Capítulo 9

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"Veio se desculpar?"

"Eu só peço desculpa quando acho que fiz algo errado, Finn." - Suspirei levemente tomando em um gole toda a bebida do meu copo. "Mas, de qualquer maneira, você também não fez nada de errado. Quer dizer, exceto me perseguir todos os dias desde que a gente ficou."

"Se você me dissesse que não estava interessada teria adiantado o processo."

"Faz sentido."

"De qualquer forma, eu sinto muito. Estamos bem? tipo...entre a gente?" - Ele perguntou mais pra si mesmo do que pra mim.

"É claro."

"A propósito, sua amiga é linda." - Ele sorriu pra mim e logo depois fitamos a própria Reyes que há uma semana atrás havia me deixado encarregada de cuidar da sua ingestão alcoólica dançando com uma garrafa de tequila na mão.

"Cuidado Collins. Muito cuidado. Apoio qualquer coisa, mas saiba que se machucar ela, eu faço da sua vida um inferno."

"Aí está o lado obscuro de Clarke Griffin."

Dei um leve sorriso indicando que por mais que eu estivesse falando num tom sarcástico era a mais pura verdade. Mas as coisas complicaram no momento em que fitei meu olhar naquela "situação". O Blake e a Gina. Os dois num canto qualquer perto da cozinha se beijando. Não culpo nenhum dos dois, mas aquilo havia pesado de uma forma inimaginável na minha mente. Não consegui disfarçar minha expressão naquele momento, Finn me encarou tentando entender o motivo da minha expressão de alegria ter se desfeito drásticamente. Quando finalmente notou para o que, mais precisamente pra quem eu estava olhando.

"O Blake, sério mesmo? Estou começando a duvidar sobre seu bom gosto." - Murphy diz entrando na frente tampando onde minha visão havia pousado.

"O quê? tá de brincadeira né? Justo ele?" - Finn dizia parecendo estar um tanto indignado com a situação.

"Eu não faço a miníma ideia do que caralhos vocês estão falando."

"A velha e clássica resposta. Divirta-se sofrendo sozinha Griffin."

Não que eu nunca tivesse tirado essa conclusão, mas de fato Murphy era um babaca. Fui até a mesa de bebidas e misturei qualquer coisa o suficiente pra tirar meu foco de tudo aquilo. Me dava náuseas só de lembrar aquele momento, queria dar um soco na minha cara por aquilo estar mexendo tanto comigo.

Uma hora se passou, e eu ainda não estava da maneira que eu esperava estar. Imaginei que em mais ou menos uns trinta minutos eu já estaria bêbada o suficiente pra esquecer, mas parecia que cada gole que eu tomava me fazia despertar cada vez mais. A única coisa que me consolava era que ao menos Raven parecia estar curtindo a festa. Todo mundo dentro daquele lugar estava beijando alguém, bêbado, transando em um dos quartos ou jogando verdade ou desafio e coisas do tipo, e eu estava lá sentada no chão com milhões de pessoas tropeçando no meu pé. Comecei a imaginar como seria ter decidido ficar no meu quarto.

Quando fitando com meu olhar pude perceber uma concentração maior de pessoas em uma porta que ficava há alguns metros do balcão da cozinha e completamente na direção contrária de onde você sabe quem estava. Eu realmente não tinha nada a perder depois daquela noite desastrosa. De qualquer jeito eu queria ir embora, mas sabia que só conseguiria sair de lá com a Raven pela manhã e era óbvio que não deixaria ela sozinha aqui.

Caminhei em passos largos e quando abri a porta de correr pude notar o porquê das risadas e da gritaria. Era uma área ampla que se estendia por toda sua volta. Uma escada azulejada me convidava há uma piscina com luz própria que continha uma área coberta de pedra sustentada por pilares que tocavam a água. Havia música num som automotivo exageradamente grande, comida, e até mesmo uma rodinha de pessoas tocando músicas indie. Sinceramente, parecia o paraíso.

Aquela parte era definitivamente mais receptiva do que uma sala cheia de casais tóxicos. Tirei aquele sapato desconfortável que apertava meu calcanhar que eventualmente havia me dado uma sensação de liberdade, coloquei-os no canto e me sentei a beira da piscina. Fechei os olhos já com a temperatura do meu pé estabilizada a água gelada e por alguns segundos apenas aproveitei o vento bagunçando meu cabelo me proporcionando uma sensação de leveza em meio ao caos daquela noite. Mas como eu disse aquele momento durou apenas alguns segundos. Senti duas mãos nas minhas costas me empurrando em direção a água e meu corpo afundando. Me apoiei na beira da piscina um tanto surpresa com a situação e logo olhei quem havia sido.

"Você só pode tá brincando. Espera eu sair daqui pra te matar, Blake." - Respirei fundo e me agarrei forte arranhando minhas unhas na borda da piscina que estava escorregadia, por conta da água. "Sério, me ajuda! eu não sei nadar."

"Vai precisar de muito mais pra me enganar, Griffin."

"Se você não quiser ser responsável por homicídio e provavelmente ficar de seis á vinte anos anos na cadeia, sugiro que me ajude agora." - Ele me olhou com um sorriso no rosto, hesitando mais ou menos umas duas ou três vezes, quando finalmente estendeu a mão.

Olhamos um para o outro e o toque das nossas mãos fez meu corpo arrepiar. Eu estava em uma séria dúvida se era por aquele momento ou pela circunstância que eu estava passando cuja era estar dentro de uma piscina extremamente gelada, com a probabilidade de pegar hiportermia numa noite congelante. Por um momento havia esquecido do meu objetivo. Quando me lembrei, puxei a mão dele com toda força que pude fazendo-o cair na água também.

"Eu tava contando que você não fosse fazer isso."

"Então você realmente não me conhece bem." - Enquanto eu ria ao mesmo tempo estava com as duas mãos torcendo meu cabelo na tentativa de faze-lo parecer menos pior. Foi quando ele separou uma mexa do meu cabelo, como de costume, e pela primeira vez naquela noite pude sentir as 'borboletas no estômago'. É uma expressão horrível, eu sei. Mas foi como exatamente aconteceu.

Nos olhamos por alguns instantes e eu percebi novamente que podia escrever um livro com todas as características que havia memorizado dele. Infelizmente eu sabia que aquele momento poderia ter durado um pouco mais se a Gina não tivesse chegado.

Nos encaramos e a encaramos de volta. Ela estava com uma expressão um tanto desagradável e nos fitando como se pedisse por uma explicação com os olhos. Uma parte das pessoas pararam de conversar e ficaram de platéia apenas assistindo meu show de vergonha alheia, já outra parte não estava se importando muito. Ou eu adoraria que não estivessem.

"Eu saio de perto de você por um segundo pra pegar a porra da bebida e você já ta pegando outra vadia?"

"O nome dela é Clarke. E nada aconteceu."

"Eu acho melhor irmos embora agora. Temos muito o que conversar."

"Eu não vou a lugar algum." - Eu entrelacei meus braços e sinceramente não sabia se estava tremendo de frio ou de medo, minha reputação já estava ruim o suficiente pra apenas uma noite. Fiquei um tanto surpresa com a reação dele. Era perceptível o desapontamento dela. Além disso eu tinha a sensação de que mais tarde aquilo iria sobrar pra mim.






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