These little feelings

The long day

  Tinha pensado em como seria escrever sobre meu dia, como passo e como ele pode ser algo bem bagunçado assim como meus sentimentos.

  Hoje eu acordei como todos os dias, não sabia se agradecia a Deus por ainda estar viva ou se me perguntava por que ele não havia me levado no meio da noite, eu me sentei na cama e me encostei na parede, liguei a tv para conseguir distrair meus sentimentos e pensamentos, a internet ja tinha caido pela milésima vez por causa que o pagamento está atrasado, isso me lembrou bastante que meus pais ja estão separados faz umas 4 semanas, me senti um pouco culpada porque foi eu quem mostrou qual o verdadeiro monstro do meu pai, minha mãe ainda sente a falta dele, ela me prometeu que não iria voltar com ele por mim.

  Era outro dia normal de aula, mas também outro dia normal em que eu não conseguiria me levantar e ter coragem de olhar pro rosto de outras pessoas e fingir que estava bem ou até mesmo de ver meus amigos e ter que faze-los rirem de minhas brincadeiras já que era eu quem sempre anima a todos e os fazem sorrir com coisas bobas.

  Eu me levantei com um grande esforço já que a cama me chamava, eu fiz meu café da manhã mesmo não querendo comer. O café me lembrava de quando eu era criança, sempre tinha garotas bonitas em minha sala, todas magras e perfeitas, e eu? Eu era gorda, feia, não tinha dúvida nisso ja que todos faziam questão de me lembrar. As fotos das garotas do Instagram ou até mesmo quando eu vou pra praia sinto a vontade de me sentir bem como elas, vontade de me sentir bonita e suficiente pra alguém. Lembrei também de que já fiquei uma semana sem comer por causa desses motivos, depois dessa semana minha mãe me forçou a comer por estar preocupada comigo, hoje eu ainda como normalmente, as vezes até mais do que eu preciso já que parece que de uma maneira ou outra isso preenche o vazio que eu sinto.

   Eu tomei meu café com calma e coloquei o famoso sorriso falso quando vi meu irmão, eu vi que ele também estava sendo afetado por causa daquela situação. Eu dei um "Bom dia" pra ele e o abracei, peguei uma toalha e fui direto para o meu banho desejando poder levar uma lâmina comigo, deixei meu celular em minha playlist de músicas preferidas. Assim que comecei a tomar banho me lembrei de como me sentia sem a música preencher o espaço do silêncio, todas as vezes que tomava banho era somente o silêncio e o barulho do chuveiro, as vezes eu escutava algumas vozes ou via coisas dentro do banheiro, sentia que não era a minha mão que estava ali, me lavando, e sim a mão de alguém, mas não havia ninguém ali alem de mim, então pra evitar isso eu comecei a escutar música durante o banho.

  Eu sai do banheiro e entrei no meu quarto, suspirei pesado ao ver os novos cortes que preenchiam uma parte de minha coxa, todo aquele sangue escorrendo no banho me acalmava, a dor me acalmava. Eu me troquei e sai do quarto, não queria comer novamente mas minha mãe não iria gostar da ideia.

  Quando terminei de me arrumar sai com minha mãe e meu irmão, sorri levemente ao ver minha vizinha pois ela era uma das que mais se importavam comigo, levamos meu irmão até a escola, fomos a sorveteira próximo da escola e minha mãe me comprou um sorvete esperando um pouco de animação da minha parte ja que ela sabia que eu não estava em um dos meus melhores dias, claro que eu a agradeci e me mostrei mais animada para vê-la feliz.

  Fomos até o ponto de ônibus e conheci um senhor idoso, ele parecia feliz e aquilo me fez pensar em como alguém que pode ter passado por tantas coisas e continuarem vivas até aquela idade, pensei o quanto aquele idoso poderia ter sofrido e quê com toda certeza sofreu mais que eu.

  Entramos no ônibus e eu olhei em volta sentindo todos aqueles olhares por cima de mim, eu encarei cada um e pude ver o que sentiam, via o vazio das almas, via a tristeza, a dor e até felicidade nos olhos ao meu redor, eu me sentei e minha mãe se se sentou ao meu lado e eu fiquei olhando pra janela.