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Eu não consegui dormir naquela noite. No dia seguinte, quis me desculpar com você, mas não o fiz. Você não sabia o que tinha acontecido naquele banheiro, afinal, e não te faria bem algum descobrir.

Então nós seguimos com nossa rotina distante, ignorando um ao outro sempre que nos encontrávamos pela casa.

Eu estava começando a acreditar que poderíamos continuar dessa forma. Por mais doloroso que fosse, era o melhor a se fazer, não era? Contabilizei cinco dias sem qualquer palavra além de monossílabos trocados com você. Esse tempo poderia ser contado como uma vitória, caso eu não me sentisse tão derrotado.

Mas você sempre dava um jeito de me arrastar de volta para perto, não importava o quanto eu tentasse continuar longe.

Era mesmo como magnetismo. Você sempre foi o pólo positivo; eu, o negativo. Conotação pura e ainda assim tão literal, não é, picinho?

E foi seu magnetismo que me arrastou ao seu quarto naquela madrugada.

Seu magnetismo e seus gemidos de dor.

Com cuidado, abri a porta e te vi deitada na cama. Suas pernas perdidas na confusão de lençois, seu peito subindo e descendo com violência e os sons sofridos deixando seus lábios enquanto sua mente te prendia a um pesadelo.

Sem saber o que fazer, me sentei ao seu lado e levei minha mão as suas pequenas costas para tentar te acordar do sonho ruim. Então eu reconheci, Emilly. A camiseta que você estava vestindo era minha, a que eu tinha esquecido em nossa casa quando fui morar com nossa avó.

O tecido azul já estava desbotado e cheio de bolinhas, completamente desgastado.

Você a usou por todo aquele tempo?

Sem querer, se espalhando como veneno em minha corrente sanguínea, senti essa esperança boba reivindicando seu lugar.

Meu coração se aqueceu tanto, Emilly, e você nem precisou estar acordada para conseguir isso.

"Marcos, não...", você gemeu, desesperada, se remexendo na cama como se estivesse em agonia.

Aflito por saber que eu estava presente em seu pesadelo, finalmente balancei seu ombro com cuidado, chamando seu nome. Na terceira tentativa, você abriu os olhos, desnorteada, com a testa molhada de suor.

Aflito por saber que eu estava presente em seu pesadelo, finalmente balancei seu ombro com cuidado, chamando seu nome. Na terceira tentativa, você abriu os olhos, desnorteada, com a testa molhada de suor.

Seus olhos se fixaram em meu rosto e você pareceu prestes a chorar, se sentando com um movimento rápido que me pegou completamente de surpresa. Então você me abraçou. Seus braços se prenderam ao meu pescoço e sua cabeça se enterrou em meu ombro como se me ver ali te enchesse de alívio.

"Marcos...", você gemeu quando eu te abracei de volta, sentindo todo meu corpo parar de lutar contra o desejo de te ter tão próxima, mesmo que minha mente dissesse que não deveria. "Eu fiquei com tanto medo..."

"Foi só um pesadelo, pequena..."

Você apertou os braços ao meu redor e eu senti sua respiração quente e incerta queimando minha pele. Minha mente gritava para que eu te afastasse e não prolongasse aquele abraço que me feria ao mesmo tempo em que me curava. Mas não consegui obedecer, Emilly, meu corpo simplesmente não queria mais ficar longe do calor do seu e então te abracei mais forte também.

Uma vez ultrapassando o limite, impossível voltar atrás.

"Mas sempre parece tão real, Marcos", você confessou com a voz trêmula. "Eu sempre acordo com tanto medo de descobrir que não consegui cumprir minha promessa, de não te ter mais..."  

Eu senti a confusão tomar conta de mim, sem entender sobre o que você estava falando. Você também sonhava comigo, com frequência?  

E sua promessa... Não. Não poderia ser, não é, picinho? Não poderia ser a mesma promessa que eu sempre te ouvia fazer em meus próprios sonhos.  

Então eu afastei esse pensamento louco e me concentrei em te acalmar.

"Eu estou aqui, Emilly", te tranquilizei enquanto deslizava minha mão por suas costas, por cima da camisa que um dia foi minha. "Você nunca vai me perder. Eu sempre vou ser seu"  

Você prendeu a respiração e eu senti seu toque se tornar mais tenso. Consciente de como minha confissão poderia ter te assustado, por mais verdadeira que fosse, tentei me corrigir.

"Nós sempre vamos ser irmãos, não importa o que aconteça", sussurrei, também como um lembrete para que nenhum outro limite fosse ultrapassado.  

Eu senti seu suspiro contra minha pele, então a ponta do seu nariz me tocando num carinho despretensioso, mas que ateou fogo em todos os meus sentidos.

"Sempre vamos ser irmãos", você repetiu, mas não parecia estar dizendo aquilo para mim.

Então sua mão subiu por meu peito e agarrou o tecido da minha blusa quando você suspirou mais uma vez, demorada e pesadamente, empurrando seu corpo contra o meu. Sem controle, eu passei uma mão por sua perna, sentindo sua pele tão macia sob meu toque cheio de desejo.

"Promete que nunca vai me deixar sozinha, não importa o que descubra sobre mim", você pediu, com a voz baixa, ainda me torturando com seu calor.

Nada que eu pudesse descobrir sobre você me faria querer sair do seu lado, Emilly, mas isso ia além da minha vontade. Mesmo querendo estar sempre por perto, meus sentimentos por você me forçavam a ficar longe.

"Promete, Marcos", você insistiu ao se afastar um pouco, parecendo assustado diante do meu silêncio.Então eu segurei suas mãos e as levei aos meus lábios. Beijei os dedos da esquerda, depois os da direita, demoradamente.

"Você nunca vai ficar sozinha, eu prometo", disse, enfim, vendo sua expressão se tornar mais suave.

Então você deitou a cabeça em meu ombro outra vez, aliviada.

Tão inocente que nem conseguiu perceber, não é, Emilly?

Você nunca ficaria sozinha, mas eu não seria a pessoa ao seu lado até o final.

Fated | MH + EAOnde histórias criam vida. Descubra agora