Novamente senti aquela sensação estranha de que minha alma era separada do meu corpo, meu estômago se revirava loucamente e minha cabeça girava, mas mesmo assim mantive firme minhas mãos segurando nas de Ivy e Zein.
Assim que o frio da água tocou minha pele, senti um calor gélido partir das pontas dos meus dedos dos pés até logo abaixo do umbigo. Algo semelhante também ocorria nas laterais do meu pescoço e logo percebi que não havia mais a necessidade de prender a respiração.
Olhei para baixo em busca das minhas pernas, mas tudo que pude ver foi uma longa e escamosa cauda de peixe, assim como possuía Sarina. Abri minha boca no intuito de gritar pela surpresa, mas vi apenas algumas bolhas de ar saindo e bagunçando meus cabelos, que no momento enlaçavam meu rosto, desgovernados.
Certo, então não conseguíamos falar normalmente aqui. Por que isso me surpreendia tanto? Não era óbvio? Avistei Ivy e Zein alguns metros abaixo de mim e acenei para eles, tentando chamar sua atenção. Como faríamos para nos comunicar?
"Alessia, acalme-se. Se continuar assim irá atrair muitas criaturas marinhas até nós e nem todas são agradáveis e gentis". Era a voz de Ivy, mas notei que não movia os lábios ao falar, concluí que nos comunicávamos por telepatia.
Sereias conseguiam fazer isso? Zein conseguiria fazer isso? Assenti para ela e testei minha nova cauda, balançando-a para frente e para trás. Até que não era tão difícil, só que logo meu abdômen começou a reclamar do esforço que estava tendo que fazer. Com certeza nadar com as pernas era menos exaustivo.
"Pode até ser menos exaustivo, mas não conseguiria nadar tão rápido. Esperem por mim, vocês duas"! Esse era Zein, só então foi que percebi sua ausência a minha esquerda. Não conseguia nos acompanhar porque era obrigado a nadar com suas pernas de fantasma.
"Segure minha mão. Vou puxar você. Não podemos demorar muito, Undine disse que só temos algumas horas, lembra?" Estendi minha mão e segurei a dele com força, voltei a bater a cauda como já vi sereias fazerem em filmes e mal acreditei que era eu quem fazia aquilo naquele exato momento. Fui obrigada a rir da minha ingenuidade.
Nadávamos por uma parte escura e aparentemente sem vida do oceano. A única luz de que dispúnhamos era a da varinha mágica de Ivy, que felizmente lembrou de trazer. De alguma forma, havia conseguido um dos cristais da antiga Caverna de Cristal para colocar na ponta de sua varinha, e com as palavras certas fazia-o acender como uma lanterna, que brilhava num tom de verde parecido com seus olhos.
"Ivy, sabe quando conseguiremos sair dessa escuridão sinistra?" Senti um arrepio correr meu corpo e olhei ao redor como se algo estivesse nos espreitando neste exato momento. A luz de Ivy, para mim, era literalmente uma luz no fim do túnel.
"Infelizmente não, Alessia. Só posso dizer que percorremos uma boa parte do caminho até o meu palácio."
"E você vai saber como voltar ao poço?"
"Se não conseguir encontrar, peço ajuda para alguma das criaturas daqui."
"Ivy... tenho uma pergunta que está me perturbando faz um tempinho..."
"Pergunte."
"Todas as criaturas aqui no oceano são seus antigos súditos? Todas são criaturas que já foram... gente?"
"Imaginei que fosse perguntar isso em algum momento." E riu de leve sem me olhar. "A resposta é não. Nem todas são meus antigos súditos."
"E como conseguiremos diferenciar? Quer dizer, se um humano, por acaso, pescar um peixe, há a possibilidade de ser um dos seus súditos?" Senti meu estômago se revirar ao lembrar das vezes em que fui ao restaurante japonês perto da minha antiga e humana casa.
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Enchantment
FantasiTerceiro e último livro da Trilogia Os Três Reinos Mágicos. O primeiro é Fantasy e o segundo é Magic. PLÁGIO É CRIME! ESTE LIVRO ESTÁ REGISTRADO NA BN! Sinopse: No terceiro livro da trilogia, Alessia e seus companheiros conhecerão o reino de Enchan...