaz," um homem falou. Sua voz era suave, seus traços calmos, mas nada disso significava que aquela não era uma ordem. Evan era um homem sereno, o ancião mais sereno que eu já conheci.

Talvez isso se desse pelo local de onde ele vinha, o Sul. As histórias chegavam a seus ouvidos as vezes, no extremo sul onde a neve reinava e a água era sólida, o silêncio era absoluto. Uma realidade tão diferente da minha, onde o ar era úmido e mesmo assim o calor podia ser quase insuportável, o silêncio me deixava tão inquieto a ponto de enlouquecer.

Um lugar para o silêncio. Era como definiam o Sul, apesar de não acreditar nisso, que lá o silêncio era absoluto, acredito que era um local silencioso o suficiente para deixar os homens em paz com eles mesmos. 

O único local livre era ao lado de Richard e mesmo relutante fui até lá. Ele não estava na minha lista de pessoas mortas, mas também estava longe de ser um bom colega.

"Creio que já conheça o filho do grã-ancião do oeste?" A pergunta foi feita em tom inocência, mas os olhos perspicazes que me encaravam diziam bem mais que apenas isso. Era um questionamento do passado, uma provocação a minha falta de controle, um teste para minha realidade agora.

"Sim. Ando conhecendo os filhos de muitos grã-anciões ultimamente." Não pude deixar de alfinetar, mesmo sabendo que poderia ter consequências bem desastrosas depois.

"Ambelle é uma garota curiosa..." ele deu de ombros, seus olhos pareciam realmente bem humorados ao falar da filha.

Algo inegável era a preocupação dele por ela.

"Sim, eu notei isso." Falei secamente. Nunca fiz tanto esforço em minha vida para reprimir um sorriso como agora.

Ela é de outro, o pensamento dançou em frente aos meus olhos uma vez e outra. E pela milésima vez desde que ouvi aquelas palavras saindo de seus lábios pintados, me perguntei quem era o infeliz do noivo dela.

"Desde quando conhece minha noiva?" Richard inclinou-se em minha direção, muito obviamente insatisfeito. O cheiro de casca de árvores que emanava do corpo dele ficou mais forte. 

Casca de árvore...

"Espero que fique longe da minha futura mulher!" Ele realmente mostrou os dentes pra mim?

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