Capítulo 18 - Centro do Inferno

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— Não estava pensando em ir até lá... — disse por fim.

— O que está querendo dizer?

— Estava pensando em telefoná-lo — concluiu, aparentando avaliar minha reação.

— Será que ele ainda está acordado?

Donghae não me respondeu, levantando-se da minha cama, foi em direção da porta, deixando-me só. Voltei minha atenção para a conversa de Kyuhyun e o tal do GI2106, com a intenção de perceber algo que antes poderia ter me passado por despercebido. Após algum tempo, ele reapareceu com o telefone nas mãos.

— Acabei de falar com ele.

— O que Henry disse?

— Disse que não se lembra de nenhum GI2606, mas me prometeu que vai perguntar a outros amigos nossos.

— Seria bom ele ter cuidado, não sabemos de quem se trata.

— Você tem razão, eu deveria ter dito isso a ele.

Donghae permanecia em pé, olhando adiante sem prestar atenção no que mirava, usava os dentes inferiores para morder o lábio superior.

— Donghae? — escutei-me falar. Seus olhos ansiosos de imediato me fitaram. — Não fique preocupado, Henry me parece uma pessoa inteligente, ele vai ficar bem — tentei acalmá-lo.

— Sim ele realmente é inteligente.

Sua expressão de inquietação não amenizara o que me deixou intrigado.

— Qual o problema, Donghae? — Ele me olhou mais uma vez, seu cenho se franzia conforme a inquietação em seus olhos dava lugar a certa confusão. — Você parece estar preocupado com alguma coisa, quer conversar sobre?

Seus lábios se separaram quando soprou baixinho. Sem olhar para mim, veio para a cama, sentando-se a meu lado. Seus dedos alisavam o telefone, ele não parecia consciente disso. A seguir houve o silêncio, percebia que a cada vez que respirava, parecia estar decidindo se devia me dizer algo ou permanecer calado.

Suas palavras foram rápidas em um único fôlego.

— Estou começando a achar que o cara que eu conheci não passa nem perto do verdadeiro Kyuhyun. E isso é assustador.

— Todos nós temos um lado que não deixamos ninguém ver ou conhecer, às vezes, ocultamos segredos até de nós mesmos.

— Você... — se interrompeu.

— É. Inclusive eu.

Deveria ficar agitado por estar caminhando na beirada de um precipício. Um passo em falso e eu cairia naquele abismo que me privava do sono nas noites em que minha consciência me fustigava. Mas não havia medo nesse momento, porém outras sensações ladeavam-me.

— Tem uma coisa que por mais que eu tenha tentado esquecer, ignorar, nunca consegui.

Seu olhar sobre mim era inquiridor, acusador.

Minhas palavras quase inaudíveis, não passaram de um sussurro:

— O que é?

— Foi algo que ocorreu em um inverno oito anos atrás. Acho que você sabe ao que me refiro, essa cicatriz em sua palma esquerda, lhe impede que esqueça. Sei que todas as vezes que olha para ela, se recorda daquele dia. — Seus olhos miravam para onde eu, inocentemente, já segurava com a outra mão. — Por que não contou para ninguém da família?

Quase soltei o ar aliviado, sua pergunta não era das piores.

— Porque isso não era algo meu, era assunto seu — retruquei.

Perfeição do ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora