Alucinações. 99

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Comecei a fazer terapia. Meus pais acharam melhor pelo meu estado ao ver deles "quieto demais". Eles não entendiam que eu não tinha nada para comemorar? Que eu não sentia vontade de sair por aí sorrindo quando fui responsável por uma morte.

Na primeira semana apenas fiquei olhando para a mulher ruiva que disse que eu tinha liberdade para falar o que quiser. Eu estava entediada, vazia e triste, não tinha nada para falar. Na segunda semana ela disse que eu poderia apenas sentar e ficar quieta se quisesse durante as uma hora de terapia. Foi o que fiz. Na terceira semana ela me perguntou como me sentia em uma palavra e eu falei desanimada. Ela anotou e voltamos ao silêncio conhecido. Na quinta semana ela me perguntou qual era o nome dele. E sabe, foi como um soco no estômago, com os meus olhos lacrimejando eu sussurrei Steve.

- Bonito nome. Quer falar sobre ele? - A olhei - Sabe, como ele era? Ele era divertido?

Afirmei com um balançar de cabeça respirando super forte como se ar me faltasse.

- Ele era loiro - Uma lágrima escorreu - Não um loiro como eu, mas loiro puxado para o branco. E tinha olhos azuis mais claros que os meus. Ele sorria muito e ia ser um ótimo liner back, iria me chamar de ridícula se me ouvisse agora... - Sorrir um pouco - Vivia correndo atrás de mim como um cachorrinho, mas eu nunca dava chance porque nunca o achei suficiente para mim... - Baixei a cabeça parando aí.

- E agora? O que acha?

Limpei o rosto.

- Só queria que estivesse vivo. - Sussurrei fraco - Dane-se  a minha opinião. - Voltei a chorar.

- Interessante. O que sentia por ele senhorita Runter?

- E o que falaria se estivesse aqui.?

Engolir em seco me sentindo abatida.

- Não sei. Eu realmente não sei.

Fui embora depois disso. Eu não queria falar mais nada. Não queria lembrar. Não queria sentir. Não queria viver.

No meio da semana meus amigos me chamaram para sair.

Não aceitei.

James ligou.

Não atendi.

Na semana seguinte não queria ir para a terapia mas meu pais e amigos insistiram. Me sentei a poltrona e fechei os olhos. Não queria falar nada só que acabasse logo e eu voltasse para o meu quarto.

- Você se acha culpada pela morte dele? - Ela perguntou de supetão. Abrir os olhos surpresa - Se acha?

Afirmei.

- E porque?

- Ele foi atrás de mim quando me viu no estacionamento. Foi por minha causa que ele foi pego.

- Não acha que a escolha foi dele desde o momento em que resolveu te seguir?

- Ele fazia isso o tempo inteiro. E eu nunca consegui impedir.

- Talvez porque a decisão sempre esteve nas mãos dele. Não nas suas.

- Aquele homem o matou porque não fui o suficiente rápida para impedi-lo.

- Você estava amarrada. Foi tudo incrivelmente rápido não tinha como...

- TINHA. Eu deveria fazer um acordo ou tentar alguma coisa - já chorava - Mas fui negligente.

- Você é uma sobrevivente senhorita Runter. Não a vilã. - Ela anotou algo e puxou o que parecia uma foto e assim que me estendeu vi o rosto do Steve na minha frente. Meu coração batucou. - Esse garoto nunca te culparia por nada. Vocês dois foram as vítimas.

DESCENDENTES - Além De Nós Onde histórias criam vida. Descubra agora