Naquele momento, meu coração havia subido por meu peito indo parar em minha garganta enquanto eu o observava prestes a desabar.
Quando tomei conta de meus sentimentos, minha mão estava acariciando a sua. Com um simples gesto eu a retirei e encarei o ar ao meu redor.
Droga! Eu preciso me controlar. Assim ele vai me achar estranho, isso se ja não estiver pensando isso de mim.
Até mesmo nas horas mais escuras ele consegue ser uma grande luz diante de meus olhos, e desde então eu venho perseguindo essa luz.
Uma lágrima começou a descer lentamente em seu rosto, eu sentia que precisava o confortar de alguma forma.
Isso me fez lembrar dos momentos em que eu precisava de alguém junto a mim, não queria o deixar passar pela mesma dor que a minha.
- Obrigado por ter me ajudado a ir para o hospital. - Sua voz estava baixa, dizendo suas palavras mais para si do que para mim - Não precisa ficar aqui agora que meu pai chegou, o dia vai ir de mal a pior. Quero continuar de boa contigo.
Tudo que eu queria naquele momento é ter tido coragem para lhe dar um abraço, nem que fosse por um segundo.
Eu o guiei com uma de minhas mãos sobre seu ombro de volta para a cama, onde ele sentou.
Pude olhar bem em seus olhos para lhe dizer:
- Eu não vou embora, não tô nem um ligando pra o que aconteceu.
Tentei soar mais alegre, não que eu não estivesse, mas eu realmente queria muito poder animar ele de alguma outra forma.
Will então voltou a fazer o que sabe de melhor, ficar em silêncio.
Isso realmente me atingia de mil e uma maneiras, eu me perguntava se ele não gostava de conversar comigo, ou se as minhas atitudes pareciam suspeitas de mais.
Mesmo que eu parecesse suspeito, isso é apenas um fato de como eu me sinto.
Porém cada vez que eu o observava, eu me sentia condenado a nunca poder me abrir com isso.
Como se ele não fosse me entender.
E para ser sincero eu não sei bem o que eu gostaria que acontecesse, nunca tentei nada assim com outro homem.
Tentei fugir desses pensamentos novamente, comecei a procurar coisas em seu quarto que pudéssemos fazer ou conversar.
Minha atenção logo foi atraída por uma grande caixa personalizada no chão, ela era verde com tinta preta passada uniformemente nas arestas.
Não parecia ter algum significado, apenas uma caixa estilizada com dois tons de cores.
Olhei para Will agora deitado na cama encarando seu teto, sem querer incomodá-lo, dei-me o direito de fuçar a tão misteriosa caixa no canto da sala.
Andei esfregando meus pés no carpete cinza até chegar perto o suficiente para me abaixar e puxar a tampa de papelão que a fechava.
Cabos estavam por cima de um grande dispositivo que só ficou claro para mim por causa dos controles que estavam nos cantos.
Era um Xbox, eu nunca nem mesmo toquei em controles de vídeogame.
- Você tem um Xbox, eu adoro Xbox - Falei para ele.
Talvez se Will tivesse levantado sua cabeça para ver meu rosto, provavelmente encontraria um "Mentiroso estampado em minha testa".
Me lembrei então de todas as vezes em que eu debochava de pessoas que passavam seus dias jogando em suas máquinas em vez de sair para namorar ou ir em festas com amigos.
E aqui estava eu.
O mundo da voltas.
Eu peguei os dois controles na mão, e subi em sua cama, deitando no travesseiro do outro lado dela.
A cama estava gelada, até mesmo para mim que estava bem agasalhado.
Questionei a mim mesmo o fato de ter uma cama tão grande para apenas uma pessoa dividir.
Entreguei um dos controles para ele e então falei:
- O que tu acha da gente jogar? - Perguntei abobado.
Ele virou sua cabeça em minha direção e disse:
- Eu não tenho mais TV aqui no quarto desde que Richard se enfureceu e acabou derrubando ela no chão.
- Quem é Richard?
Ainda me olhando, pude ver um vestígio de humor pairando sobre sua boca.
- O menino que você bateu.
- Ah sim. Você fala com ele ainda?
- Bem pouco, quase nunca. E porque eu nao falaria?
Comecei a apertar cada um dos botões do controle, eles eram tão convidativos a serem pressionados que cheguei a pensar que poderia ser realmente divertido jogar nisso.
- Porque agora tem eu como seu amigo, e eu sou de mais. Nao precisa de nenhum amigo a mais.
Sobre seu rosto, surgiu um sorriso meigo mais uma vez.
Aquilo me alegrava muito.
- Verdade.
A verdade era que tudo aquilo mexia comigo, eu nunca me senti assim por outra pessoa antes. Ainda mais por outro homem.
Uma das coisas que pairava em minha mente, de hora em hora, eu pensava no que sua mae me disse na noite do hospital."Vocês estão namorando?" Ela me perguntou.
Enfiar o dedo na tomada e levar uma descarga era o mais próximo que eu conseguia descrever o que eu senti naquele momento.
Perguntei para que ela pudesse repetir a pergunta que me foi proposta, e após prestar atenção, ela não tinha mudado nada.
Cheguei a pensar que aquilo era um pedido de "Se afaste de meu filho, não gosto dessas atitudes". Então de primeira via eu acabei dizendo que não, e que nao entendi o porquê dela ter perguntado aquilo.
Sem economizar nas palavras, ela disse:
"Eu só quero o que for melhor para ele. Desde pequeno eu sabia que ele tinha um jeito meio... assim. (Assim era a maneira dela de falar: Gay) E por um tempo eu passei escondendo isso e deixando ele ser o que ele quisesse ser. Um dia meu marido acabou vendo umas coisas que ele via na internet, e acabou fazendo o inferno com isso. Eu não sei se o William já acabou te falando disso, ou talvez ele nunca nem chegue a comentar com medo de acabar perdendo um amigo. O que torna as coisas ainda mais difíceis."
Essa foi a conversa mais honesta que eu já tive em minha vida, sinceramente, o sono sumiu como um passe de mágica naquele momento.
Então eu comecei a falar, que eu gosto dele e que ele nunca me falou nada dessas coisas.
Ela quando ouviu eu dizer algo totalmente contrário ao que respondi antes. Começou a rir, mas sem nenhum mal envolvido.Comecei a imaginar realmente as coisas dando certo, eu só fico triste com o que aconteceu agora pouco com o pai dele.
Nao sou surdo, e lembro muito bem das coisas que ele disse para Will a pouco tempo atrás.
Eu só gostaria de ter coragem o suficiente para falar sobre isso, falar que eu também sou Gay. E que nunca admiti isso pra ninguém.
Talvez eu deixe a parte do "Eu quero muito te beijar" pra outra ocasião.
A chuva caia cada vez mais forte na casa, o grande barulho de água colidindo contra o telhado poderia fazer qualquer pessoa ter dor de cabeça enquanto tentava dormir.
Uma batida ritmada começou a ecoar da porta, Will a escutou atentamente, como se fosse algum código.
Logo se levantou e calmamente abriu a porta.
- O jantar está pronto. - A mãe dele estava na porta.
Com apenas um olhar, me fez entender que poderíamos descer.
Saindo do quarto, fitei os olhos de sua mãe, tentando de alguma maneira agradecer por isso que ela fez por mim.
E então acelerei o passo para acompanhar Will que já estava descendo as escadas.
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Ele Se Foi
RomanceO desaparecimento de um estudante deixa medo e perguntas para uma pequena comunidade. Após três anos dois jovens se cruzam pelo o que pode ser obra do destino, mal sabem eles onde isso irá os levar.