Capítulo 9 - O Carcereiro

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Se por algum curto momento comemorei por estar a salvo, descobri que ficara feliz cedo demais. Estava correndo, talvez, um risco maior à medida que permanecia na moto com aquele estranho. Ele se atrevia a costurar os carros, enquanto avançávamos pelo trânsito escutava alguns motoristas nos xingarem e buzinarem devido às vezes de que foram obrigados a frearem para não nos atropelar.

Em um medo vertiginoso, não conseguia parar de olhar para trás, esperando ver o Volvo Concept nos perseguindo: entretanto, só percebia em como ficávamos cada vez mais afastados, de maneira que não era mais visível o prédio em que trabalhava. Nesse momento, o motoqueiro se dirigiu a mim.

Senti seu abdômen contrair conforme se virou por sobre o ombro esquerdo, tentando falar em um volume que eu fosse capaz de compreendê-lo.

— Você está bem? — indagou, voltando a atenção para frente.

Pensei nas várias perguntas que eu tinha para fazer, assim como meditei aonde o sujeito armado deveria estar nesse momento, e terminei feliz por Sora ter me escutado e não estar mais na cidade. A situação estava em seu ponto crítico, porém não lhe perguntei nada do que queria.

— Acho que minha alma ficou perdida lá atrás.

Tentei falar alto, e confirmei que ele me escutara quando novamente senti sua barriga se mexer sob os meus dedos. Ele estava sorrindo e balançava a cabeça de um lado a outro.

Senti alívio assim que chegamos a uma rua menos movimentada, e ele começou a desacelerar, até que por fim paramos próximo à calçada. Desci da moto sem sentir minhas pernas, não sabia se pelo que eu tinha acabado de passar ou se pela maneira tensa em que ficara visto que temia que caíssemos naquelas manobras insanas que ele fizera.

Após me firmar, ajeitei a compostura e o encarei, o sujeito permanecia sentado na moto, vestia uma jaqueta de couro escura e calçava jeans gastos de cor preta. Nos pés, coturnos com cadarços soltos. Via meu reflexo no capacete negro como ébano, e novamente comecei a me sentir intimidado, afinal quem ele era?

— Quem era aquele cara? — perguntou, estava me sentando na beirada da calçada, meu coração permanecia acelerado.

— Eu que pergunto: quem é você?! — exigi, minha respiração saía por entre os lábios.

Ele ficou imóvel e então sorriu, seus ombros balançaram e fiquei com uma leve sensação de que conhecia aquele movimento.

— Qual é! Não acredito que não me reconheceu! — Colocando as mãos, em cada lado do capacete, o tirou. E jogando a franja que ficara em seus olhos, continuou: — Nem ao menos reconheceu minha voz?

Ele colocava o capacete onde alguns minutos eu havia me sentado, enquanto descia da moto, apoiando um dos pés no pedal, se encostando de frente para mim encarando-me.

Meu susto, cansaço e qualquer outra droga de sentimento que estava no momento foi substituída apenas por uma emoção: estava indignado.

— Não me fode desse jeito! Que porra você está fazendo aqui? — vociferei, em reação, ele apenas abriu o zíper da jaqueta.

Sua camiseta era branca e tinha um corte sutil em V. Por um momento me perguntei como seriam os músculos que aquele tecido ocultava.

— Te foder? Eu acho que acabei de salvar a sua vida, imbecil! — reclamou, sem parecer amedrontado diante minha raiva.

— Minha carreira e agora até minha vida estão em perigo por sua causa! Como você me agradece? Saindo do seu esconderijo, colocando sua cara cínica na rua! Onde diabos meteu sua cabeça? — levantei-me e fui a sua direção, olhando dentro daqueles olhos inquietantes.

Perfeição do ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora