60 - ENJOY THE SILENCE

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"Words like violence

Break the silence

Come crashing in

Into my little world"

Enjoy the Silence – Depeche Mode


POV Taylor

Natalie me olhava com desconfiança, claramente se perguntando o que eu estava fazendo ali, ao lado de Ezra, na sala de sua casa. Eu nunca tinha entrado lá antes. Procurava respeitar o espaço dela. Além disso, sabia que jamais seria bem-vindo ali.

Ike também me observava, procurando por respostas. Ele era meu irmão. Eu o amava. A gente se entendia. Balancei a cabeça negativamente, respondendo a pergunta implícita em seu olhar. Não. Ezra não sabia a verdade.

Mas estava prestes a descobrir.

Meu coração disparou. Eu me sentia um hipócrita. Um verdadeiro cretino. Todo esse tempo sem dizer uma palavra, e a verdade me atingiu como um raio em meio à tempestade. Eu era um covarde. Era isso. Eu me justificava dizendo que queria protegê-lo, quando na realidade estava morrendo de medo de que ele descobrisse quem eu era de verdade.

Ele começou a falar. Minha concentração fixou-se na expressão do rosto de Natalie. Eu mal conseguia ouvir o que Ezra falava. A respiração descontrolada se alinhou à batida frenética do meu coração, silenciando tudo ao meu redor.

Meu passado insólito insistia em me derrubar. Era mais que isso. Os pensamentos me espancavam. Quando ela levou as mãos à boca e seus olhos inundados com as lágrimas se voltaram para mim, sabia exatamente o que ela carregava no coração. Ódio.

Ela me odiava. Eu me odiava. E ele com certeza me odiaria.

- Mãe, me desculpa! Eu sei que você sempre conversou comigo sobre isso, mas está tudo bem! Eu e a Cindy estamos enfrentando tudo isso juntos e com a ajuda do Taylor, por isso pedi que ele estivesse aqui comigo. - ela soltou um riso debochado e arregalou os olhos em minha direção.

- Ajuda do Taylor? Você deve estar de brincadeira comigo! – o riso nervoso aumentava ainda mais a tensão. Meu corpo pesava tanto ao ponto de não conseguir me mexer. – Isso é algum tipo de piada doentia? – eu sabia que a pergunta era direcionada a mim, mesmo assim, não conseguia mover os lábios. As palavras simplesmente não saíam.

- Eu não entendo porque está agindo assim! – Ezra continuou - Pensei que fosse me entender! Você e o meu pai passaram por isso também!

- Seu pai? - ela olhou pra mim e soltou uma risada irônica. Desesperada.

Natalie andava de um lado para o outro da sala, passando as mãos pelo cabelo. Ike tentou tocá-la, confortá-la de alguma forma, mas ela recuou.

- Calma, Natalie! Você precisa se acalmar! – ele estava tão preocupado com os sentimentos da esposa. Tão angustiado. Era a mulher que ele amava. Era o seu filho também. A sua família. E ele estava prestes a ver tudo que construiu desmoronar bem ali, por minha causa.

- Eu sei que posso ter decepcionado vocês, mas estou aqui para deixar claro que vou assumir a responsabilidade e criar o meu filho. – Ezra pareceu irritado, mas logo abrandou o tom de voz - Vou seguir o exemplo de vocês, porque sei que são felizes até hoje!

- Você não sabe de nada! Você não faz ideia do que eu passei quando engravidei de você! Não faz a menor ideia!!! – Natalie perdeu completamente o controle. Eu parei de respirar. 

- Você está querendo dizer o quê? Que meu pai não te apoiou desde o início? É isso? É isso, pai? Alguém me responde!

- Por que você mesmo não pergunta a ele? Pergunta para o seu pai o que ele fez! Pergunta para o seu pai o que ele me pediu pra fazer quando descobriu que eu estava grávida de você!! - gritava. Seus olhos apontaram para mim.

- Natalie, por favor, se acalma! Agora não é o momento. - Ike tentava racionalizar. 

Não adiantou.

O inferno dentro dela refletia no seu olhar. O inferno que eu causei. Natalie me olhava com desprezo e só o que enxergava era aquele adolescente irresponsável e egoísta que jogou na sua cara que aquele filho não era dele. Que falou que o melhor seria que ela tirasse a criança! Que gritou aos quatro ventos que jamais assumiria a responsabilidade! O garoto que a deixou sozinha no momento que mais precisava. Que fugiu e a deixou para trás. Que preferiu uma vida vazia e sem sentido a ter que conviver com ela e a criança.

- Do que você está falando, mãe? Você está me assustando! Meu pai sempre esteve ao seu lado! Você mesma falava que sem ele não sabia o que teria feito!

- Chega dessa história!! CHEGA!! Você conseguiu o que queria, Taylor! Agora conta a verdade pra ele! Faça ele me odiar. Faça ele te odiar!

- Me perdoa, filho. - minha garganta estava seca e as palavras saíram demasiadamente baixas, mas foi o suficiente para que Ezra voltasse a sua atenção para mim.

- Perdão? Pelo quê? Do que é que vocês estão falando? Parecem loucos! Eu estou aqui contando que vou ser pai e vocês ficam agindo desse jeito! Qual é o problema de vocês?

- Eu devia ter imaginado que uma coisa assim podia acontecer!!! A culpa é sua, Taylor! De todas as coisas que ele podia ter puxado de você, por que justo a irresponsabilidade? Isso é um castigo! - eu me perguntava se naquele momento ele já havia compreendido o que Natalie falava. Sua expressão era confusa. Atordoada. - E agora, Ezra? Vai abandonar a garota também? Vai seguir mais esse exemplo do seu pai?

- Ezra, sua mãe está nervosa demais! Eu posso explicar! - Ike tentava manter a calma, mas a sua voz saiu embargada pelas lágrimas que se esforçava para conter.

- Ike, por favor... Eu preciso contar. - eu precisava contar. Ele tinha que ouvir de mim.

- Tay... - não faço ideia do que se passava na cabeça dele, mas meu nome escapou como uma súplica de seus lábios. Ele estava assustado. Eu também. – Me fala que isso não é verdade...

Ele se afastou de mim. Ele sabia. Ele entendeu.

Eu queria poder voltar no tempo e consertar todas as merdas que fiz. Eu queria poder voltar no tempo e me certificar que ele nunca passaria por isso. Que nunca sentiria a dor que estava refletida em seus olhos agora.

- Eu sou o seu pai, Ezra. – falei, abandonando os braços ao redor do corpo.

Derrotado. Era assim que eu me sentia. Completamente derrotado, como se tivesse perdido a batalha mais importante que já travei na vida. A batalha pelo amor do meu filho. Eu perdi. Naquele momento, eu perdi.

A montanha russa estava de ponta cabeça de novo.

Tradução da música

"Palavras agem com violência

Rompem o silêncio

Chegam destruindo

O meu mundinho"

DEPOIS DAQUELE BEIJO... (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora