Capítulo 15

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O vapor se tornou sólido e o gelo assumiu a forma do corpo de Ária tão perfeitamente que pensei ser ela mesma ali, apesar da transparência. Então, era isso. Teria que lutar contra um avatar de gelo que representava Ária.

— Desistiu do dragão? — Sorri sarcasticamente enquanto observava a espada e o escudo de gelo que a figura segurava.

— Avisei que me transformaria no que quisesse e esse me pareceu um molde perfeito para testá-la tanto fisicamente quanto psicologicamente. — O avatar de Ária falava com a voz do Poder da Água e senti meus próprios equipamentos um pouco mais pesados com a força contida naquela voz.

— Certo. Boa jogada, mas se pensa que não vou conseguir atacar está muito enganada! Sei que isso é apenas um teste e só por ser sua imagem, não vou ficar abalada.

— Ainda não a odeia por tudo que fez a você?

— Ela me ajudou e me traiu depois, e daí? Zein fez a mesma coisa e o perdoei. — Alguma lembrança devia estar tomando conta de mim outra vez. Não fazia ideia do que estava dizendo e do motivo pelo qual essas palavras não me feriam como deveriam ter feito.

— Você o perdoou porque ainda o ama, mesmo que o ame como amigo agora. Ária não te ajudou em momento algum, só fez o que estava planejado para ser feito, ou você acha que, por um simples milagre, tudo aconteceu? — A voz da água soava irritada. — A floresta os levou a encontrar a Estalagem da Fronteira. Seu destino já estava traçado desde que decidiu fazer a trilha com seus amigos e assim se afastar da monitoria do colégio. Você conheceu Ária porque nós, os Poderes, planejamos isso para você, Alessia. Não pense que você é a única dona da sua vida. Os Poderes também a influenciam de todas as maneiras possíveis. Nós moldamos você! Nós a esculpimos para que pudesse ajudar as nossas criaturas a sobreviver ao mal das Trevas! Fomos nós que traçamos a sua jornada por este mundo, menina. Precisa aceitar isso de uma vez por todas. Aceite quem você é e conseguirá vencer o último desafio. Aceite a ajuda de suas lembranças mais recentes. Aceite ser você mesma. Não Alessia, a humana, mas sim Alessia, a humana-híbrida. Alessia, a criatura mágica. Alessia, a escolhida para dominar as Trevas. Alessia, aquela que nos trará a paz novamente.

— Se.... Se eu aceitar isso não precisarei lutar? — Minha voz saía trêmula, fraca, insegura. Não conseguia aceitar ser nada daquilo. Era muito peso sobre minhas costas fracas e aquilo tudo parecia, agora mais do que nunca, um dos livros que lia em meu mundo humano.

— Você aceitará enquanto luta. Agora! — O avatar de Ária investiu numa velocidade assustadora com sua espada em punho.

Usei, agindo por impulso, o escudo para bloquear o ataque, mas o impacto me fez cair sentada. Tive que rolar para desviar dos dois golpes seguintes. O Vento interveio e me deu tempo o suficiente para levantar. Segurei minha própria espada com mais força e passei a tentar acertá-la também.

— Não. Sou. Isso. Que. Você. Disse. — Cada pausa representava um golpe desferido ou alguma manobra de defesa. — Sinto muito!

— Você é sim, Alessia! Aceite suas responsabilidades! Aceite salvar as pessoas que agora aprendeu a amar como sua família! Aceite o seu destino! — E tornava a me atacar com golpes harmônicos e poderosos.

Não fazia ideia de como estava conseguindo me manter naquela luta, mas algo dizia que minhas Lembranças estavam agindo por mim. Pelo menos isso tinha aceitado, a presença das Lembranças em mim.

Meus pensamentos me guiavam para as imagens de meus novos e antigos amigos, da minha antiga e da minha nova família. Meu coração pesava e se acelerava sentindo todo o amor e a saudade por aqueles que havia abandonado ou pelos que estavam comigo agora.

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