Quando ela me olhou nos olhos e sorriu eu finalmente percebi, ou melhor, assumi que a presença dela tinha mudado algo em mim, e isso me fez feliz por alguns minutos. Então eu apenas rodopiei e tentei ao máximo não pisar nos pés dela, mas o inevitável aconteceu.
-Ai! - Isabella gemeu dando pulinhos no mesmo lugar.
- Desculpa, eu disse que não era bom nisso.
-Eu percebi bobo, mas só te perdoo se você prometer que vamos fazer isso mais vezes!
- Mais vezes? Porquê?
- Porque sim, oras! Nem tudo precisa ter um motivo, é legal fazer as coisas apenas por fazer, especialmente as coisas que te deixam um tantinho mais feliz- ela rodopiou sozinha bem abaixo da luz.
Ela tinha razão mais uma vez, pensei.
- Você sabe que eu tenho razão- ela disse se aproximando de mim novamente.
-Você lê pensamentos agora?
-Pensamentos eu não leio, mas eu consigo ver muita coisa no seu olhar e ele me diz que você gostou do nosso pequeno baile, então eu tenho a obrigação de te levar pra dançar!
- Mas eu te disse que eu não gosto dessas coisas, e também eu...
- Ah, pára com isso, pequenas coisas lembra? E além disso você precisa me mostrar os lugares legais da cidade, porque desde que cheguei aqui eu só trabalho, trabalho, trabalho...- ela pegou a bolsa do chão e foi em direção à porta. Corri atrás dela.
- Ok, mas não vamos aos lugares muito cheios, não gosto de multidões, e nem muito barulhentos, beleza?
Ela se virou para responder.
- Combinado!- eu ainda não havia me acostumado com o sorriso dela- e anda logo porque a vovó deve estar preocupada.
A semana correu sem novidades, Isabella me tirava do sério de vez em quando e as vezes ela ficava quieta, quieta demais. Eu me pegava observando-a, ela ficava entre as prateleiras, passava os dedos nas lombadas dos livros, assim como ela fez no meu quarto, mas dessa vez ela não tinha aquele brilho nos olhos, era como ela tivesse vivenciando todos os seus sentimentos de uma vez só ou como se todos eles sumissem e ela ficasse vazia, nessas horas eu sentia vontade de abraçá-la e perguntar a ela qual era o motivo, a razão dos seus olhos perderem o foco, o brilho e principalmente a vida, mas me envergonho de dizer que sempre me faltava a coragem para isso, e então aqueles momentos passavam e do nada Isabella voltava a exibir seu sorriso de sempre.
Quanto a mim, bom, eu tentei escrever todas as noites e falhei miseravelmente, mas não me importei muito, as coisas que eu escrevia deixavam de fazer sentido para mim a cada vez que eu as relia. Isabella não se importava de aparecer na minha casa quase todas as noites sem avisar e me aporrinhar sobre o meu "diário", falar pelos cotovelos e mexer nas minhas coisas. Meus livros já estavam todos fora de ordem, e cheguei a um ponto em que eu não conseguia achar quase nada no meu quarto, meus rascunhos estavam à salvo no fundo de um gaveta, graças a Deus.
A sexta- feira chegou e se foi, eu não podia negar que sair com Isabella me deixou um pouco ansioso e tentei não dar muita atenção à essa sensação, mas estava eu, ansioso em frente de casa esperando ela terminar de se arrumar para levá-la para dançar no lugar menos cheio e mais silencioso possível da cidade.
Quando ela finalmente colocou os pés porta afora meu coração saltou uma batida e começou a bater num ritmo que há muito não batia, senti o sangue pulsar em minhas veias. Ela usava um vestido fino, a saia era levemente rodada com estampas florais, seus cabelos estavam soltos como sempre é em seus lábios estava o batom que eu amava, o escarlate da sua boca era minha coisa preferida no mundo. Ela veio até mim e vestiu minha jaqueta, jaqueta que eu definitivamente não podia mais chamar de minha.
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Sobrevivente
RomanceO que fazer quando o grande amor da sua vida te deixa? Como superar a dor e esquecer aquela pessoa que esteve com você uma vida inteira se vai sem explicações. O protagonista dessa história vai ter que aprender da forma mais difícil a superar essa d...