Flee

02

"O mundo está cheio de coisas óbvias que ninguém jamais observa. — Sherlock Holmes"

4 de abril de 2018

00:17 a.m.

*Los Angeles, Califórnia — Estados Unidos*

NICHOLAS STUTMAN

— Você tem certeza, Barth?— pergunto respirando fundo e travando o maxilar, observando a feição estática da mulher na minha frente.

— Ainda não. A perícia irá remover o corpo dos destroços do carro.— pausa. — Afastamos os civis e interditamos o local para análises.

— Certo. Estou a caminho.— digo e desligo o walk-talk, ainda inebriado de forma mínima.

Apesar da minha profissão exigir uma linha de raciocínio estratégica e objetiva, situações com vítimas fatais ainda me deixavam sem fôlego. Investigar casos e depois descobrir que aquelas pessoas estão mortas, era frustrante e assustador. Eu sentia como se aquelas mortes fossem parte de mim, como se eu estivesse as carregando nas costas. E todos aqueles rostos desconhecidos, me atormentavam por meses.

Megan permanece estática na minha frente, observando os seus pés em choque. Nem uma sequer lágrima escorre pelo seu rosto, fazendo com que eu admire o seu autocontrole.

— Está tudo bem?— limpo a garganta, tentando não ser invasivo

— Sim.— assente com a cabeça, mesmo seus olhos inquietos negando firmemente suas palavras.

O meu celular toca e sei que é Barth quem está ligando. Não faço questão de atender, e Megan também não questiona o ato.

— A Ellie vai acompanhar você até a delegacia para que possa depor.— digo sério, ela me encara impassível.

— Não podemos deixar isso para amanhã?— questiona, e através do seu tom arrastado posso perceber o quão exausta ela está.

— Lamento, senhorita Parker, mas essas são as regras do sistema.— ela assente

Me viro de costas e aceno para que uma das agentes do meu departamento de aproxime, e logo ela está ao lado de Megan, com uma das mãos apertando seu ombro em um gesto reconfortante, o qual eu consideraria íntimo demais entre um policial e algum civil em situação semelhante.

— Ellie, acompanhe-a até a delegacia e sirva algo a ela.— digo e a ruiva concorda com a cabeça. — Será uma longa noite.

Viro de costas e caminho até o veículo escuro e blindado — que agora possui um odor de fumaça. Estico os braços e massageio a nuca, puxando as mangas da blusa até os cotovelos e ligando o aquecedor.
Dirijo até a estrada 7, demorando quase quinze minutos para chegar. Saio do carro observando várias pessoas ao redor da faixa amarela florescente, tentando enxergar o que acontece a alguns metros de distância.

— Peço que retirem-se do local e deixem com que façamos o nosso trabalho. Caso contrário, não vou hesitar em prendê-los— digo alto e autoritário, sem a mínima paciência para lidar com a população curiosa.