DEPOIS DAQUELE BEIJO... (CONCLUÍDA)

61 - HOW DEEP IS YOUR LOVE

"I believe in you, you know the door to my very soul

You're the light in my deepest darkest hour

You're my saviour when I fall"

How Deep Is Your Love - Bee Gees

POV Taylor

Eu não dormia direito há semanas. Não conseguia. A culpa me engolia. Chegou uma hora que não sabia dizer o que era pior: permanecer acordado e vivenciar na pele aqueles sentimentos, ou adormecer e ser tragado para dentro de pesadelos terríveis.

As imagens vinham em flashes. O pânico nos olhos de Ezra ao ouvir a minha revelação. A decepção tomando conta de cada traço do seu rosto quando percebeu o que aquilo significava.

O tio que ele tanto admirava, o homem em quem ele se inspirava, era o seu pai. O pai que o abandonou.

Natalie contou tudo. Enquanto escutava o que ela falava, queria vomitar. A onda brutal de sentimentos e sensações avassaladoras era insuportável. Queria que a terra se abrisse e me engolisse por completo. Queria fechar meus olhos e deixar de existir.

Não ousei dizer uma palavra para impedi-la de continuar. Como poderia? Não havia defesa para o que fiz.

Passei a vida me equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências. Mas naquele momento assistia tudo sair do controle, como um trem descarrilhado. E eu estava prestes a ser esmagado.

Aquele maldito momento, o exato instante que decidi partir. Que escolhi partir. E essa escolha equivocada determinou o rumo da vida de todos nós.

- Você não é o meu pai! Não pode ser meu pai!

A sensação dolorosa dentro do meu peito era insuportável.

Ezra não disse mais nada. Nem uma palavra. Ele escutou tudo o que Natalie falou e depois apenas olhou para mim. Seu olhar era vazio, como se sua alma tivesse sido sugada. Não havia vida. Não havia nada.

Os dias passaram e a dor não diminuiu. Eu me esforço para ser um bom marido para a Megan. Um bom pai para Sophia. Mas a imagem do rosto de meu filho não sai da minha cabeça. A dor que eu causei a ele habita dentro de mim. E é insuportável.

Estou farto de me sentir assim o tempo todo. Estou farto de mim mesmo. Estou tão cansado que desejo escapar da minha própria pele e ser outra pessoa pelo resto dos meus dias. Mas não posso.

Eu preciso cuidar da minha família.

A única coisa que me mantinha de pé era o amor de Megan. Apesar de não se lembrar de toda a nossa história, os flashes de memória estavam mais constantes. Às vezes percebia o quanto ficava confusa com as lembranças. Nosso relacionamento sempre foi muito intenso e isso a assustava.

Eu decidi contar tudo a ela. Falei sobre o meu passado. Contei sobre Ezra. Fiz minha esposa chorar e se decepcionar comigo mais uma vez.

Eu precisava tanto dela, mas não tinha o direito de exigir nada.

Ela pediu um tempo para pensar. Pediu que eu ficasse afastado. Pensei que não fosse sobreviver. Sinto como se pudesse quebrar em mil pedaços e não houvesse poder humano que fosse capaz de me reconstruir.

Eu estava no quarto me forçando a fazer a mala. Segurava as peças de roupa com tanta força que ficaram amassadas. Não aguentei. Meu corpo pesava demais. Desabei.

Sentado no chão do quarto, a realidade do que me esperava era dura demais. Sem meus filhos. Sem a mulher que eu amava. Nada mais fazia sentido. Eu quis desistir. Abaixei a cabeça e levei as mãos à nuca, apoiando meu rosto entre os joelhos.

Quando percebi, estava soluçando alto. Não me contive. As lágrimas que derramava molhavam o assoalho do quarto. A dor era tudo o que eu tinha e deixei que levasse o que sobrou de mim.

Senti o calor da mão de Megan no meu braço. Com dificuldade, levantei o rosto. Ela estava ajoelhada na minha frente.

- O que você está fazendo, Taylor? - seus olhos verdes estavam nublados num misto de preocupação e confusão - Que mala é essa? Por que está no chão desse jeito?

Como explicar a ela o que se passava comigo? Como explicar que eu era metade de um homem? Que era melhor se eu saísse pra sempre da sua vida? As palavras se aglomeram na minha garganta, mas não pronuncio nenhuma. As lágrimas quentes e pesadas deslizam por meu rosto e mal posso respirar. Mal posso sustentar o olhar.

- Eu não sei mais o que fazer, Megan! - as palavras finalmente escapam num sussurro desesperado, enquanto eu caio de um abismo em queda livre.

Megan olha ao redor. As peças de roupa estão espalhadas pelo chão do quarto. A expressão em seu rosto muda e ela abre a boca aparentemente surpresa.

- Por que toda vez que a situação aperta a primeira coisa que você pensa é em fugir, Taylor? Será que não percebe que é exatamente esse o seu erro! - eu não sei o que pensar. Aliás, parei de pensar há bastante tempo. Estou tão perdido que não faço ideia do que estou fazendo.

- Eu... achei que... - não tenho tempo de concluir o raciocínio e ela continua.

- Eu te pedi um tempo para pensar, não pedi que saísse de casa! Você não percebe, Taylor? Eu amo você! Mesmo sem entender. Mesmo com medo de descobrir que você é um tremendo cretino e está escondendo mais segredos de mim. Eu te amo! E te ver assim acaba comigo.

- Eu estou destruído, linda! Eu preciso tanto de você! Por favor... - não posso deter a corrente quente e úmida das lágrimas desesperadas. O nó na garganta se aperta. Não posso respirar. Não posso eliminar a pressão que sinto em meu peito. - Eu perdi o meu filho! Eu perdi tudo!

- Não. Você não perdeu tudo. Eu estou aqui. Vem aqui. - de repente, ela está no meu colo. Sua boca traça um caminho de beijos por meu rosto molhado.

O choro vibra em meu peito e o calor invade meu corpo por senti-la tão perto. O alívio da tensão é tão grande, que meu corpo agradece, se moldando ao dela.

- Megan... - minha voz sai em um sussurro trêmulo e dolorido - Só quero te tocar. Só me deixe te tocar...

- Você pode me tocar... Eu amo você, Tay. Estou aqui. Não vou a lugar nenhum e nem você. - seus dedos percorrem o meu rosto, meus cabelos. Ela me ama. Essa certeza me traz forças para continuar vivendo. - Você vai ficar bem. Nós vamos ficar bem.

Meus dedos se juntam ao seu cabelo e ela geme contra a minha boca quando puxo com suavidade. Eu a coloco deitada no chão com muito cuidado. Os cabelos castanhos se espalham e só consigo pensar em como ela é linda. Em como eu a amo.

Me sinto entorpecido. O efeito sedativo de seus beijos invade meu sistema e tudo se apaga da minha mente. Naquele momento, meu mundo inteiro pertence a ela e a única coisa que quero é absorver tudo o que me oferece. Estou ciente de que nunca precisei de alguém assim, e me agarro a ela como se fosse a única capaz de me salvar de mim mesmo.

Tradução da música

"Eu acredito em você, você conhece a porta para minha alma

Você é a luz em minhas horas mais escuras e profundas

Você é minha salvação quando eu caio"