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Depois de fugirmos, nós não tínhamos para onde ir.

Não podíamos recorrer a ninguém de nossa família, tampouco tínhamos amigos de verdade. Éramos eu e você, picinho. Nós dois e um mundo inteiro contra nós.

Por algum tempo, então, nossa casa foi aquele quarto de motel. Era o que podíamos pagar, mas era suficiente.

Ir para a escola para você já não era mais uma prioridade, você a abandonou no seu último ano.

E minha única preocupação era conseguir dinheiro para nós dois, por isso arranjei um emprego que não exigia muitas qualificações, nem mesmo pagava bem, mas era o suficiente.

E você, picinho, só precisava se preocupar em fazer seu coração continuar batendo por quanto tempo fosse possível.

Eu lembro do quanto chorei quando você me disse, conformada, que médico nenhum poderia te curar. A única solução seria um transplante e você já estava na lista para receber um novo coração, mas nós dois sabíamos que nenhum chegaria a tempo.

Hoje, picinho, eu sei. Naquele dia em que nossa mãe nos viu juntos no sofá, ela tinha sido dispensada do trabalho porque não conseguia parar de chorar por seu destino injusto.  

Parece que a vida trabalhou cuidadosamente todos os detalhes para que, no fim, nós chegássemos aonde estávamos.

Eu disse, então, que era culpa nossa. Seu coração estava doente porque você me amava, mas você acreditou até o último segundo que me amar foi a única coisa que o fez continuar batendo por tanto tempo.

Eu não conseguia acreditar nisso naquela época, pequena. Mesmo que estivéssemos juntos, tudo ainda parecia tão errado que nós não nos tocávamos. 

Por isso, nossa primeira vez foi a primeira e também a última

Ainda assim, eu não saí do seu lado, angustiado à espera do dia em que não te teria mais comigo.  

"A noite está tão bonita hoje", você disse, sorrindo para o céu, quando eu te levei para caminhar depois de chegar de mais um dia trabalhando.

Nessa noite nós fomos até uma praça, mas nas outras sempre fazíamos algo diferente. Eu comprava algo novo para comermos, ou assistíamos filmes e séries que nunca tínhamos assistido antes, só para que você pudesse experimentar o máximo de coisas que a vida e eu podíamos te dar.

Não era muito, picinho, mas era o meu melhor.

Eu dei tudo de mim para que você tivesse os melhores últimos dias da sua vida.

"Sim...", eu murmurei, segurando sua mão, sentado ao seu lado. Mas enquanto você admirava o ceu, eu admirava você.

"Marcos", você me chamou com um sorriso bobo no seu rosto cansado, marcado pelas consequências da doença te vencendo. "eu posso te perguntar uma coisa?"

Eu assenti e você continuou com o sorriso bonito iluminando seu rosto, enquanto seus olhos brilhavam para as estrelas acima de nós.

Hoje, amor, eu também olho para elas, porque sei que é lá que você está.

É lá em cima com as estrelas, no seu lugar, porque anjos pertencem ao céu, não é?

"Você sempre me amou?", você perguntou, então, serena, porque no fundo já sabia a resposta.

"Sempre.", respondi, então. "E sempre vou amar"

Você sorriu ainda mais, deitando a cabeça em meu ombro.

"Que bom...", eu te ouvi suspirar e apertar minha mão com mais força. "Eu sempre te amei também, com tudo que existe em mim."

Eu abaixei meus olhos, confuso, porque uma coisa ainda não fazia sentido. Todos os seus relacionamentos, todas as vezes que você chorou por outras pessoas... Como você poderia ter me amado desde o começo se amou também tantos outros?

"Emilly", te chamei então, decidido a descobrir. "E todas as outras pessoas? E o Jota?"

Você se moveu, puxando meu braço para envolver seu ombro, demorando até conseguir responder.

"Eu estava com tanto medo... Eu me sentia tão errada por te amar que tentei desesperadamente me apaixonar por outras pessoas, mas meu coração nunca teve espaço para outro alguém, Marcos...", eu te ouvir dizer, baixinho. "Quando você me via chorando depois de um término, era porque eu não sentia nada. Nada por eles, mas tudo por você, e isso me assustava tanto..." 

Eu fiquei em silêncio, remoendo sua confissão e amargurado por esse medo que sempre existiu em nós.

"O Jota foi minha última tentativa", você completou, então. "Depois do meu acidente, nós ficamos tão próximos e isso me fez perder o controle, eu não conseguia mais ficar longe de você, por isso eu implorei para que ele fosse me ver, porque eu precisava tentar mais uma vez, sem saber que nunca funcionaria" 

Eu senti o coração acelerar com a lembrança, mas não falei nada. Eu não te acusaria, nunca, porque te entendia muito bem. 

O medo nos fez cometer nossos maiores erros, pequena.

"Me desculpe por ter demorado tanto para perceber, meu bem...", você pediu, então. "Eu deveria ter confiado nos nossos sonhos desde o começo..."  

"Você acredita neles?", eu perguntei, ainda inseguro. "Nesses sonhos que nós temos?"

"Eu acredito que nós já nos encontramos antes dessa vida e acredito que vamos nos encontrar depois dela também", você respondeu com a voz calma, segura.

Eu sorri um pouco e abaixei meus olhos para observar nossos dedos entrelaçados, unidos como nossos destinos pareciam estar.  

"E você acha que nós vamos sonhar com essa vida também, quando ela acabar?", insisti, pensativo, mas sem parar de sorrir.

Era uma conversa louca, picinho, mas era essa nossa loucura que me fez sentir são pela primeira vez.

"Será?", você riu. "Eu não sei. Mas se sim, eu quero sonhar com esse momento, e eu quero que a nova faça o que eu não fiz"

"O que?"

"Eu quero que ela te ame com toda a intensidade do mundo a partir do momento que ela descobrir a pessoa maravilhosa que você é, sem medo das consequências."

"E se nós não nos encontrarmos?", questionei, um pouco assustado com sua certeza.

Você se moveu, então, se afastando de mim e ergueu seu mindinho.  

"Vamos prometer agora, então, como fizemos da outra vez", você disse. "Vamos prometer que nos encontraremos em todas as nossas vidas"

Eu olhei para seu mindinho estendido, talvez um pouco cético, mas com o coração me implorando para acreditar. Então uni meu dedo ao seu, e vi seu sorriso quando pressionamos nossos polegares, finalizando nossa promessa.

"Isso é loucura", eu disse, e você riu.  

"Com toda certeza.", você concordou. "Mas quer saber? Eu não me importo mais. Eu só quero amar você em todas as oportunidades que tiver"

Eu te olhei, encantado pelo seu biquinho bobo, e te envolvi com meus braços, te segurando perto como deveria ter feito desde meu primeiro minuto nessa vida.

"Eu amo você", murmurei, então, para que você nunca mais duvidasse.

"Eu amo você", você respondeu, sem dúvida alguma, quando me abraçou de volta, deitando a cabeça sobre meu dedo.

Sem dizer nada, então, eu fiz mais uma promessa. Uma promessa para mim mesmo.

Eu também não teria mais medo. Eu nunca mais deixaria o mundo me impedir de amar você, não para sempre. Isso não aconteceria nem nessa, nem em nenhuma outra vida.

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mais dois caps e a fic acaba, então, já vou fazer a att dupla, tudo bem? Boa páscoa pra todo mundo! 


Fated | MH + EAOnde histórias criam vida. Descubra agora