4 - O Leitor de Mentes

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Aos poucos, pude perceber a luz que brilhava forte atravessar minhas pálpebras. Um forte clarão branco me cegou quando abri meus olhos para ver onde estava. Coberto por um lençol fino, apenas eu estava presente naquela sala deitado. Não havia nada em meus braços ou qualquer outra coisa introduzida em meu corpo, o que me fez relaxar.
Eu sabia que lugar era aquele, e isso me deixava aterrorizado. Hospitais sempre representaram morte e angústia para mim, lembro de quando minha vó faleceu há 6 meses atrás.
Desde então esse lugar tem sido um grande mártir em minha vida, não importa o hospital que seja.
E ali eu permaneci, deitado na cama, agoniado para sair logo daquele lugar.
A quantidade de luz me dava a impressão de estar sendo observado, impossibilitado de se esconder, e muito menos de fugir sem ser intervindo a tempo.
Tentei controlar minha ansiedade deitando minha cabeça sobre o travesseiro macio que estava detrás de mim.
Alguns passos começaram a ecoar do lado de fora, puxei meu lençol para o mais perto de meu rosto, quase tapando-o enquanto observava quem iria aparecer.
Um homem de jaleco, aparentemente ja um senhor, ele vê que eu estava acordado e então sem falar nada retorna pela mesma porta de onde entrou.
Novamente os passos voltam a surgir, agora sem ritmos e confusos. O doutor mais uma vez entra na sala, agora acompanhado de minha mãe que quando me viu, rapidamente veio para me acolher com um abraço.
Sem dizer nada, permanecemos congelados daquela maneira. Quando eu percebi o cheiro de seu perfume, aquela fragrância doce que eu lembrava desde pequeno. Com os meus olhos fechados eu quase acreditei que estava em casa em outra época a abraçando.
  - Oi mãe. - Falei
Ela então se desaproximou um pouco para poder ver meu rosto, seus olhos estavam brilhando.
  - Eu vim toda preocupada pra cá, quase que você me mata.
Soltei uma risada enquanto agradecia internamente o fato de eu ter uma pessoa tão maravilhosa assim.
Segurei suas mãos e logo percebi que sua vontade de chorar tinha ido embora. O senhor estava em um dos cantos do quarto com seus óculos sobre seus olhos analisando uma planilha. Um silêncio pairou por alguns instantes enquanto esperávamos por um sinal de luz dele.
Me veio a mente que existiam aparelhos eletrônicos, e que por sinal eu tinha um. Comecei a tatear meus bolsos procurando meu celular até que o encontrei no bolso da frente de minha calça, quando apertei no botão a luz não acendeu, fui apenas cumprimentado por um desenho de bateria baixa que em instantes sumiu diante de meus olhos.
  - Mãe? - Perguntei
Ela então me olhou.
  - E o Jack? Onde ele está? - Continuei
Um sorriso surgiu em sua face.
  - Ele estava aqui até agora pouco, passou a noite acordado conversando comigo.
Surpreso, direcionei meus olhos para meus pés, enquanto pensava nessa grande informação que acabara de receber.
  - Sorte sua que eu não trouxe para cá os álbuns de foto suas que tiramos quando você era pequeno. - Brincou
Apenas revirei os olhos para cima enquanto ria, por mais que no fundo eu sabia que ela nem que seja um pouquinho, mas tinha falado sério.
  - Então mãe... - O médico chamou nossas atenções - Não sabemos o que ocasionou a súbita queda de pressão que o deixou inconsciente...
Os risos haviam ido embora, tanto eu quanto ela estávamos serios diante daquilo. Se ele fosse falar que eu ia morrer eu não ligava naquele momento, só queria ir logo para casa. Morrer em casa.
  - Durante sua observação ele não apresentou nenhum sintoma adverso. - Continuou - O que eu posso fazer por vocês agora é o encaminhar para a alta e caso isso volte a acontecer, peço que voltem aqui novamente.
O que eu quis responder no lugar de minha mãe foi "Ah, tá bom. Tchau". Igual nossas conversas as vezes, porém o que aconteceu foi um grande diálogo baseado na preocupação sua comigo e do fato de não ter nenhuma explicação médica para o que aconteceu.
Antes que minha mãe jogasse a cadeira onde estava sentada no médico, ele nos encaminhou até a recepção onde acabei sendo liberado.
Do lado de fora, senti o vento bater sobre minha pele, antes que o momento de paz pudesse tomar conta de mim, o som de buzina de carro e o grande fluxos de pessoas que transitavam abaixo da fachada do prédio acabaram com a serenidade que minha mente ansiava.
  - Vamos para casa? - Perguntei
Minha mãe então envolveu um de seus braços sobre minha cintura dizendo:
  - Vamos para a casa, querido.

Ele Se FoiOnde histórias criam vida. Descubra agora